ORAÇÃO MALDITA30 de outubro:
— Malévola? — perguntei, curiosa.
— Sim, dinda, minha princesa favorita — respondeu Alice, brincando com suas bonecas no chão da sala.
— Acho que você está se confundindo, meu amor. Malévola é uma vilã — observei, enquanto a olhava com uma expressão de leve confusão.
Alice levantou os olhos e sorriu com um brilho de sabedoria infantil.
— Mas dinda, eu acho que ela não é só uma vilã — disse ela, balançando a cabeça. — Às vezes, as pessoas que parecem más só estão tristes ou foram tratadas mal. Malévola foi deixada de lado e isso fez ela ficar brava.
Ela pegou uma de suas bonecas e a abraçou, como se estivesse explicando um segredo especial.
— Eu acho que, se a gente entender o que fez ela ficar assim, pode ver que ela também pode ter um pouquinho de bondade dentro dela. Mesmo as vilãs podem ter um coração bom escondido lá no fundo.
— Você tem mesmo só 7 anos? — perguntei, boquiaberta com a sabedoria dela.
— Alessandra? — ouvi a voz de Sara chamando da entrada da sala, com um tom de preocupação.
— AQUI! — gritei, esperando que ela me ouvisse, com os olhos ainda fixos em Alice.
Quando Sara finalmente entrou na sala, percebi o sangue escorrendo de suas mãos. Sua pele estava pálida como a de um vampiro, uma presença etérea que parecia pairar entre o real e o irreal.
Ela avançou lentamente, os passos ecoando pelo chão de madeira. O silêncio entre nós era quase palpável, quebrado apenas pelo gotejar sutil do sangue que caía de suas mãos. A cada passo, parecia que o mundo ao nosso redor se tornava mais sombrio, como se a própria sala estivesse absorvendo a escuridão que emanava dela.
Quando ela finalmente parou diante de mim, seus olhos encontraram os meus. Havia algo neles que me fez estremecer — um vazio profundo, quase abissal.
— O que aconteceu? — perguntei, tentando manter a voz firme, mas sentindo a inquietação se enraizar no fundo do meu peito.
Sara hesitou por um momento, como se pesasse as palavras. Quando finalmente falou, sua voz era baixa, quase um sussurro.
— Eu... eu não sei — ela começou, os olhos se desviando para as mãos ensanguentadas. — Foi como se algo tomasse conta de mim. Não me lembro de como isso aconteceu, só... só sei que não consegui parar.
Olhei para as mãos dela, feridas profundas cortando a pele, e senti um arrepio percorrer minha espinha.
— Precisamos cuidar disso — murmurei, mais para mim mesma do que para ela.