Capítulo Único - Feliz Aniversário

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Cross subiu as escadas da estação em direção a avenida principal. Humanos e Monstros passavam para lá e para cá em direções variadas, os carros e demais veículos seguiam uma linha reta dependendo da direção da rua. Cross esperou no limite da calçada na frente da faixa, atento ao sinal de pedestres. Quando este ficou verde, atravessou a faixa e andou alguns metros até uma cat café bastante conhecida na região chamada Fluffytale. Cross geralmente não gostava muito de sair, contudo, hoje era um dia diferente.
Ao empurrar a porta e adentrar o local percebeu de imediato que não havia tanta gente como imaginou, levando em conta que era uma cafeteria popular tanto pela temática quanto pelos gatos.
Talvez eles façam controle do público pra não gerar tanto estresse ao gatos, pensou Cross.
O esqueleto de roupas brancas e pretas se sentou próximo à janela, distante dos outros. sentiu seu celular vibrar e verificou quem era:

[Desculpa, acho que vou me atrasar.
Você já chegou lá?]

Dizia seu amigo. Cross digitou uma resposta:

[Já sim.]
[Tranquilo, só não me dê um fora logo agora.]

Ele esperou mais um tempo para ver se teria uma nova mensagem, e quando nada mais veio, apenas guardou o celular e olhou ao redor. Devia estar um pouco ou muito barulhento, porém ele não era capaz de escutar o som ao redor. Nem daquele lugar e nem de lugar nenhum, e antes fosse por causa de fones com cancelamento de ruído. Sentiu um toque no braço e se assustou com o barman e dono do local, Ccino. Ele era um esqueleto assim como ele, mas diferente de Cross, Ccino vestia o uniforme do café.
— Já tem algo em mente ou quer o cardápio?— perguntou Ccino.
Cross ficou nervoso porque não entendeu metade do que ele disse. Era sempre assim, imagina que explicaria em poucos segundos sua condição, mas na prática mal conseguia se mexer e dava a impressão de ser antipático e antisocial.
— Calma, você é o Cross, né? Um cliente chamado Dream ligou dizendo que você viria e que você era péssimo em se comunicar. Aqui o cardápio, fique a vontade.
Cross novamente não entendeu nada do que Ccino disse, mas ficou aliviado quando o cardápio foi entregue nas suas mãos. Sem querer perder mais do tempo de Ccino, apontou para o que iria pedir. Viu Ccino anotar e falar alguma coisa, provavelmente que logo estaria pronto.
Cross finalmente pode relaxar agora que estava sozinho. Tinha ficado tão nervoso.
Eu devia ter usado meu celular pra explicar pra ele, pensou Cross se sentindo burro.
Tentou não pensar nisso e pegou o celular novamente, então veio outro susto. Dessa vez com um gato que subiu em seu colo. Ele era branco e preto, assim como ele, um gato Cross.
O esqueleto monocromático não resistiu em fazer carinho nele, primeiro deixando que o gato cheirasse sua mão, e vendo o bichano se esfregar nela tomou a liberdade de acariciar toda extensão peluda do felino. Não era capaz de escutar os miados do gato, mas podia sentir ele ronronar em resposta ao seu carinho. Aproveitou que ainda estava com o celular na outra mão e tirou uma foto do gato em seu colo.
— Aqui seu café com chocolate.— Ccino chegou colocando o copo sobre a mesa e já se retirando.
Cross tentou verbalizar um obrigado, porém a reação nervosa de Ccino dizia que foi péssimo. Será que falou muito alto ou muito baixo? Nem sequer era capaz de escutar a própria voz. Ele se sentiu péssimo.
Não demorou para que Ccino trouxesse seu café com chocolate, mas ficou pouco para atender os outros clientes.
Cross tirou uma foto do café e aproveitou para postar junto com a foto do gato em seu perfil numa rede social, marcando a cafeteria para engajar o estabelecimento e atrair mais clientes. Deixou o celular no bolso e pegou com a mão livre o copo. A bebida estava bem quente e conseguia sentir tanto o amargo do café quanto o doce do chocolate. O gato Cross ainda estava em seu colo, continuava ronronando de olhos fechados. Cross tomou outro gole de seu café quando sentiu o peso em seu colo diminuir. Olhou pra baixo vendo que o gato Cross desceu para se acariciar e brincar com um gato amarelo, pareciam ser amigos.
Então Dream surgiu em seu campo de visão, todo colorido em tons de amarelo e sorridente. Amava Dream, mas nunca encontrava as palavras certas para dizer isso a ele. Dream sentou na cadeira do outro lado da mesa e deu início a conversa, estava eufórico e animado por Cross ter aceitado seu convite para aquele passeio casual nada especial de aniversário.

