Mariane.
Que mega presente de dezessete anos que eu ganhei! Parece até mentira, mas corta a parte em que eu recebo feliz aniversário dos meus pais pra parte em que eu ouço a notícia que meu pai havia se acidentado no trabalho. Meu pai é metalúrgico e trabalhava numa empresa dessas multinacionais e por alguma ironia do destino ele caiu dentro de um tanque aquecido. O que causou queimaduras de segundo grau em quase noventa por cento de seu corpo.
Ele foi levado pro hospital e como a minha mãe não estava no seu melhor juízo, eu tive que ir acompanhar ele no hospital. Eu sou a filha mais velha, então tudo o que acontece em casa e fora dela segundo a minha mãe, a culpa é minha. Não sei o que ela tem contra mim, mas desde pequena ela não me trata tão bem quanto deveria. Os olhos dela só brilham pra Lúcia.
É a vida, não é?! Poderia até desconfiar que eu não fosse filha dela de sangue, mas infelizmente eu pareço muito com ela, principalmente pelo fato de eu ter olhos verdes igual a ela. Diferente da minha irmã que possui os olhos castanhos.
Era pouco mais de seis da manhã, quando sedaram meu pai totalmente pra poder trocar o curativo. Logo após isso, nada eu poderia fazer, então me sentei por mais algum tempo e esperei o tempo passar enquanto orava baixo.
— Você não quer café? - uma mulher que estava acompanhando um cara ao lado do meu pai perguntou.
— Não, obrigada. - sorri sem mostrar os dentes.
— O que aconteceu com ele?
— Caiu num tanque aquecido, ele é metalúrgico.
— Nossa, eu sinto muito. - deu uma pausa - Deus é com vocês, ele vai se recuperar.
— Eu tenho fé que sim, obrigada.
— Olha, eu queria que você me fizesse um grande favor e eu ficaria muito grata.
— Qual? - estranhei.
— Eu preciso ir até a casa da minha patroa dar satisfação pra ela da situação do meu filho, enquanto meu filho mais velho não chega, você poderia olhar o Orlando pra mim? - apontou pro cara que estava dormindo.
— Posso sim, não tem problema não.
— Eu te agradeço muito. - sorriu.
— Não há de quê.
Ela pegou a bolsa e saiu da sala que estávamos e eu olhei bem pra cara do tal Orlando que estava dormindo. Pelo comprimento de sua cabeça até os pés, se tratava de um negão alto, de ombros largos e lábios carnudos.
Os minutos foram se passando e ele começou a suar muito. Ele ainda estava de olhos fechados, se tremia todo e ainda falava coisas sem sentido. Fiquei assustada e tomei a liberdade de colocar a mão em sua testa, ele tava queimando em febre. Me desesperei e fui chamar uma enfermeira, um médico, qualquer um que pudesse fazer alguma coisa.
— Você é parente dele? - a enfermeira perguntou após aplicar alguma coisa na veia dele.
— Não, a mãe dele precisou sair rapidinho e me pediu pra olhar ele enquanto ele dorme.
— Ele tá com febre e essa febre se dá por alguma inflamação na cirurgia dele. - disse toda seca enquanto aplicava outra injeção no acesso onde estava o soro - Já está medicado e isso deve dar jeito, quando a mãe dele chegar você avisa. Qualquer coisa, chame alguém ou a funerária.
— Tudo bem, eu aviso. - respirei fundo - Mas acho que essa indelicadeza não seja correta pra uma enfermeira. - olhei séria pra ela - Aposto que ele não queria estar aqui.