sombras do passado - Capítulo 2

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(Flashback: Christian | Sala de estar)

Sentado no sofá, olhando para os seus pais com um olhar de confusão, Christian se perguntava qual era o intuito da conversa. Sua mãe havia o acordado cedo, antes do despertador tocar, alegando ter algo sério para falar. A mulher ali presente, possui um olhar aflito e seu pai, Murillo, já estava estressado logo pela manhã - como sempre. Sua mãe senta ao seu lado, apoia o braço no encosto do sofá e solta um suspiro alto.

– Christian, eu e seu pai te chamamos para ter uma conversa séria.– A mulher diz séria.

Transmitindo confusão pelo olhar, Christian se ajeita sobre o encosto do sofá e diz: –  E então... podem dizer, não quero me atrasar para a aula.

Murillo enche um copo cheio de whisky, levando aos lábios e percorrendo o ambiente até soltar um olhar cúmplice para Valentina que parece que  o entende pelo olhar.

Valentina solta um suspiro estressada e diz – Christian Vasconcelos, tenha mais educação a se pronunciar a mim e seu pai.

Christian Revira os olhos e cruza os braços, adquirindo um olhar de malcriação e se pronuncia – Me perdoe. Mas será que podem dizer logo pra que me chamaram?

Valentina Concerta sua postura e coloca a mão no cabelo do seu único filho. Estava sentida, conhecia o filho malcriado que tinha, seria uma luta até convencê-lo.

– Eu sei que vai dizer que não, mas eu sei do seu... Interesse pela caçula da família Diniz e como sua mãe, digo que proíbo isso!

Christian Arregala os olhos, levanta do sofá em um pulo e diz em um tom alto e rude: – Não entendi, o que tem demais? Helena é uma menina dedicada, estudiosa e ainda veio de uma ótima família. Não admito que use essa palavras para se referir a ela assim.

A mulher ali presente também se levanta, apontando o dedo para o jovem ali na frente

– Eu não aceito! eu abomino que essa menina faça parte da nossa família, Christian!

O moreno arregala os olhos e dá um passo para ficar mais perto da mãe. –  E por quê, mãe? Eu acho que isso não é só gostar e sim algo a mais relacionado... Diga agora!

Valentina levanta a mão para dar um tapa certeiro em seu rosto pela insinuação do filho de cabelos escuros, mas sua mão é impedida por Murilo que segura seu pulso com firmeza, sem machucar.

Murilo Diz em alto e bom som – Já chega! Isso é uma conversa, não uma briga. – ele convida a mulher ali a se sentar e pedindo calma, beijando sua bochecha.

Todos voltam a se sentar no sofá e o clima se torna incomodo de novo. Christian sabia o que realmente aquilo significava, não era porquê a menina não era boa pra si, mas sim pela cor de pele e aparência. Afinal, sua mãe sempre falou de Cecília (mãe de Helena) fazendo insinuações racistas sobre sua aparência e não concordava. Possuía sim uma paixão por Helena, mas acima de qualquer sentimento, tinha um carinho especial pela cacheada.

Murilo olha o filho com um olhar sério, transmitindo toda sua falta de paciência : Christian, começamos errado. Já que sua mãe não foi clara, eu irei ser. Nós pensamos bem e seria ideal que você tivesse um relacionamento com a senhorita Clarice, já que ela é mais velha e futura herdeira da família Diniz.

Christian não podia acreditar no que escutava; a revelação de seus pais o deixou em choque. Desde pequeno, ele sempre notou a obsessão deles por bens materiais e status, mas nunca imaginou que essa ganância os levaria a trair seus próprios princípios. Enquanto seus amigos compartilhavam histórias de amor e sacrifício familiar, ele se sentia preso em um lar onde o dinheiro falava mais alto que qualquer laço afetivo. A frustração crescia dentro dele, fazendo-o questionar se realmente valia a pena lutar por uma conexão genuína em meio a tanta superficialidade. O desespero de Christian aumentava ao perceber que, em vez de apoio e amor, tinha como referência um casal que só pensava em si mesmo e em como acumular mais riqueza.

