8. O Último Verso

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Insegurança. Sensação de não estar seguro.Sentimento de desamparo. 


Sim, eu senti insegurança. insegurança de não prever areação dela. Insegurança de me faltar palavras.Insegurança da emoção me tirar para dançar e a razãoobservar sem poder fazer nada.


 Ao longo dos meses, a vi e, como sempre, ela estavalinda, cada dia com uma roupa nova que combinavaperfeitamente com sua maquiagem.


Toda vez que ela olhava para mim — com aquelesolhos castanhos — eu sentia o meu mundo congelarpor alguns instantes. 


Ela olhava para mim e eu olhava para ela. Era como seo tempo parasse ali e que — nós dois — pudéssemosconversar apenas com o olhar, sem utilizar palavraalguma para expressar emoção.


Cada encontro — por mais breve que fosse — setransformava em uma poesia silenciosa. Na ausênciade palavras, encontrei uma verdade mais profunda,uma verdade que foi escrita nesse livro.


Ela, a Garota da Rua 10, morava em meuspensamentos, era a musa silenciosa que inspirava omeu lado poético e que seduzia a minha inspiração.


Me faltou coragem para ir falar com ela? 


Sendo bem sincero, não. 


Senti um outro tipo de coragem: a coragem de sentirsem possuir, de admirar sem perturbar, de contemplartudo aquilo que não é falado, mas sentido. 


Cada ausência de palavras ditas, se transformava emum verso profundo. 


Eu sabia inconscientemente queaquele momento, não era o momento; que aquelagarota, não era a garota. Eu sabia que não podia. Aminha razão venceu a luta contra a emoção. E não meculpo por isso e nem sinto magoa. 


A verdadeira poesia, sempre esteve na contemplação,na aceitação de que nem todas as histórias precisamser verbalizadas para serem sentidas.


A vida seguiu seu curso e os nossos caminhos sesepararam, mas ela ainda permanece viva em cadapoema e em cada lembrança que aqui foiinternalizada. 


A Garota da Rua 10 me ensinou que algumas paixõessão destinadas a serem silenciosas, a viver naexpectativa do que poderia ter acontecido. A viver nasentrelinhas do "e se". 


Dessa forma, com esse último verso, celebro essaverdade: A poesia do silencio. A poesia do não dito. Abeleza de uma paixão não declarada. 


Talvez, algum dia, eu a encontre novamente pelomundo e possamos viver tudo aquilo que os nossosolhares sussurraram. 


E quem sabe essa história não termine em um pontofinal...

A Garota da Rua 10Onde histórias criam vida. Descubra agora