Capítulo 31

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MELISSA MCKENZIE


Acordo às sete e meia da manhã com as vozes vindas do lado de fora da casa. Olhando pela janela, franzo o cenho ao ver que estão fazendo churrasco no jardim a essa hora da manhã. O que eles têm na cabeça?

Guilherme está junto à churrasqueira, cortando carne. Sofia está sentada em uma cadeira um pouco distante dos outros. Ele pode até não me contar, mas sei que há algo entre aqueles dois.

Nicolle e Victoria batem um papo animado, lançando olhares ocasionais em direção à minha janela. Estou certa de que estão falando de mim.

Minha mãe e os pais de Nicholas também conversam animadamente sobre algo. Ver Letícia feliz me faz lembrar quando acordei às duas da manhã e a encontrei chorando.

Acordo com uma dor de cabeça terrível depois de ter um pesadelo, o mesmo de sempre.

Quando era criança, me escondia debaixo das cobertas dos meus pais, pois esse era, para mim, o único lugar seguro contra os monstros que imaginava estar debaixo da minha cama. E eu faria isso novamente, esgueirando-me para debaixo das cobertas de Letícia.

Chegando perto da porta do seu quarto, escuto um choro abafado vindo de dentro.

Abro apenas uma fresta para espiar o que está acontecendo.

Minha mãe está sentada no chão, encostada na cama, conversando com alguém por chamada de vídeo no celular. Essa conversa me deixa confusa e começo a chorar instantaneamente.

— Mamãe — ouço uma voz, contendo os soluços com as mãos sobre a boca.

O que? Minha mãe tem outra filha. Por que não me disse nada?

— No mês que vem, mamãe vai te ver, tudo bem, princesa? — pela voz suave e pelas poucas palavras, suponho que ela não tenha mais de três anos. — Onde está o papai?

— Papai!  — a garotinha grita, irradiando alegria.

De repente, a curiosidade em conhecê-la me invade. O único problema é que minha mãe parece não querer que ela se envolva comigo, considerando que até hoje eu desconhecia sua existência.

— Semana que vem eu tenho uma missão e, depois disso, vou vê-la! — diz minha mãe, enquanto passa as costas das mãos na bochecha.

— É Melissa? Até quando você vai continuar escondendo dela que tem uma irmã? Você sabe que ela vai precisar saber disso, uma hora ou outra.

Quão ruim eu sou para ela esconder que tenho uma irmã? Que tipo de monstro eu sou para ela fazer isso comigo?

— Eu vou contar. Só estou com medo de como ela vai reagir. — Ouço minha mãe dizer.

Corro para o meu quarto, chorando, incapaz de ouvir mais alguma coisa. Se Letícia escondeu a existência de uma irmã deve haver um motivo.

E esse motivo deve ser eu.

Minha mãe deve pensar que sou incapaz de amar uma criança, minha própria irmã. Então, como vou cuidar das minhas próprias filhas?

Droga.

Se ela temer que eu machuque minha irmã. Agora não vou conseguir parar de pensar nisso. E se eu machucar minhas filhas sem intenção?

Tiro toda a roupa e entro no banheiro chorando enquanto esse pensamento me domina. Abro o registro da água fria, na esperança de que isso possa me acalmar.

Isso explica as olheiras por dormir às cinco da manhã e acordar às sete.

Ao entrar no banheiro, levo um susto ao ver meu reflexo no espelho. Agora lembrei por que Guilherme está chateado comigo.

After the truth Parte 1 - Completo Onde histórias criam vida. Descubra agora