CAP.1 | 02 - Eis O Teu Cavaleiro

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Amélia acordou num solavanco assustado. Estava confusa, exausta. Cederic a acalmou e sanou suas dúvidas, e então explicou para ela onde estava, por que estava e com quem veio. Amélia não poupou lágrimas quando se lembrou.

Ela conhecia Cederic, era um homem bondoso. Prestava serviços no castelo, sob a tutela de seu pai. Várias vezes fez remendos em sua pele quando ela era criança e ousava se aventurar na floresta ou no solo áspero do pátio do castelo.

— Só restou você? — indagou o curandeiro.

— E mais algumas outras pessoas... sim. Vi elas fugirem. Não sei pra onde.

— Os camponeses foram acolhidos dentro da igreja — Cederic fechou os olhos solenemente —, meus pupilos estão tratando deles, não se preocupe. Em sua grande maioria, são apenas queimaduras leves e pequenos cortes. Ficarão bem.

Ela apertou os lábios e mais uma lágrima lhe escorreu no contorno do rosto.

— Ainda bem.

— Eu sinto muito, senhorita. Sinto mesmo.

Eles foram interrompidos pela porta se abrindo. O cavaleiro de antes, Ludwig, descia as escadas com algo embalado nos braços. O clang, clang, clang da armadura ressoava baixo quando ele andava. Seu rosto era bem esculpido, com características nobres. Tinha dois olhos castanhos e sérios. Sobre a cabeça, um ninho de mechas bagunçadas castanho-claro que iam até abaixo das orelhas. Seu maxilar estava coberto por uma barba juvenil com não mais que dois centímetros, e um bigode falho que não se interligava com a barba.

— Ah, ela acordou. Como tá se sentindo?

— Melhor — ela respondeu, num misto de confusão e timidez.

— Hm.

Cederic olhou para a garota. Amélia meneou a cabeça.

— Você a reconhece?

O cavaleiro pareceu confuso, lançando-lhes uma arqueada de sobrancelha.

— Eu deveria?

— Sim, sir.

— Não.

— Imaginei que não — Cederic ficou em pé. — Um cálice de prata alado sobre fundo roxo, isso lhe atiça as memórias, sir?

— Sim — pigarreou. — É algum símbolo estúpido de alguma família. Dos Kayleigh, eu acho.

Amélia sentiu uma pontada no coração ao ouvir aquilo.

— Dos Kayleigh. E você, sir, é quem eu penso que é?

— Quem pensa que eu sou?

— Ludwig Lumber, o caçula de Brayden Lumber.

— E como sabe disso?

— Seu pai não te contou sobre a época que serviu aos Kayleigh? — respondeu o outro, como que evitando a pergunta.

— Conheço a história.

— Considera os juramentos sagrados, sir?

— Tem algo que quer me contar. Conta logo.

— Serei breve. Responda, por favor.

— Sim, os juramentos são sagrados.

— Então, tenho certeza que se lembra do juramento que fez para com os Kayleigh.

— Não fiz juramento nenhum.

— Eu fui uma testemunha desse juramento, sir.

— Não sei do que está falando, sinceramente.

— Após uma década de serviços leais, Lorde Kayleigh dispensou o senhor seu pai do posto de comandante com honrarias e terras para além do Arado. Porém, antes disso, fez teu pai juramentar-se à família Kayleigh. Eles eram grandes amigos, seu pai e Lorde Kayleigh. Sob a bênção dos deuses, eles juraram um pacto, prometendo que, se chegasse o dia em que uma das famílias precisasse de ajuda, a outra estaria ao seu lado. Os Lumber, de certa forma, tornaram-se praticamente vassalos da Casa Kayleigh, um elo de lealdade que perduraria através das gerações.

Ludwig pareceu pensar por alguns instantes antes de responder:

— Ouvi meu irmão mais velho falar algo parecido uma vez. Todos fizemos este juramento, mas e daí? Estão todos mortos a esta altura.

— Ainda não, sir. Esta, que vedes com teus próprios olhos, é tua senhora, Amélia Kayleigh — ele virou-se para a menina. — Eis aqui, milady, tua última espada. Eis aqui o teu cavaleiro.

Às Minhas Lágrimas e ao Teu SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora