O DIÁRIO E A OBRA QUARTO DE DESPEJO

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O diário é uma porta aberta para o conhecimento. Uma forma de viajar no tempo. Um amontoado de ideias. O surgimento o diário dentro da literatura se denomina como a escrita do ‘eu’, relacionada a subjetificação e pessoalidade no qual aproxima o leitor a vida íntima do autor.  É um gênero literário feito historicamente por todas as categorias de pessoas. Apesar de ser familiarizado como um livrete de manuscritos também é um gênero textual aonde o autor traz a descrição das suas vivências, sentimentos, convicções e principalmente os ocorridos do seu dia a dia. Não é um artigo que necessita de ordem cronológica, cada diário tem sua peculiaridade; contos, poesia, linguagens singulares. O diário também é uma forma de registar dados históricos, como arquivo em forma de livro e são objetos de pesquisas no mundo todo para estudo de determinadas situações.

Segundo o dicionário Houaiss, define-se diário como:

— diurias /a/ um é “o que se faz ou acontece diariamente”; e o substantivo neutro, “pagamento de um dia, registro escrito de memória que se faz cada dia”. E são vários os significados encontrados no verbete. Como substantivo masculino: “1. Escrito em que se registram os acontecimentos de cada dia;
2. Periódico que se publica diariamente (…)” (HOUAISS, 2000: 1032). O termo jornal vem do latim jurnale, o substantivo masculino jornal significa: 1. “Publicação diária, com notícias sobre o cenário político (Inter)nacional, informações sobre todos os ramos do conhecimento, entrevistas, comentários, etc.; […] 4. Escrito em que é feito um relato cotidiano dos acontecimentos; diário”. (HOUAISS, 2000, p. 687).

Um gênero que oferece espaço aos escritores, com o qual todos podem se manifestar de qualquer forma, ficcional ou não. Sem julgamentos. Também é abrigo aos que se identificam fora da sociedade. Uma forma de grito, desabafo. O diário, então, se torna um espaço confortável para manifestar pensamentos, também muito usado para autoanálise. Portanto, quando existe algo que não se pode falar, existe a possibilidade da liberdade por meio do escrever.

Diversos temas podem ser abordados dentro desse gênero literário, como gravidez, causas sociais, produção, hospício, vivência na favela, espiritualidade, aprisionamento, religião, educação, moda, solidão, sexualidade, relacionamento, depressão, criatividade, exclusão, crise, empreendedorismo, rotinas, notícias.

Em Quarto de despejo, é evidente “o uso expressivo de vocábulos e expressões advindos da língua falada popular” (MELO, 2014, p. 17). A escritora queria usar palavras difíceis em seu diário (algumas com uma grafia discordante da norma culta da língua), mas a linguagem popular sobressaltou e deu uma particularidade maior à narrativa. Podemos perceber na citação a seguir, que o autor convida os leitores de diários para se sentirem a vontade ao ler:

Um diário é um lugar onde não se tem medo de fazer erros de ortografia, nem de ser burro. É claro que desde que criaram o péssimo hábito de publicar diários, muitas pessoas mostram sua intimidade vestida de paletó e gravata. Mas vocês e eu calçamos nossas velhas pantufas e não damos a menor bola para isso (LEJEUNE, 2008, p. 291-2).

Dentro desse espaço, não é obrigatório que a linguagem formal se faça presente, a linha de raciocínio se torna o protagonista dando vida ao livro. Tudo é diário, sendo a fome ser urgente e imediata. A linguagem, a falta de comida a verdade sobre a favela que se faz presente no diário de Carolina. O livro, se caracteriza no gênero por conter material subjetivo da vida da autora, sem se preocupar com a técnica de escrita. Apresentando a narração de acontecimentos, olhar sensível e o principal, o desejo de sair da favela e ser reconhecida como autora. Foi um marco histórico entra passagens de mulheres para a literatura, contando relação entre ela e a sociedade, onde muitas outras se identificaram na época.
Sendo assim, o retrato da marginalização sempre coube no diário expondo as contradições do indivíduo e da sociedade. No livro Quarto de despejo, Carolina Maria de Jesus enxerga que os menos privilegiados não são vistos ou são ignorados, vivendo em um ambiente excluído perante a sociedade, como os lugares fora do centro, chamados, periferia.

Vida e obra de Carolina Maria de Jesus em tempos modernos Onde histórias criam vida. Descubra agora