“Demorei muito? Desculpa de novo, o trânsito tava horrível!” gesticulou Dream com as mãos.

“Não precisa se desculpar, mas confesso que fiquei com medo de me abandonar aqui sozinho”, admitiu Cross sinalizando.

A expressão de Dream mudou de alegre pra culpada e triste, ele levou a mão direita e colocou sobre a mão direita de Cross. Com a outra mão livre, ele sinalizou:

“Eu nunca vou te abandonar”.

Cross corou com aquelas palavras ditas em sua linguagem. Com a esquerda livre, ele começou a fazer alguns sinais:

“Dream, eu...”

— Desculpe a demora, hoje tá meio corrido. Aqui o pedido de vocês.— Ccino surgiu com um bolo de chocolate e recheio de glacê por cima acompanhado de dois capuccinos e alguns pratos com talheres. Sobre o bolo, velas de aniversário para serem apagadas.
Cross e Dream separaram as mãos, o de amarelo animado e o de branco e preto confuso.
Ccino pôs o bolo sobre a mesa e entregou cada capuccino a seu respectivo dono, assim como um prato com garfo e faca para cada um.
— Geralmente eu canto parabéns e aquela coisa toda, mas essa é uma ocasião diferente, então...— Ccino parecia nervoso. Ele respirou fundo e ergueu as mãos para que ficassem bem à vista.

“Feliz aniversário Cross, que tenha muitos anos de vida”, gesticulou Ccino na linguagem de sinais de maneira desajeitada, mas o importante é que ele fez até que bem pra primeira vez.

“Feliz aniversário Cross, espero que continue sendo um monstro incrível como é”, foi vez de Dream parabenizar Cross.

“Obrigado aos dois, vocês alegraram bastante esse dia pra mim”, Cross agradeceu em sinais e soprou as velas.

Ccino se retirou para atender os outros clientes. Cross pegou a faca e cortou um pedaço do bolo, entregando a Dream, que já estava com o prato estendido em sua direção. Cross tomou coragem e chamou a atenção de Dream com um estalar de dedos, pois sabia que Dream ouviria.

“Obrigado por tudo Dream...”, começou Cross com gestos tímidos e tendo dificuldade de olhar diretamente para Dream.“E eu te amo”.

Dream corou bastante com aquele gesto, escondendo o rosto com as mãos em sinal de vergonha. Quase não podia acreditar que finalmente foi correspondido, depois de tanto tempo se questionando sobre o que sentia por Cross e se ele sentia o mesmo. Respirou fundo, tomou coragem e respondeu a Cross: “Eu...também te amo Cross, você é um ótimo amigo e... espero que talvez seja mais que isso”.

Ambos ficaram tímidos e envergonhados, cada um comendo sua parte do bolo e tendo mil pensamentos sobre aquela confissão compartilhada. De longe, Ccino ria do casal de amigos — ou mais que amigos — e achando tudo aquilo muito fofo. Dois gatinhos subiram no balcão em que Ccino estava, o gato Cross e o gato Dream.
— Miau pra vocês dois.— disse Ccino acariciando ambos os gatos. O gato Cross permaneceu sentado aceitando o carinho nas orelhas, enquanto o gato Dream tentava se erguer o máximo possível pra receber mais carinho nas costas.— Parece que as versões ali de vocês estão transbordando de amor hoje, mas quem não fica assim no aniversário.

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