𝑺𝒐𝒎𝒃𝒓𝒂𝒔 𝒅𝒐 𝒑𝒂𝒔𝒔𝒂𝒅𝒐
Charlie Anderson sempre achou que o tempo tinha a capacidade de apagar as dores mais profundas, mas, enquanto olhava para a foto envelhecida de seus pais, pendurada na parede do quarto, ela sentia que o passado ainda estava muito vivo. Os olhos brilhantes e sorridentes de sua mãe, e a expressão serena de seu pai pareciam acompanhá-la em cada passo que dava pela casa que, agora, parecia mais silenciosa do que nunca.
O caso dos pais de Charlie, mortos em um acidente de carro há seis anos, ainda estava envolto em mistério. O carro havia saído da estrada em uma curva perigosa, e o relatório policial não encontrou indícios de falha mecânica ou comportamento imprudente. A hipótese de que foi um simples acidente parecia satisfatória para a maioria das pessoas, mas não para Charlie. A dúvida que a consumia era que algo mais poderia estar escondido.
Naquela manhã, Charlie decidiu que iria recomeçar sua investigação. Desde que se formou em Jornalismo, o desejo de buscar a verdade sobre o que realmente aconteceu com seus pais nunca a abandonou. Mesmo que isso significasse reabrir velhas feridas e confrontar memórias dolorosas, ela estava pronta.
Enquanto atravessava a cidade, o sol brilhava intensamente, um contraste desconcertante com a escuridão que sentia por dentro. Charlie se dirigiu ao antigo escritório da polícia onde o caso foi originalmente investigado. A sede havia mudado de local várias vezes, mas ela sabia exatamente onde encontrar a antiga pasta de seu caso.
Aquele lugar estava imerso em um ar de descaso e burocracia, com os corredores escuros e papéis empilhados em mesas que pareciam ser testemunhas de um trabalho que pouco importava. O detetive responsável pelo caso, Mike Dawson, já havia se aposentado, mas Charlie sabia que ele ainda mantinha contato com o antigo escritório. Ela pediu para falar com ele, e após uma espera prolongada, foi encaminhada para uma pequena sala de reuniões.
Dawson era um homem de aparência cansada, com cabelos grisalhos e uma expressão que parecia carregar o peso de muitos casos não resolvidos. Ele a cumprimentou com um aceno e um olhar avaliador. A conversa começou com formalidades, mas logo Charlie mergulhou no que realmente a trouxera ali.
"Eu gostaria de rever os arquivos do caso dos meus pais," disse ela, tentando manter a voz firme. "Sei que pode parecer uma repetição, mas acredito que há algo que não foi totalmente investigado."
Dawson a observou em silêncio por um momento, depois suspirou. "Charlie, já faz muito tempo. O caso foi fechado e, honestamente, não encontramos nada que sugerisse um erro nas conclusões. Não quero que isso te magoe, mas você deve estar ciente de que revisitar esses arquivos pode não trazer a resposta que você procura."
"Eu preciso tentar," respondeu Charlie, com um tom que não deixava espaço para discussão. "Eu tenho o direito de saber o que aconteceu."
Dawson parecia relutante, mas finalmente assentiu. "Tudo bem. Vou buscar a pasta, mas você deve entender que não há garantias de que encontraremos algo novo."
O detetive se levantou e saiu da sala, e Charlie sentou-se, observando as paredes repletas de certificados e fotos antigas de crimes solucionados. Cada um deles representava uma história, uma vida interrompida, e a sensação de que o seu caso estava perdido no meio daquele mar de injustiças a incomodava.
Quando Dawson retornou, ele trouxe uma pasta grossa, cujas páginas estavam amareladas e desgastadas pelo tempo. "Aqui está. Mas lembre-se, já examinamos tudo isso com muito cuidado. Se você encontrar algo, estarei aqui para discutir."
Charlie abriu a pasta com mãos trêmulas. As primeiras páginas eram relatórios padrão e depoimentos de testemunhas, mas à medida que avançava, ela começou a notar detalhes que não haviam sido completamente claros para ela antes. Havia anotações manuscritas de Dawson que indicavam uma investigação mais minuciosa em um ponto específico - a presença de um carro desconhecido na cena do acidente.
A menção ao carro desconhecido fez com que Charlie sentisse um frio na espinha. O relatório indicava que o veículo havia sido visto por um motorista que passava na hora do acidente, mas a informação havia sido rapidamente descartada como irrelevante. No entanto, para Charlie, essa pista parecia ser a chave para algo maior.
"Dawson," chamou ela, levantando a cabeça da pasta. "Sobre o carro desconhecido que foi mencionado aqui, você investigou isso mais a fundo?"
O detetive olhou para ela com um misto de curiosidade e frustração. "Nós não conseguimos encontrar nada concreto. O motorista que viu o carro não se apresentou de imediato, e quando finalmente fez, suas declarações eram vagas. Acredito que o carro não tinha relação com o acidente."
"Mas e se tinha?" insistiu Charlie. "E se o carro desconhecido fosse importante?"
Dawson hesitou, então olhou para a pasta e depois para Charlie. "Olha, a investigação foi encerrada e tudo que temos está aí. Se você acredita que há algo mais, eu sugiro que você investigue por conta própria. Mas esteja preparada para o que pode encontrar."
Charlie sentiu um misto de gratidão e desapontamento. Ele havia feito o melhor que pôde, mas a responsabilidade agora recaía sobre seus próprios ombros. Ela precisava descobrir a verdade por conta própria, e isso significava sair dos limites da investigação oficial.
Depois de se despedir de Dawson, Charlie passou a tarde revisando os documentos em sua casa. Ela anotou detalhes, fez conexões entre os depoimentos e começou a traçar um plano para investigar a pista do carro desconhecido. Sabia que essa era uma tarefa árdua, mas estava determinada a encontrar respostas.
Enquanto a noite se aproximava, Charlie sentiu um peso crescente de responsabilidade e um lampejo de esperança. Com cada página virada e cada detalhe analisado, ela se aproximava um pouco mais da verdade que procurava. A dor pela perda dos pais nunca desapareceria, mas encontrar respostas poderia trazer alguma forma de fechamento e justiça.
O primeiro passo seria localizar o motorista que havia visto o carro desconhecido. Ele parecia ser a chave para entender o que realmente aconteceu naquela noite fatídica. Charlie se preparou para uma nova jornada, uma que a levaria a lugares que talvez ela não estivesse pronta para enfrentar, mas que ela sabia serem essenciais para resolver o mistério que envolvia a morte de seus pais.
E assim, com a determinação renovada e a mente cheia de perguntas, Charlie se preparou para enfrentar as sombras do passado e descobrir a verdade que estava enterrada nas páginas de um caso não resolvido.
𝓒𝓸𝓷𝓽𝓲𝓷𝓾𝓪...

VOCÊ ESTÁ LENDO
A última pista de charlie
FanfictionCharlie, uma garota cujo seus pais foram mortos em um acidente de carro, mais esse acidente não foi solucionado, e ela está disposta a resolver esse caso custe o quê custar.