Peito de peru

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Cecília's POV

A festa havia acabado, estavamos eu e Selena no carro indo até minha casa. Eu cantarolava as músicas que passavam na rádio junto de Selena, era um clima divertido e animado.

Quando entramos em casa, vejo Selena ir na cozinha e a sigo.

– Tô com uma fome enorme, tem o que para comer aqui? – Selena diz mexendo na geladeira

– Nem eu sei direito, quase não fico aqui, mas acho que tem peito de peru e pão, se quiser fazer igual daquela vez.

– Ué, cê pediu pro Tiquinho comprar peito de peru agora? Pensei que ele só comprava mortadela – Selena diz e posso sentir seu tom de voz mudar

– Não foi ele, eu comprei hoje de manhã porque eu sabia que você ia vir hoje. Embora a gente estivesse brigadas, algo me dizia que eu devia comprar. – Digo e vejo Selena pegar o peito de peru, pelo visto ela estava fazendo mesmo o pão.

Fico observando Selena fazer, eu sabia que se tentasse ajudar mais ia atrapalhar por ser bastante atrapalhada, principalmente na cozinha. Era incrível como Selena não havia ângulo ou momento ruim, ela sempre estava linda não importa o que ela estivesse fazendo e eu fazia questão de admira-la.

De repente, acaba caindo a ficha do nosso beijo. Eu estava tentando ignorar esse fato, mas agora sem nada para ocupar minha mente, finalmente a ficha caiu, eu beijei Selena duas vezes. Uma parte de mim está em festa e a outra parte está em um enorme caos, tudo que eu senti naquele beijo, não fora sentimentos de um beijo qualquer e isso era algo esquisito.

Quando eu beijo Tiquinho, por exemplo, eu me sinto feliz e é gostoso a sensação de beijá-lo, mas não passa de um beijo qualquer. Agora quando eu beijei Selena, meu corpo inteiro estremeceu e tudo que eu senti foi único, eu me sentia conectada com a garota e o jeito que tudo encaixou foi mágico. Ninguém nunca havia me feito arrepiar do mesmo jeito que Selena havia feito e meu coração nunca bateu tão rápido igual ele batia, nem mesmo em ações meu coração ficava do mesmo jeito que ele ficou, fora que a sensação de beija-la era viciante e cada vez mais eu me sentia presa a ela. Em resumo, foi um misto de sentimentos intensos que eu nunca havia sentido antes.

Além disso, algo em mim me dizia que aquele beijo não significava apenas um beijo entre amigas igual com o Azumi, nem como uma ficada qualquer, era como se esse beijo tivesse um significado superior que eu desconheço e nem tenho palavras para decifra-lo. Devo admitir que isso me traz medo, afinal, esse beijo não podia ter acontecido, muito menos significar algo a mais que apenas um beijo...

– CECÍLIA! – Selena me desperta dos meus pensamentos com sua voz quase gritando

– Ai meu deux, que susto! O que houve?

– Meudeus, Cecília, você tava no mundo da Lua. Eu tava te chamando a um tempão e você não respondia, eu fiz o pão, cê vai querer também, né? – Ela diz estendendo o outro pão

– Ah sim, obrigado, Se. – Pego o pão e dou uma mordida, Selena estava fazendo o mesmo.

– Você pede apenas pra mim esse pão com peito de peru? O ticu não poderia fazer pra você?

– O lance do Tiquinho é mais pão com mortadela e, mesmo assim, ele não saberia fazer igual o seu. – Digo e vejo ela sorrir convencida, mas ao mesmo tempo ela aparentava estar irritada

– E ele faz pra ti todo dia? Cê deve amar mesmo mortadela – Ela diz desconfiada

– Não é porque eu como todo dia com mortadela que é o meu favorito, eu prefiro bem mais peito de peru, sabia? Uma tristeza que eu só posso comer 1 vez por semana.

– Então você prefere peito de peru do que mortadela? – Selena diz com um olhar convencido

– Com certeza, eu adoraria comer mais vezes.

Nós nos olhamos por um tempo em silêncio, acho que nós duas sabíamos que essa conversa não era sobre recheio de pão no final das contas.

