Mulheres em Campo - Richard Ríos

"Isso não é coisa de menina!"

20/10/2016

— Olívia! Vem querida, vamos nos atrasar -gritou a mãe de Olívia.- Hoje vai ter um trânsito daqueles! -suspirou a mulher comentando com o marido.-

Hoje seria o dia em que Olívia veria o primeiro jogo do Vasco, dês de nova Olívia nunca gostou de futebol, mas sempre quis ser jogadora, vai entender!?

— Eu já tô indo mãe! -respondeu a menina aparecendo na sala com uma blusa preta com faixa branca do Vasco.-

— Achei que tinha morrido naquele quarto! -falou o pai Olívia.-

— Há há há, muito engraçado senhor Rodric! Quem morreu no quarto foi seu filho, parece uma princesinha se arrumando! -respondeu a menina.-

— Otávio querido, nós vamos à um jogo, não um jantar de gala! -gritou Helena.-

— Mas não é um simples jogo mãe, é O jogo!
- respondeu Otávio descendo as escadas com sua nova blusa do time cruz maltino.-

Já no estágio a sensação era única, a torcida gritando, as músicas, isso é um amor que ninguém entende!

Para Olívia ver o time que sempre tanto amou ver jogar era um sonho realizado!!

Olívia antes de sair de casa procurou todas as musicas de seu time só pra cantar no estádio.

— Olha Olívia, é o Almirante!! -falou Otávio, irmão gêmeo de Olívia.-

Para Olívia, Otávio é sua alma gêmea, e nem sempre almas gêmeas são amorosas.
Os dois são como carne e unha, não se desgrudam nunca -até porque nasceram "grudados"-.

No início o Jogo de Vasco e São paulo estávamos todos apreensivos, pois estava 0x0 ainda, no décimo sexto minuto do primeiro tempo, Yago Pikachu fez o primeiro gol, vantagem pro Vasco!

A torcida vai a loucura!!! Confetes pra lá, gente gritando pra lá, e eu? Eu estava estática. "Como será a sensação de fazer um gol?" Essa era a pergunta que não saia da minha cabeça, se um dia eu fizer um gol, é assim que as pessoas vão reagir?

— VASCO, VASCO!!!! -gritava Otávio do meu lado.-

— Tavio, você acha que eu seria uma boa jogadora de futebol? -perguntei ao meu irmão mais novo que gritava freneticamente ao meu lado.-

— Que?? Claro que não! Isso não é coisa de menina! -respondeu Otávio.-

— Não fala assim Otávio! Lugar de menina é onde ela quer estar! Você vai ver, um dia eu ainda vou ser uma jogadora famosa! -respondo meu irmão que ri da minha cara.-

Ao terminar o jogo o placar é de 2x1, ganhamos em casa do São Paulo, como diz aquele "ditado" "São Januário, meu caldeirão!".
Nunca pensei que a sensação de ir a um jogo fosse tão boa, a sensação de ganhar é boa, e a de fazer gol é boa assim também?

— E aí crianças, oque acharam de ir a um jogo? -perguntou papai assim que chegamos em casa.-

— Pra Olivia foi tão bom que agora ela quer ser jogadora!, mas eu falei que futebol não é para meninas, mas ela insiste em falar que vai ser uma jogadora famosa. -respondeu meu irmão debochando da minha cara.-

— Esse é o sonho dela, e ninguém vai fazer você desistir disso filha, se você quer começar a jogar futebol, o pai te ensina! -responde meu pai.-

— Mas pai! Isso não é pra meninas! -falou Otávio bravos.-

— Quem te disse isso Otávio? Lugar de menina é onde ela quer estar, não onde as pessoas mandam ela estar! -perguntou mamãe corrigindo Otávio.-

— Quem me disse isso foi o Lucca, ele sempre fala que lugar de menina é na cozinha, e que futebol não é para mulheres. -respondeu Otávio.-

Lucca Holanda, melhor amigo do meu irmão. Ele se acha melhor que  todos, mas não é nem metade do que diz ser.
Ele parece ser um menino educado, gente boa, mas já ouviram falar que "as aparências enganam" ou "não julgue um livro pela capa" ? O rosto angelical de Lucca mostra uma coisa que ele não é!

— Eu nunca gostei desse menino! Não se deixe influenciar por esse menino Otávio, ele não é boa pessoa! -falei.-

— Não fale assim Olívia! Não pode se julgar alguém sem a conhecer. -mamãe me repreendeu.-

— Uma coisa que eu sei é que conheço esse menino tempo o bastante pra saber que ele não é boa pessoa mãe! -respondi.-

— Você não sabe do que está falando Olívia! Você não conhece ele como eu conheço!. -disse Otávio irritado.-

— Claro que não, vocês são homens, e homens são todos iguais! -falei revirando os olhos.-

Em quanto ouvia sermões dos meu pais -e de Otávio- eu subi pro meu quarto, sem dar muita importância a eles.
A verdade é que ano passado eu namorei Lucca por 3 meses, e foi o inferno! Nós terminamos porque descobri que ele me traiu com Antonella Calixto, a menina mais chata e irritante do bairro.
Antonella é de família rica, estuda em escola particular e tem tudo que quer, e Lucca não fica pra trás, a única diferença é que ele estuda em escola pública e é homem.

Ninguém da minha família sabe, muito menos o meu irmão, se ele souber fica doido.
Não sei o que deu em mim pra querer namorar esse filhote de cruz credo, ele é bonito por fora, mas um troglodita por dentro, e isso faz ele ficar feio.

"Isso não é coisa de menina!" será mesmo?