De Quem É a Culpa 🐂

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Anos mais tarde
Atualmente

Charlotte Austin Point Of View

Bebo um gole generoso de água e suspiro fundo pela terceira vez seguida. Minha empresária, Nesa Mahmoodi, ou Nudee para os íntimos, aparece no pequeno camarim com um sorriso ladino e sua bolsa Gucci extravagante mas elegante.

Nesa é uma das poucas pessoas recentemente com quem me sinto á vontade o suficiente pra ser eu mesma. Com quem posso ser honesta em relação aos meus sentimentos e também frustrações, nossa dinâmica é muito boa e profunda, por isso damos certo. Conheci a morena ainda na faculdade, quando a mesma cursava  administração. Sorriso perfeito, popular, rica e gentil. Desde o início da minha carreira, Nudee se solidarizou comigo e administra minha carreira desde então.

—Está pronta, Lotte? — A morena mais baixa pergunta se aproximando, enquanto estica o violão branco com detalhes dourados em minha direção.

—Sempre. — Respondo sorrindo curto. A verdade é que estou nervosa e nada pronta.

—Sei que não é seu primeiro show, Lotte, mas tenho consciência que o motivo do seu nervosismo tem nome e sobrenome. — Ela diz em um tom baixo, acolhedor e compreensivo, cruza os braços abaixo dos seios e se aproxima de mim.

—Não posso esconder isso de você. Plaifa veio me dizer que ela estará aqui hoje, não sei se consigo fazer isso, Nesa. Eu demorei anos pra me consolidar, pra esquecer... — Desabafo, afastando alguns fios de cabelo do rosto de forma frustrada e levanto meu olhar até Nudee, que estava de braços abertos agora.

—Você consegue, Charlotte. Sempre o fez, só seja você mesma e faça o que você sabe de melhor. Entregue a sua música pra todos lá, tudo bem? — Me entrego ao abraço, enterrando meu rosto na curvatura do pescoço dela.

—Tudo bem. Obrigada por isso.

—É pra isso que servem os amigos, e também os empresários. — A morena solta uma piscadela e sai.

Me olho no espelho para me certificar que aparento bem. Arrumo os fios rebeldes, retoco o batom vermelho cereja e respiro fundo. Pego o violão com uma mão e abro a porta com a mão livre, tomando coragem, eu finalmente começo a caminhar em passos curtos e lentos até o palco da boate. A boate de Plaifa Waraha, irmã da minha ex namorada traidora.

Plaifa e eu sempre tivemos um bom relacionamento desde que me relacionei com sua irmã, o respeito entre nós duas era mútuo e sincero, e mesmo que a temática da boate dela fosse algo mais agitado e menos sofrência, às sextas-feiras eram o dia específico pra sofrência e modão no local. Afinal Bangkok é um lugar de muitos corações calejados.

Quando ela me ligou perguntando sobre cantar em sua boate, não pensei duas vezes antes de dizer pra Nudee aceitar sua proposta com um cachê generoso. No entanto, talvez devesse tê-lo feito, deveria ter pensado um pouco mais e assim não correria riscos como os que estou agora, o risco de vê-la. Pensar no nome e na presença dela ainda mexia comigo profundamente, mais do que eu gostaria de admitir. E caramba, ainda arde como o inferno.

Sento no banquinho cuidadosamente posicionado no centro palco e conecto o violão no cabo. A banda toda se ajeita sorridente. Heng no baixo, Anda na bateria, Namtan no teclado e Milk na sanfona. Rapidamente analiso a multidão de pessoas, rostos cheios de espectativas e sentimentos transbordando. Vamos lá Charlotte, você consegue. Respira fundo.

—Alô Bangkok! Que prazer estar aqui! — Com o microfone no apoio, me inclino com o violão no colo e digo de maneira animada, assistindo as pessoas abaixo retribuirem na mesma intensidade com gritos e comprimentos.

❝Todo Mundo Menos Você  - (ทุกคนยกเว้นคุณ) ❞ -  (𝗘𝗻𝗴𝗟𝗼𝘁)Onde histórias criam vida. Descubra agora