família conturbada. II

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Sussurrando eu pedi para que Sal fosse para baixo da cama, ele me obedeceu sem hesitar e se escondeu ali, eu me sentei novamente na cama e arrumei meu cabelo disfarçando.

-Entra.

Ela abriu a porta com força a fazendo bater contra a parede me assustando, mas eu me contive e tentei não transparecer meu medo, como eu sempre fiz, imagino qual será o motivo do sermão de hoje.

-A escola entrou em contato comigo e disse que você está com mais de um mês de falta, e suas notas em matemática estão bem abaixo da média, Nyselle. - Ela parou na minha frente e falou em um tom sério me encarando até a alma.

Eu não a respondi.

-Vamos! Eu quero uma explicação! Oque anda acontecendo hm? Oque está te distraindo tanto pra você não tirar as mesmas notas?! - ela falava gradativamente mais alto.

-Eu não estou com notas tão baixas.

-AH! PRONTO! Agora vai mentir pra mim?!

-Eu tenho me esforçado! - Falei erguendo a minha cabeça.

-Como tem se esforçado com todas essas faltas?! Oque andou fazendo enquanto eu estive fora garota?!

Sua mãe gritava enquanto Sal escutava tudo, sua vontade agora era de levantar e dizer umas verdades a Carmen, porém, isso só traria problemas para nysa, e consequentemente os afastaria.

-Talvez se você fosse mais presente saberia o motivo!

- ESTÁ DIZENDO QUE EU NÃO SOU PRESENTE? SUA INGRATA! - Ela segurou no pulso de sua filha apertando com suas unhas - EU FAÇO TUDO POR VOCÊ! EU PAGO TUDO OQUE VOCÊ PRECISA, JUNTO DINHEIRO PRA SUA FACULDADE, SEMPREI BANQUEI AS SUAS COISAS! E É ASSIM QUE RETRIBUÍ?! DIZENDO QUE NÃO SOU PRESENTE O SUFICIENTE?! OQUE ESTÁ FALTANDO?! ISSO É CULPA DO SEU PAI! ELE TE MIMOU TANTO QUE VOCÊ CRESCEU REBELDE DESSE JEITO!

- Eu não pedi pra nascer!!!

falei com confiança e ela parou por um instante ao ouvir aquilo.

-Olha como fala comigo sua imprestável!!!

Ela me deu um tapa no rosto com tanta força que pude ver a marca que ficou no espelho, meus olhos se encheram de lágrimas e eu comecei a chorar descontroladamente, eu não queria que Sal precisasse escutar isso tudo...

- E oque você fez nesse cabelo??! ALGUÉM TE DEU PERMISSÃO PRA CORTÁ-LO ASSIM?! DA PRÓXIMA VEZ EU VOU RASPAR A SUA CABEÇA POR COMPLETO PRA VOCÊ APRENDER A PARAR DE ACHAR QUE PODE ME TRATAR COMO TRATA SEUS COLEGUINHAS DE TURMA.- Ela segurou o meu cabelo pela raíz o puxando, me fazendo gritar de dor. - VOCÊ NÃO ERA ASSIM NYSELLE, QUE DESGOSTO!

Ela me soltou empurrando minha cabeça para trás me fazendo bater na parede, eu fiquei ali, enquanto as lágrimas caíam, só podendo soltar uma única frase.

- Eu não sou que nem você...não mais...!

Ela abriu a porta, e antes de fechar, me olhou com desprezo como se estivesse vendo um monstro.

-Eu deveria ter te abortado.

E assim a mulher deixou o quarto descendo as escadas cheia de fúria, sem remorso algum, deixando para trás uma garotinha que só desejava saber oque era o amor materno, algo que só seria possível, caso provasse que tinha capacidade para ser a número um, a destaque, o centro das atenções, a filha perfeita, e nysa estava disposta a conseguir isso, a aprovação de sua mãe.

