Após checar o relógio e ver que já tinha dado a hora do intervalo, foi mais rápida que os alunos e caminhou até a porta, parando por ali até que todos tivessem saído com a exceção de uma, que sempre ficava.
Para o seu desagrado, Elizabeth tinha arranjado uma nova amiga e estava tudo bem até então, caso já não tivesse notado que a moça dava alguns sinais de quem queria algo a mais. Era ciumenta sim, mas não a ponto de se revoltar por qualquer coisa, seu lado racional sempre falava mais alto e a fazia baixar a bola, tão controlada que as vezes, quem se relacionava consigo, pensava até que ela nem sequer se importava. Porém algo mudava agora, quando o assunto era Elizabeth, ter um relacionamento escondido e a tal amiga realmente estar dando em cima.
Disfarçou mexendo no celular, andou e se sentou em sua cadeira, às vezes seu olhar era lançado por cima do óculos de lentes pequenas e se cruzava com o da aluna, que já sabia o que sua amada estava sentindo no momento. Foi inevitável o suspiro de incômodo quando ouviu as gargalhadas que surgiram enquanto assistiam um vídeo qualquer.
— Tô com fome. — A outra disse, levantando-se. — Vamo ali comprar algo pra comer? — Sugeriu oferecendo a mão de apoio para a loira segurar e levantar. — Ou, se quiser, a gente pode ir pra outro lugar...
— Ah... — Pareceu então entender sobre o que a nova amiga falava, até ergueu as sobrancelhas. — Tô cansada, vou ficar por aqui mesmo, preciso fazer uma ligação pra minha companheira. — Fez questão de evidenciar que estava em um relacionamento.
— Tá certo então. — Sorriu educadamente tentando não demonstrar sua frustração e seguiu até que abandonasse a sala, fechando a porta.
O silêncio restou, Dalila seguia mexendo no celular como se não tivesse mais ninguém ali, percebendo que estava sendo escancaradamente encarada continuou na mesma posição até se assustar com a chamada no celular que a fez devolver o olhar, confusa.
— Alô? — Surgiu do outro lado da linha quando atendeu a ligação.
— Oi. — Respondeu franzindo o cenho, mas sem desligar.
— Boa noite, coisa linda. — Beth desejou docilmente, amansando a voz como sempre fazia pra ela. — Te liguei na hora da aula? Te atrapalho? — Resolveu atuar, se despojando na cadeira.
— É hora do intervalo agora. — Queria ver até onde ela ia chegar, então deu corda.
— E você tá bem? Tô te achando um pouco séria. — Pontuou atenta e ouviu um suspiro.
— Situações adversas e comentários que eu preferia não ouvir. — Confessou, recostando-se na cadeira e cruzando as pernas longas.
— Lhe aborreceu muito? — Sua meta era continuar até que achasse uma brecha maior.
— Muito é demais. — Disse seriamente. — Não é tão fácil me tirar do sério.
— Há de passar então. — Garantiu mexendo no mesmo pratinho de salgados que a professora também tinha na mesa. Haviam feito uma surpresa para um aluno e ambas tinham ganhado os petiscos. — Queria dizer que estou com saudades de você. — Se declarou baixinho. — Ainda está de preceito? — Era sua curiosidade, porque sua companheira havia ficado recolhida por alguns dias e neles não podiam se ver ou se falar, ela nem sequer pegava no celular e só saía do terreiro para o trabalho. Essa era a preparação para rituais ou festas.
— Não, já acabou. Estou até usando roupa de cor. — Conteve a risada quando observou a loira comemorar com a notícia de que podiam ter contato agora.
— E o Blé, como que foi? — Usou da abreviação de "Candomblé" que Dalila sempre utilizava para se referir ao festejo, a fez sorir e notou isso.
— Foi maravilhoso, eu estava com saudade. — Comentou voltando a se mostrar sentimental, deixando seu lado ciumento para trás. — Mas também não vi muita coisa, Iyá Oxum logo chegou... Não escapei, estava na energia dela antes de pisar no terreiro, não demorou muito para que outro orixá percebesse e me virasse. — Agora que sua companheira tinha mais noção de como aconteciam as coisas, sentiu-se mais a vontade de comentar sobre. — Amo-a, é muito bom senti-la tão próximo, dá uma repaginada na alma.
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Olhos de mar, céu e estrelas - Lésbico.
RomanceElizabeth desde a sua infância tem sonhos questionáveis com pessoas específicas a quem não conhece, mas a medida em que foi crescendo, receber a visita de uma determinada moça por meio dos seus devaneios tornou-se bem mais frequente. Como não podia...