Eu não tenho inimigos...

Capítulo 3

Dentro do ônibus, Hiroki, um jovem loiro de sorriso fácil, acenava para sua melhor amiga, Hina, enquanto o veículo se afastava. Ele passara horas agradáveis ao lado dela, mas agora era hora de ir para a casa de sua tia, que o aguardava animada. Com o ônibus fora de vista, Hina suspirou e virou-se para seguir seu caminho. Poucos minutos depois, enquanto caminhava distraída, deparou-se com um homem alto e de presença intimidadora. Ele tinha um porte robusto e músculos aparentes, mesmo por baixo da larga blusa escolar que vestia.

Hina estremeceu com a aparição repentina daquele rapaz. Ele abriu um sorriso que imediatamente fez o coração dela acelerar de medo e desconforto. "Sabe, posso te oferecer bem mais do que aquele idiota," ele disse com um tom de desprezo, apontando para a direção em que Hiroki tinha seguido.

As palavras dele foram como um soco no estômago de Hina. Seus olhos se encheram de uma mistura de nojo e repulsa, mas também de uma impotência que a sufocava. Ela queria defender seu amigo, mas sabia que não tinha chance. Seus treinos haviam começado há pouco tempo, e com suas habilidades atuais, enfrentar alguém daquele porte seria impossível.

Percebendo a hesitação e o medo dela, o rapaz — Kokujin, como era conhecido — começou a se aproximar lentamente, com uma expressão perversa que tornava cada passo seu ainda mais ameaçador. "Acredite, você vai ador—", começou ele, mas sua frase foi brutalmente interrompida. Uma mão firme agarrou seu rosto, empurrando-o com força contra uma parede próxima.

O impacto ecoou pela rua. O jovem que realizara o movimento tinha cabelos que lhe caíam até os ombros. Embora seus músculos não fossem tão volumosos quanto os de Kokujin, ainda eram visivelmente fortes, o suficiente para chamar a atenção dos poucos transeuntes ao redor. Seu olhar, carregado de raiva, tinha algo de familiar para Hina — um brilho que ela reconheceu imediatamente.

Ela arfou, surpresa, e lágrimas começaram a escorrer por seu rosto. "M-maninho..." murmurou, sua voz tremendo, enquanto se deixava cair de joelhos no chão.

O jovem se aproximou dela com uma expressão mais suave, afagando carinhosamente sua cabeça. "Não se preocupe," disse ele com um sorriso afetuoso, "seu maninho vai cuidar disso." Em seguida, ele voltou seu olhar para Kokujin, que tentava se recompor, o nariz sangrando pelo impacto contra a parede. O sorriso afetuoso desapareceu, substituído por uma expressão de determinação feroz.

Koda encarou Kokujin por um momento, seus olhos ardendo com uma intensidade fria. Ele sabia que aquele sujeito era todo força bruta, sem técnica. Seria uma luta desequilibrada, mas Koda estava determinado a ensinar-lhe uma lição.

Kokujin, furioso e envergonhado pela forma como fora jogado contra a parede, limpou o sangue do nariz com as costas da mão e deu um passo à frente, lançando um soco direto e pesado, mirando o rosto de Koda. Mas o movimento era previsível e lento. Koda desviou com facilidade, inclinando-se para o lado e aproveitando o impulso do ataque de Kokujin para agarrar seu braço e girar rapidamente o corpo. Num instante, Koda executou um "ippon seoi nage" — uma técnica de projeção do judô — lançando Kokujin no ar antes de colidí-lo de costas no chão com um estrondo.

Kokujin grunhiu de dor, atordoado pela força do impacto, mas tentou se levantar rapidamente, determinado a não perder tão facilmente. Ele tentou um chute desajeitado, mas Koda já estava um passo à frente. Aproveitando a perna levantada de Kokujin, ele agarrou seu tornozelo e girou o corpo novamente, executando um "ashi barai" — uma rasteira perfeita que derrubou Kokujin novamente.

"Você nem começou a entender", disse Koda com uma calma fria, enquanto Kokujin tentava se recompor no chão.

Kokujin se levantou, rugindo de frustração. Ele avançou mais uma vez, tentando agarrar Koda pela gola, mas o jovem lutador bloqueou o movimento com um rápido golpe de antebraço, girando o quadril e acertando o joelho de Kokujin com um chute rápido de Muay Thai, bem colocado na lateral da coxa. Kokujin cambaleou para o lado, gritando de dor.