A Lenda dos Dragões.

A Brasa Ardente

Capítulo 30: A Brasa Ardente.

Focado, com muita concentração, Soluço fazia cuidadosamente a sua lâmina. Há alguns dias ele havia começado a forjar sua própria espada, uma que fosse suficientemente perigosa para se defender e também suficientemente leve e boa para manejá-la. No entanto, a Oficina de Bocão estava aberta e a todo vapor de volta.

Era uma tarde, umas três e meia para ser exato. E naquele momento não havia muita movimentação, ele e Bocão já haviam atendido os pedidos dos clientes o dia todo, vinham com espadas, machados, escudos danificados de um jeito e de outro. Com a demanda diária já atendida, Soluço aproveitou a folga para continuar a construir sua lâmina que infelizmente, surgiu pequenas ferrugens enquanto estava guardada numa prateleira. Faz-se dias que ele começou a lâmina e depois parou pois sua atenção em outros planos era necessária.

Com o objeto semelhante a uma espada e, sobre a bigorna, estava martelando-a fortemente e sem exageros, a ferrugem desaparecia e a verdadeira cor do ferro renascia de volta junto de seu brilho metálico. Retirando devagarinho os resíduos enferrujados, enquanto o fazia, palavras vindas de Bocão voavam em sua mente:

"É necessário um ferro de boa qualidade para uma boa espada, se não o fizer minuciosamente o trabalho. Sua lâmina poderá ser traiçoeira lhe atingindo com cacos em seu corpo e assim lhe ferindo fatalmente... ou te matar."

O ferro incandescente esfriou um pouco, perdendo a vermelhidão brilhante. Soluço colocou-a de volta na forja e soprando-lhe com um grande fole soprador de chamas, uma peça dobradiça deitada ao chão no qual impulsiona um peso acima dele e, empurrando para baixo saía um forte vento, canalizado através de um bico de metal apontando para a boca da forja.

Conforme oscilava o fole soprador, um forte crepitar surgia a cada impulso, a fornalha soltava algumas faíscas. Tornando sua lâmina incandescente e alcançando tons avermelhados de volta. O ponto certo para moldar o metal. Agora colocando sua lâmina recém esquentada sobre a bigorna. Batidas fortes de um martelo ecoavam pela ferraria. Soluço erguia sua mão com o martelo para o alto, e então a impulsionava para baixo com força em direção ao metal incandescente, fazendo o seu retumbar agudo. Seus ouvidos presenciavam as batidas se ecoando pela ferraria e então desaparecendo afora. A voz de Bocão lhe veio novamente.

"O martelo será o seu melhor amigo, porém, não se pode bater de qualquer jeito e nem em qualquer lugar do seu metal incandescente. Ou você poderá arruinar a perfeição em um ponto crucial e isso será o suficiente para destruir o seu trabalho, lhe causando enormes atrasos..."

Perfeitamente reta, sua lâmina incandescente estava quase pronta. Soluço agora dava batidas leves nas beiradas formando uma linha onde seria feita a afiação, então afinando a borda e formando sua ponta. A voz de Bocão ainda voava em sua mente.

"Quando você sente que está perto de terminar o seu trabalho. Jamais se apresse, porque é a pressa que mais atrapalha o seu serviço. Portanto, se achar que precisa de batidas mais fortes? Dê batidas leves e firmes repetidas em um mesmo ponto. Seu metal esfriou? Não diga que terminou, coloque-a para ferver e retorne o seu rumo sem pressa pois é um trabalho árduo e delicado..."

De imediato, controlando sua ansiedade e concentrando em seu trabalho. Soluço colocou o ferro de volta na forja. Impulsionando o seu fole soprador com seu peso, as chamas crepitavam novamente. Enquanto isso, ele continuava a se lembrar das falas de Bocão.

"É a mesma coisa que você estar em uma caminhada ou até navegar de barco. Se você avistar o seu destino, não tente correr enquanto estiver caminhando, pode haver buracos perigosos, ou acelerar o seu barco com remos, pode surgir uma rocha traiçoeira que irá por seu barco nas profundezas do oceano...