Nessa altura do campeonato seu pai havia saído para comprar algo pro jantar, oque impossibilitou que ele pudesse fazer algo para defender nysa, como de costume.
Sal saiu de onde estava quando percebeu que apenas os dois estavam no quarto, já trancando a porta para evitar que alguém entrasse, ele podia escutar o choro agudo da garota que ecoava no cômodo lhe causando uma dor absurda por não poder ajudá-la quanto a sua mãe. Ele se levantou e a viu em posição fetal com os cabelos bagunçados, e se aproximou com cuidado e sentou ao seu lado sem tomar nenhuma atitude de imediato, nysa percebeu sua presença e continuou onde estava, imóvel e pensando que aquele sermão foi até leve se comparado aos outros, e sentindo sua bochecha ainda doendo pelo tapa se recordou que da última vez chegou a ficar roxa, sua mãe não se continha quando se tratava de notas baixas ou problemas na escola, uma educação que a mesma recebeu durante sua infância, e repassou para sua filha.

- Está doendo muito...? - Ele colocou a mão na minha cabeça a acariciando.

Eu funguei com o nariz e sequei minhas lágrimas, respirando fundo enquanto erguia meu olhar.

-N..não...- Eu o olhei de volta - Obrigada Sal...mas... - Eu tirei sua mão da minha cabeça - Você tem que ir.

Nysa se levantou junto de Sal e o acompanhou para fora de sua casa andando lentamente para não chamar atenção da mulher que resmungava todo tipo de crueldade sobre sua filha, mas ela já estava acustumada, e não lhe deu ouvidos.
A chuva já havia parado mas o coração disparado de nysa seguia acelerado e seus olhos lacrimejavam sem parar, deixando seu nariz e bochechas com um leve rubor. Seus pensamentos cheios de cobranças também não haviam parado, nada daquilo iria parar, nem aquele silêncio que calava nyselle e Sal e os faziam criar uma parede invisível entre os dois.

-Tchau nysa, te vejo amanhã... - Ele olhou para trás antes de partir.

Eu o ignorei e fechei a porta voltando para o meu quarto com um certo peso na consciência, achei que deveria estudar um pouco, e assim fiz, sentei na cadeira da minha escrivaninha e cronometrei uma hora no celular.
Eu peguei todos os meus livros de matemática e revisei todo o conteúdo e pesquisei máximo que pude no meu computador, técnicas de memorização, eu iria gabaritar todas as provas, nem que isso tire meu sono e me desgaste mentalmente!
eu vou mostrar a minha mãe que eu posso ser melhor do que ela pensa.

No fim, acabei estudando por mais de uma hora, meu pai entrava no quarto vez ou outra me chamando para comer, mas eu estava sem fome, minhas mãos estavam cansadas de tanto escrever e meus olhos pesavam, sem perceber caí no sono com a cara nos livros os deixando um pouco molhados por conta das lágrimas.
Eu chorei enquanto dormia,  e sonhei que estava sozinha novamente, indo mal na escola, decepcionando meus pais... esse era meu maior pesadelo, não dar o orgulho que eles mereciam, ser taxada de inútil e incapacitada de me esforçar o suficiente, mas durante o sonho, meu sofrimento simplesmente sumiu quando eu me enxerguei em uma floresta calma e com árvores repletas de folhas secas, que me levava até uma colina, onde pude um garoto de cabelos azuis muito familiar...
Me aproximei e semisserrei meus olhos para enxergá-lo melhor, até que percebi que se tratava de Sally, ele se virou para mim e seu rosto estava borrado por uma luz, sua prótese estava a sua frente junto de uma lápide, que não era muito visível o nome em que estava nela, mas oque realmente chamou minha atenção era ouví-lo chamando sua mãe, tudo estava muito confuso, mas de repente acordei com o despertador, e com a minha mãe reclamando.
Ela não havia ido trabalhar hoje, mas eu não me importava com sua presença, no momento, eu só conseguia pensar em Sal e no sonho que tive, além da discussão que tive com a dona da razão ontem a noite, mas não irei me incomodar, porquê daqui pra frente, eu posso garantir, que vou superar meus limites.

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O capítulo foi meio curto, mas garanto que o próximo vai ser mais longo (:

𝙏𝙝𝙚 𝘽𝙡𝙪𝙚 𝙝𝙖𝙞𝙧𝙚𝙙 𝘼𝙣𝙜𝙚𝙡 🎸💌(𝐒𝐚𝐥𝐥𝐲 𝐅𝐚𝐜𝐞)Onde histórias criam vida. Descubra agora