Nós estava um silêncio confortável enquanto comemos, era bom ter a companhia de Selena até sem falar nada, isso era a minha maior saudade desde que ela foi morar em outra cidade. Acabo percebendo que Selena estava do meu lado quando ela apoia sua cabeça no meu ombro, com o tempo acho que ela foi pegando a minha linguagem do amor e sempre que possível eu ou ela tentamos ficar pelo menos um pouco encostada na outra.

Quando terminamos de comer fomos colocar uma roupa mais confortável, Selena estava usando um pijama meu e, devo confessar, ficou bem melhor nela do que em mim. Quando já estavamos prontas, decidimos apenas ficar sentadas na cama para jogar conversa fora antes de dormir.

– O que você achou de hoje? – Selena me pergunta

– Eu diria que foi cheio de emoções e o seu? Já chegou no vanila arrasando com todos. – Digo vendo ela sorrir

– O mesmo que com você, mas devo admitir que estou aliviada de termos nos reconciliado. Falando nisso, cê já falou com o Tomate? – Ela parecia preocupada com algo

– Eu mandei mensagem falando que nós conversamos e que eu daria mais uma chance para vocês, ele pareceu feliz, por que a pergunta?

– Sei lá, ainda tenho a impressão de que tinhamos que conversar como trio para acertar as coisas, agora que a ficha caiu. Principalmente sobre o que rolou lá no vanila, né... – Ela diz e meu coração acelera só de lembrar, ela estava se referindo ao nosso beijo.

– Nós podíamos tentar marcar uma conversa com ele, sei lá. Porém digamos que eu já tenha contado do beijo... – Vejo sua expressão surpresa

– COMO ASSIM, CECÍLIA? – Ela grita apenas pela surpresa

– Aí como eu digo... – Qualquer descuido e eu poderia acabar vazando algo perigoso – Lembra que depois que a gente se beijou, eu tive que atender uma ligação?

– Lembro, achei que cê tava falando com o Ticu – vejo ela revirar os olhos, ela realmente odiava meu ficante

– Não era ele, era com o tomate mesmo. Ele tinha me ligado para confirmar que ele não estava sonhando – dou uma pausa para rir – só que digamos que eu ainda estava meio desnorteada por conta de... você sabe... ele percebeu e me questionou. Eu não ia esconder isso dele, né, então eu só contei.

– E a reação dele? Ele não ficou chateado, não sei – Ela parecia preocupada, havia algo sendo escondido

– Ele na real disse que pelo menos agora a gente resetou tudo, né? Já que eu te beijei e ele te beijou, não reconheci nenhuma tristeza ou qualquer outra coisa de tipo na voz dele não. O que você tá escondendo, Selena?

– É que assim, quando eu contei pro Tomate da conversa que tivemos na Nasser, digamos que ele tentou me beijar denovo, porém eu recusei por sua causa, já tinha feito a mancada uma vez, não ia fazer denovo. Aí fiquei com medo dele achar injusto, sei lá, ainda mais porque foi mais de um, né? – Ela diz e eu acabo recebendo um leve baque

O Tomate tentou beijar a Selena mesmo sabendo do que eu sentia por ela? É, eu e ele precisávamos conversar bastante, ainda mais depois dessa.

– Ah, entendi, mas acho que ele não ficaria triste, sei lá. – Tento não transparecer meu desapontamento para Selena, porém era inevitável

– Ele foi um merda fazendo isso, não é? Eu falei isso pra ele e só depois que a ficha dele caiu, nosso amigo faz muita coisa sem pensar – ela dá uma pausa, sua expressão era pensativa – Podemos concluir que o Tomate é um galinha, né?

– É estranho pensar que ele é assim, isso é coisa de homem e o Tomate não costuma fazer coisa de homem – Digo e vejo Selena rir

– Bom, ele não deixa de ser um, né. – Ela diz e vejo um ar triste sair dela – Quer saber o porquê eu beijei o Tomate aquele dia?

– Claro, nós somos amigas, conta tudo. – Eu sentia um embrulho em meu estômago surgir, eu odiava quando Selena falava de seus peguetes, mas eu não podia fazer nada além de apoiar e proteger ela.

Amor TraumatizadoOnde histórias criam vida. Descubra agora