Capítulo 48

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MELISSA MCKENZIE


Foi difícil manter o sorriso no rosto quando eu estava quebrada por dentro. A cada "sinto muito" ou "meus pêsames" de pessoas que eu nunca sequer vi na vida, me fazia querer desabar. Mas eu não poderia; não poderia demonstrar fraqueza.

No primeiro dia, depois que joguei suas cinzas no mar, me tranquei no meu quarto, escolhendo ficar sozinha, até Nicholas aparecer com Victoria, Nicolle, Verônica e Sofia. Naquela noite, eu me permiti desabar, junto com elas.

No segundo dia, foi Guilherme quem me fez companhia. Não sei como, mas parece que ele descobriu o que aconteceu no meu último aniversário. Não contei para evitar que ele se culpasse por uma coisa que não estava ao seu alcance. No final, tentei convencê-lo de que eu estava bem, que aquilo não passou de um surto da minha cabeça. Não consegui.

Desde então, ele vem me fazendo companhia, tentando me animar, mesmo quando ele não consegue esconder a falta que Letícia está fazendo para ele.

No terceiro dia, eu confesso que fiquei tentada a entrar naquela adega para me embriagar, até esquecer tudo ao meu redor. Entretanto, eu não queria me tornar uma pessoa alcoólatra, dependente de álcool. Agora tenho filhas para cuidar e não poderia cair nessa tentação, então tranquei a adega com a chave e a entreguei para Nicholas deixar longe de mim.

No sexto dia, meus amigos e Nicholas tentaram me convencer a voltar para a escola, e conseguiram. Estou no último ano, também estamos na reta final das avaliações, assim eu conseguia ocupar minha cabeça em alguma coisa.

Sempre no fim do dia, vou ao hospital visitar minhas filhas. Mesmo que eu tenha dormido lá poucas noites, nunca deixei de ir durante o dia.

A semana pareceu passar rápido, comigo colocando minhas matérias em dia, que quase nem percebi tudo o que me atormentava.

Aquela tatuagem é o motivo da minha falta de sono. Embora eu não tenha contado isso a ninguém, acredito que as cinzas que espalhei não eram de Letícia, e por esse mesmo motivo não coloquei ela junto com meu pai. Talvez seja paranoia da minha cabeça? Talvez, mas eu não faria algo em que não acreditasse.

No domingo, foi o dia em que fiquei mais animada. Foi o dia em que tiraria o aparelho respiratório de Alexia. Eu realmente fiquei feliz por poder levá-las para casa, mas...

Se eu pensei que perder a minha mãe foi uma dor insuportável, era porque nunca pensei que perderia minha filha depois de uma semana de nascida, até ver ela sem respirar novamente.

O tempo parecia ter parado naquele momento. Olhei para os rostos dos médicos, suas expressões carregadas de preocupação, e um frio na barriga começou a tomar conta de mim.

Um mês se passou com a minha filha entubada na UTI, e a esperança que eu tinha se transformou em desespero. Eu não sabia como lidar com essa nova realidade. Cada dia parecia uma eternidade, e me sentia presa em um pesadelo do qual não conseguia acordar. Embora a dor nunca tenha diminuído, percebia que precisava me manter firme por elas.

Foi como Nicholas disse: com o tempo, a dor da perda de Letícia foi se tornando suportável, mas nunca superada. Quase todas as noites, quando estou sozinha em meu quarto, eu choro, sentindo falta da minha mãe e com medo de perder outra pessoa que amo.

Na semana passada, Nicholas me entregou uma carta que minha mãe pediu para entregar depois que ela viajasse. Eu realmente fiquei com medo do que encontraria lá, e, por esse motivo, ainda não tive coragem de ler. Guardei-a em um compartimento no meu closet, bem escondido.

After the truth Parte 1 - Completo Onde histórias criam vida. Descubra agora