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Owen Zahara estava longe de desprezar a vida cheia de regalias que tinha por ser um príncipe. Mas o monarca odiava passar todas as noites enclausurado em seu quarto no castelo.

Existiam festas lá fora. Tavernas com músicas, bardos e cerveja. E suas noites cafonas se limitavam a livros políticos, mapas do reino e estratégias inúteis de guerra.

Pelos deuses, eles nem estavam em guerra. Owen acreditava ser a maior época de paz que o Grande Deserto já vira na história e, mesmo assim, seu pai insistia que tivesse aulas de combate e táticas armadas.

Claro, o grande sultão Azim não deixaria que a imagem de sua família perfeitamente poderosa se desvanecesse com o seu herdeiro. Aliás, aí estava uma coisa que ele não gostava: ser o sucessor de tudo aquilo.

Owen amava dar ordens, mas ser responsável pelo funcionamento de cidades inteiras e decidir o destino da vida dos cidadãos? Parecia mais uma maldição.

Entretanto, o príncipe colecionava maldições e ser herdeiro não estava nem perto de ser a maior.

Havia um cantil com água sobre a mesa de seu quarto e a maldição dentro de Owen queimava, dando-lhe dores de cabeça, enquanto ele tentava fazer qualquer coisa com seu dom. O príncipe podia sentir a água ao seu redor e confiava poder fazer bem mais que isso.

Há anos, os maliqs, pessoas que nasciam com o dom da magia, desapareceram como se uma praga os tivesse atingido. Owen mesmo não era nem nascido quando essa raça começou a sumir.

Mas o príncipe não esperava ser um dos bruxos que seu pai tanto detestava.

Não espera. Mas gostava ser.

Porque nenhum integrante da família real possuía tais dons e sempre foi responsabilidade da coroa de Sahara caçar toda e qualquer pessoa que tiver o mínimo envolvimento com magia. Owen aprendeu a caçá-los também.

Bruxos não são admitidos no Grande Deserto. Eles ferem a criação perfeita, utilizando forças sobrenaturais para manipular o que quiserem. Esse era o famoso discurso que Owen, agora, não concordava mais.

Não havia nada de sobrenatural na sua relação com a água. Era apenas... mágico.

Ele estava sentado no parapeito da janela, observando seu reino banhado pela luz alaranjada do sol poente, após desistir do cantil, quando seis batidas soaram de sua porta. Um código antigo, mas que sempre o alertava da chegada de um amigo.

— Entre, Rafael!

A porta rangeu e o trinco foi aberto pelo lado de fora, revelando um jovem esguio e sardento. Ele se aproximou com uma bandeja nas mãos.

— Já que não desceu para o jantar, tive que subir as escadas e trazer a comida de Vossa Preguiça Real.

Owen sorriu para ele e espiou o que trazia na bandeja. Assado de carne de cabra, uvas e vinho. O príncipe estendeu a mão e tomou o cálice de prata para si, balançando lentamente o conteúdo alcólico.

— Deveria me agradecer por lhe proporcionar esse exercício diário. Seu físico tem melhorado.

Com um brilho repentino nos olhos, Rafael encarou seu senhor, as laterais dos lábios se movendo para cima.

— Acha mesmo?

Owen o encarou nos olhos e respondeu:

— Não.

Rafael ofereceu-lhe gentilmente o dedo do meio.

— No Sul, as pessoas dizem obrigado.

Owen retrucou:

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⏰ Última atualização: Aug 10 ⏰

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