Christian massageia a testa, estressado pelo rumo da conversa em que seguia e diz de forma firme, referindo seu olhar feio e firme parecido com seu pai: – Não aceito, não quero e não vou fazer vocês dois me fazerem ficar com a pessoa que não sinto nada!

A tensão pairava no ar como uma nuvem pesada, enquanto Christian permanecia sentado no sofá, os olhos fixos na mesa de centro ali presente. Valentina, com um olhar determinado, tentava convencê-lo mais uma vez.

– Christian, você precisa entender que isso é o melhor para nós! – Insistiu ela, gesticulando com as mãos. –  A família Diniz é respeitável e tem um bom nome na cidade. Pense no futuro!

Murilo, ao seu lado, acrescentou com um tom de voz persuasivo:

Murilo Diz com o tom de voz severo: – É uma oportunidade única! A decisão será tomada na segunda-feira. Pense como o homem, você já possui 18 anos.

Christian respirou fundo, sentindo a pressão aumentar nos ombros. Ele olhou para os pais, percebendo a frustração em seus rostos.

O moreno adquire uma expressão raivosa : – Eu não posso fazer isso! Não quero namorar alguém só porque vocês acham que é o certo. Isso não é amor.

O silêncio tomou conta da sala por um momento, e Valentina trocou um olhar preocupado com Murilo. A ideia de perder a chance de se unir à família Diniz parecia insuportável para eles.

Valentina se aproxima do filho, posando a mão no ombro, em sinal de apoio. – Mas e se você simplesmente der uma chance? — Tentou novamente, sua voz mais suave agora. — Você pode acabar gostando dela!

Christian balançou a cabeça, sentindo-se encurralado.

O mais jovem bate as mãos na mesa, se levantando dando o sinal de que a conversa estava encerrada.

– Não é sobre gostar ou não; é sobre ser forçado a algo que não quero! Eu preciso ser verdadeiro comigo mesmo.

Os pais trocaram olhares significativos, percebendo que a resistência do filho era mais forte do que imaginavam. O jantar de segunda-feira se aproximava e a pressão aumentava, mas Christian sabia que sua decisão era um reflexo de quem ele realmente era. E isso era mais importante do que qualquer aliança ou status social.

(Fim do flashback | Christian carro)

As lembranças ainda o perseguiam.
Christian acelerou o carro pela estrada deserta,  fumando mais um cigarro, a música tocando suavemente ao fundo, mas sua mente estava longe das notas alegres. Ele olhou pela janela, observando as árvores passarem rapidamente, como se tentassem fugir de seus pensamentos sombrios.

Lembranças de Helena invadiram sua mente, trazendo um aperto no coração. A forma como eles costumavam rir juntos, os segredos compartilhados e os planos para o futuro pareciam tão distantes agora. Ele se lembrou da última vez que a viu, quando as palavras duras escaparam da boca dela como flechas envenenadas.

Aquelas palavras ecoavam em sua cabeça enquanto ele dirigia. Como ele poderia explicar que não tinha escolha? Seus pais, Valentina e Murilo, sempre tão focados em status e aparências, haviam pressionado Christian a se envolver com Clarice. O que começou como uma simples sugestão logo se transformou em uma imposição que ele não sabia como contestar.

— Eu só queria ser feliz! — murmurou para si mesmo, batendo levemente no volante com a palma da mão.

Christian se lembrava do dia em que contou a Helena sobre o envolvimento com Clarice. O olhar dela havia mudado instantaneamente de amor para desprezo, como se um muro tivesse sido erguido entre eles. Ele sabia que Helena o via como um traidor, alguém que trocou seus sonhos por obrigações familiares.

— Eles estragaram tudo... — pensou, sentindo uma raiva crescente por seus pais e por si mesmo. Como ele poderia ter deixado isso acontecer? A imagem de Helena, agora cheia de ódio e ressentimento, o acompanhava em cada curva da estrada.

Com o coração pesado e a mente agitada, Christian decidiu que não podia mais viver à sombra das expectativas dos outros. Ele precisava encontrar uma forma de reconquistar Helena e mostrar que ainda havia um pouco do garoto apaixonado por trás da máscara que forçaram a usar. A estrada à frente parecia longa e incerta, mas ele estava determinado a mudar seu destino.



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