★ #3 - "Preso a Fios".

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6:05 PM - 13c°.

O mar estava revolto para ambos os dois, afogados em seus próprios pensamentos, os jovens estudantes caminhavam a caminho de casa, uma aura em volta de cada um...e uma culpa os seguindo como se um balão estivesse preso por fios em seus dedos.

A caminhada era silenciosa e calma, o único som ouvido pelos dois eram os passos da sola de seus sapatos batendo contra o cimento da calçada, cujo estava úmido pela garoa de chuva, tornando a atmosfera mais fria do que já estava, junto com o céu azul-acizentado, perto da noite, pois estava começando a escurecer.

Não que Guilherme exatamente quisesse esse distanciamento.

Pra ele era igualmente muito doloroso.

Doloroso ver o próprio amigo se afundando nesse poço escuro no qual não se podia ver o fundo.

Guilherme obviamente sabia de todos os problemas que ele tinha...todas as dores que ele escondia atrás das piadas , risadas, e sorrisos...ele sabia de tudo.

Mas a única opção dele era continuar andando em frente sem olhar pra trás.

Não necessariamente...a única opção.

Mas como sempre, Matheus encerra sua caminhada mais cedo do que Guilherme por sua casa ser mais perto, sendo um ponto positivo pela primeira vez...hoje, o que antes costumava ser um fato triste, por vontade de conversarem por mais tempo.

Que pena que essa conversa se silênciou hoje.

Matheus subiu as escadas de sua casa, pondo a mão na maçaneta, prestes a abrir, dando uma última olhada em Guilherme, que sumia lentamente na distância da névoa do frio, e logo adentrou sua casa, fechando a porta e dando um audível barulho na batida da mesma.

A casa dele era um lugar confortável...bem arrumado, organizado, um ambiente familiar, e como de costume, ele já foi logo tirando os sapatos e pondo a mochila dele num suporte ao lado da porta, e sua mãe, que já ouviu o barulho de seus passos, apareceu na sala.

"- chegou mais tarde filho...Como foi na escola?" - ela indagou, secando as mãos em um pano próximo, aparentemente estava lavando a louça...está é dona Nilce, uma mulher gentil de 40 anos.

"- Foi...normal, mãe." - ele respondeu, com um desânimo visível na voz, ele não queria preocupar a mãe dele, é claro, então tratou logo de melhorar a cara e fingir naturalidade.

"- Eu disse que ia lavar a louça quando chegasse da escola...por que a senhora fez isso? Tá frio." - ele disse numa voz cansada, e andou em passos lentos até a mãe dele, a abraçando carinhosamente , e balançando a si mesmo e ela junto pro lado e pro outro levemente, como forma de afeto.

"- Você parecia cansado, não queria que você chegasse da escola e lavasse a louça." - ela disse gentilmente, igualmente abraçando seu pobre e cansado filho, mal sabia ela o dia árduo que o moreno teve.
"- Tá tá...eu vou pro meu quarto...mas a próxima louça eu lavo."
- Ele disse, soltando ela e alongando os braços, antes de andar até às escadas e começar a subi-las... a demora foi só ele dar as costas que a expressão dele mudou totalmente.

Após o término das escadas, ele andou pelo pequeno corredor, e adentrou o quarto dele...um simples, e organizado quarto de um adolescente de 16 anos.

Fechando a porta atrás dele, o mesmo ligou a luz e se sentou na cama, uma luz de tom ambiente... não sendo necessariamente clara.

Os pensamentos deste dia novamente começaram a invadir a mente de Matheus, e isso realmente o incomoda.

Por que?

Os dois lados da moeda.Onde histórias criam vida. Descubra agora