A paz antes da guerra

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A sala do trono de Hiverdhor era vasta, construída com pedras antigas que haviam resistido ao tempo e às intempéries. As paredes eram adornadas com tapeçarias que contavam a história do reino, desde sua fundação até as mais recentes batalhas. Colunas altas de mármore negro sustentavam o teto abobadado, onde intricados vitrais lançavam sombras coloridas pelo chão polido. No centro, elevava-se o trono de Lucan, esculpido em madeira escura e adornado com detalhes em ouro, símbolo do poder absoluto que ele agora detinha.

Lucan estava sentado no trono, os olhos fixos no mapa estendido sobre a mesa diante dele. Ao seu redor, conselheiros e generais murmuravam entre si, discutindo as recentes movimentações nos reinos vizinhos. Aldric, agora com dezesseis anos e recém-nomeado comandante da cavalaria, estava de pé ao lado de seu irmão, observando atentamente as discussões. A seriedade no rosto de Lucan era palpável, uma máscara que ele vestia desde que assumira a coroa, um peso que Aldric começava a entender.

— Os reinos ao norte estão em conflito constante, — disse Lorde Varys, um dos conselheiros mais antigos e confiáveis da família real. — As alianças são frágeis, e a tensão entre os clãs de lobos e os elfos está prestes a explodir em guerra.

— Isso não é tudo, — interveio Sir Virland, comandante das forças de Hiverdhor. — O Reino de Falkreath, ao leste, tem fortalecido suas forças militares. Há rumores de que eles estão se preparando para um ataque preventivo contra os elfos, o que forçaria os lobos a retaliar. Se não intervirmos, toda a região será mergulhada no caos.

Lucan permaneceu em silêncio por um momento, absorvendo as informações. Seus dedos traçaram lentamente as fronteiras dos reinos vizinhos no mapa, como se estivesse desenhando mentalmente as possíveis estratégias e consequências de cada movimento. Ele sabia que Hiverdhor estava cercado por instabilidade e que uma guerra generalizada poderia facilmente arrastar seu reino para um conflito do qual seria difícil sair vitorioso.

— E a diplomacia? — Lucan finalmente quebrou o silêncio. — Temos embaixadores em Falkreath? Qual é o humor do rei Ragnar? Ele estaria disposto a negociar?

Lorde Varys pigarreou, uma sombra de incerteza em seus olhos.

— Ragnar é um homem difícil de ler. Ele valoriza a força acima de tudo e vê a diplomacia como uma fraqueza. No entanto, há rumores de que ele está preocupado com a ameaça do Império de Drakmor, ao sul. Se jogarmos bem nossas cartas, podemos usar essa preocupação para persuadi-lo a buscar uma aliança temporária, pelo menos até que a ameaça imediata passe.

Aldric franziu a testa. Ele havia ouvido falar de Drakmor, um império vasto e poderoso, habitado por uma raça de seres conhecidos como os Dragões Negros. Diziam que esses seres podiam assumir a forma humana, mas que sua verdadeira natureza era de dragões alados, dotados de uma força incomparável e um apetite insaciável por conquista. Drakmor era uma ameaça real, e Aldric sabia que seu irmão temia mais o império ao sul do que qualquer outro reino.

— Se Drakmor decidir se mover contra nós, nenhuma aliança nos salvará, — disse Lucan, quase como se estivesse lendo os pensamentos de Aldric. — O que precisamos é de tempo, e para isso, devemos evitar uma guerra em múltiplas frentes.

Os conselheiros assentiram em silêncio. Todos sabiam que a chave para a sobrevivência de Hiverdhor estava em manter a paz, ou pelo menos adiar o inevitável conflito até que o reino estivesse mais preparado.

— Precisamos de mais informações sobre Drakmor, — continuou Lucan. — Seus movimentos, suas alianças. Eles têm sido estranhamente quietos nos últimos meses, o que me preocupa. Enviem espiões, e que eles não voltem até terem algo concreto.

Lorde Varys fez uma reverência e se retirou para começar a organizar os espiões, enquanto os outros conselheiros continuavam a discutir as várias ameaças. Aldric, por outro lado, estava absorto em seus próprios pensamentos. Ele compreendia agora a extensão da responsabilidade que Lucan carregava. Não era apenas o peso do reino, mas a delicada tarefa de equilibrar as forças de Hiverdhor contra inimigos muito maiores e mais poderosos.

— Aldric, — Lucan chamou, puxando-o de volta à realidade. — Preciso que você esteja preparado para liderar em qualquer momento. A paz é frágil, e um comandante deve estar pronto para o inesperado.

— Sim, meu rei, — respondeu Aldric, tentando esconder o nervosismo em sua voz.

Lucan levantou-se do trono e aproximou-se de seu irmão. Ele colocou uma mão firme no ombro de Aldric, olhando-o diretamente nos olhos.

— Eu confio em você, Aldric. Sei que você tem o coração e a coragem necessários para proteger Hiverdhor. Mas lembre-se, o maior inimigo não é sempre aquele que vemos diante de nós, mas aquele que se esconde nas sombras.

Aldric assentiu, sentindo o peso das palavras de seu irmão. Havia tanto que ele ainda precisava aprender, não apenas sobre estratégia e combate, mas sobre a complexa teia de política e poder que sustentava o reino.

O dia se passou com Aldric acompanhando as reuniões do conselho e observando como seu irmão lidava com os embaixadores e nobres. As decisões que Lucan tomava não eram simples, e cada escolha tinha repercussões que se espalhavam por todo o reino. A política de Hiverdhor era um jogo perigoso, onde uma única falha poderia significar a ruína.

No entanto, Lucan não era um jogador comum. Ele conhecia os meandros da diplomacia e da guerra, e sabia como usar as fraquezas dos outros reinos a seu favor. Mesmo assim, Aldric não podia deixar de notar as linhas de preocupação que começavam a se formar no rosto de seu irmão. O rei estava consciente das ameaças que se acumulavam ao redor de Hiverdhor, e embora ele fosse forte, Lucan não era invulnerável.

Quando a noite caiu, Aldric retornou aos seus aposentos, sentindo-se esgotado tanto física quanto mentalmente. Ele sabia que seus deveres como comandante da cavalaria eram apenas uma parte do fardo que carregava. Agora, ele entendia que para ser um verdadeiro líder, precisaria dominar não apenas a espada, mas também a arte de navegar pelos perigos da política e da diplomacia.

Enquanto o reino repousava sob o manto da escuridão, Aldric olhou para as estrelas e fez um juramento silencioso. Ele protegeria Hiverdhor, não importa o custo. E embora o futuro estivesse repleto de incertezas, ele estava determinado a enfrentar qualquer desafio que surgisse, sabendo que seu irmão contava com ele.

Mas no fundo, Aldric sabia que a paz não duraria para sempre. As sombras que se aproximavam eram mais escuras do que qualquer coisa que ele pudesse imaginar, e em breve, Hiverdhor seria testado como foi há muitos anos no passado.

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⏰ Última atualização: Aug 09 ⏰

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