Foi há cerca de dois anos, em uma noite de sábado, quando tudo aconteceu.
Estávamos todos em casa quando meu pai recebeu um telefonema. A ligação vinha de Rio Brilhante, Mato Grosso, onde um de seus irmãos morava. A notícia era devastadora: meu avô havia falecido. Meu pai, naturalmente, quis ir ao enterro que aconteceria no dia seguinte, um domingo.
Ao sair do quarto, ele nos contou a notícia com o olhar pesado. Minha mãe, visivelmente abalada, disse com um tom estranho: "Nossa, eu sonhei que ele tinha morrido, estava dentro de um caixão." Aquilo deixou todos nós ainda mais inquietos. A tristeza pairava no ar, densa e palpável.
Apesar de não querer ir, algo dentro de mim, talvez um pressentimento sombrio, dizia que eu deveria ficar em casa. No entanto, sabia que meu pai precisava de apoio naquele momento, e por isso decidi acompanhá-lo, juntamente com minha irmã. Às 4 da manhã, partimos rumo ao Mato Grosso.
A viagem foi longa e silenciosa. Já estávamos nas estradas do Mato Grosso quando meu pai parou para abastecer o carro, enchendo o tanque até a boca. Pouco depois, chegamos à casa do meu tio, o irmão de meu pai, onde aguardamos a hora do velório, que começaria às 6 da tarde daquele mesmo dia.
Durante essa espera angustiante, meu tio compartilhou conosco como descobriram a morte do meu avô. Outro irmão, que estava na casa do meu avô, foi quem o encontrou. Meu avô havia pedido um copo de cachaça, tomou um gole, e em seguida disse que iria descansar um pouco. Meu tio, preocupado, foi ver como ele estava e o encontrou no exato momento em que dava seu último suspiro. Um suspiro profundo e final, seguido de um silêncio inquietante. Quando a ambulância chegou, os socorristas confirmaram: aquele suspiro fora o último, o suspiro que marca a transição entre a vida e a morte.
Enquanto ouvia tudo aquilo, um frio percorreu minha espinha. A sensação era de estranheza, como se algo além do compreensível estivesse acontecendo ao meu redor. Era como se o ar ao nosso redor estivesse impregnado por uma presença invisível, mas indiscutivelmente real.
Finalmente, chegou o momento do velório. Entramos na sala fria, um frio que não era apenas físico, mas emocional. O ambiente era pesado, cheio de uma tristeza que parecia gelar os ossos. Lá estava meu avô, deitado no caixão, com a pele pálida e a expressão serena. Meu pai, silencioso e imóvel, parecia perdido em seus pensamentos, enquanto uma de minhas tias desmaiava ao ver o pai ali, imóvel e distante para sempre.
Durante a cerimônia, alguém tomou a palavra. Suas palavras ecoam em minha mente até hoje: "Assim como José Pedro Leite um dia morreu, nós também estaremos no seu lugar." Ao ouvir isso, olhei para o corpo de meu avô e pensei: "É, vô, um dia eu estarei no seu lugar."
E assim, naquele ambiente impregnado de tristeza e reflexões sobre a mortalidade, o primeiro capítulo daquela experiência surreal começou a se desenrolar...
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O Dia Que Quase Não Voltamos Para Casa | Fatos Reias - Jask Alfer Escritor
Mystery / ThrillerEm "O Dia Que Quase Não Voltamos Pra Casa", uma família enfrenta uma viagem marcada por pressentimentos sombrios e perigos reais enquanto se dirigem ao funeral do avô em Mato Grosso. Ao longo do caminho, eles lidam com uma série de eventos aterroriz...