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— Por que escondeu isso de mim?! — Sn perguntou, com o tom alterado e encarando a mãe com fogo nos olhos.

— Não admito que fale assim comigo, Sn! — A Rainha berrou, batendo a mão na mesa à sua frente.

— Eu tô pouco me lixando para o que você admite que eu faça! — A jovem rebateu exalando a fúria na voz. — Quero saber porquê você a escondeu de mim e de todo o reino!

— Minha filha, esse assunto é muito complicado. — A mulher mais velha disse baixando o tom de voz e mudando completamente a expressão para uma bem mais calma. — Por que não se senta?

Ela apontou para uma das cadeiras vermelhas dispostas atrás da grande mesa polida de madeira preta que estava à sua frente.
Sn respirou fundo e entrando no joguinho da mãe, puxou a cadeira da esquerda e sentou-se.

— Quando quiser.

— Sa, tente entender meu lado.

A Rainha de Copas havia começado seu jogo de manipulação que a filha conhecia bem.

— Mãe, corta essa! — A mais nova disse, interrompendo o monólogo que a Rainha iniciara. — Só me dê a explicação verdadeira e rápida da história toda.

Após um longo suspiro, a governanta do País das Maravilhas encarou a filha no fundo dos olhos.

— Como preferir, querida. — Ela mostrou um sorriso cínico e continuou: — Quando aquela Fera horrenda nos prendeu naquela ilha fedorenta eu passei os primeiros anos lá tentando me tornar a nova rainha do lugar, mas desisti após a Malévola conseguir realizar esse feito.

Sn escutava tudo com atenção esperando a parte da história em que sua mãe mentiria para ela a fim de se vitimizar.

— Após isso, acabei me envolvendo com o seu pai e dei à luz a você. Oito anos depois, estava entediada novamente, você vivia mais na rua do que em casa e eu não tinha mais esperanças de sair da Ilha dos Perdidos. — A mulher deu uma breve pausa para respirar e pensar no que diria a seguir. — O Valete, você sabe, chefe do meu exército, sempre esteve ali, ao meu lado, cuidando de mim.

Sn já sabia aonde essa história ia chegar e a mãe não parecia estar mentindo em momento algum.

— Tivemos algumas relações casuais, mas fomos descuidados e eu engravidei novamente.

— Como você fez para esconder a barriga de mim? — A mais nova perguntou com as sobrancelhas franzidas.

— Nos primeiros meses eu continuei vivendo normalmente. Você quase nunca estava em casa e muitas vezes dormia na Célia, então foi fácil não te deixar perceber. — A mulher contou encarando a filha. — Mas no último trimestre da gravidez não tinha como esconder mais, então, eu inventei uma viagem qualquer que durasse até o dia do parto e te deixei sozinha em casa.

— Eu lembro disso... — Sn disse num sussurro quase inaudível e, então, voltou-se para sua mãe: — Mas depois de três meses você voltou, e estava sozinha.

A Rainha balançou a cabeça, concordando com a afirmação da filha.

— Deixei a criança para o Valete criar e voltei para casa. — Ela contou. — Não mantive contato com nenhum deles até o dia que você foi para Auradon. Com a barreira quebrada, eu pude voltar ao País das Maravilhas e criar a menina aqui, longe de todos.

— Você é louca. — Sn falou encarando a mãe já com os olhos marejados.

— Não, minha filha, eu só pensei no que era melhor para as duas. — A Rainha sorriu e Sn teve vontade de tirar aquele sorriso cínico do rosto dela, mas se conteve.

The Villain Kid - the lost Hearts.Onde histórias criam vida. Descubra agora