001: DESPEDIDA.

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Mαitê Sαlles

Hoje é sexta-feira, 21 de junho de 2024, e finalmente chegou o dia que eu tanto esperei: vou viajar pra São Paulo! Sempre sonhei em morar lá perto da minha irmã Ingrid, que já tá morando lá há mais de seis anos. Oi, eu sou a Maitê Salles, tenho 22 anos e sou de Caruaru, nascida e criada aqui. Tô solteira depois de uma treta com meu ex, que me traiu com outra mina – minhas amigas me contaram todo o babado. Minha meta agora é ser influenciadora! Ainda tô me acostumando com essa ideia de ser conhecida e tô bem feliz com isso. Não que eu seja pobre, porque minha mainha vem de uma família rica, mas sempre quis ter meu próprio dinheirinho, sabe?

E foi com esse meu novo trampo que consegui comprar um apê no mesmo prédio da minha irmã. Ela tá aqui em casa faz duas semanas porque conseguiu uma folguinha do trabalho e resolveu nos visitar e ainda me levar junto! Painho e mainha são separados; painho mora no Rio de Janeiro e já faz quase dois anos que eles se separaram. Na época ele até me chamou pra ir com ele, mas não tive coragem. Sempre fui mais grudada na mainha e nos meus irmãos. Mas agora esse laço tinha que ser cortado e tô quase saindo pra viajar! E olha só: vou pegar um avião pela primeira vez! Tô nervosa sim; na verdade, tô apavorada! Vejo essas notícias de avião caindo toda hora e isso só aumenta meu medo.

Assim que vocês chegarem, me dá um toque, viu? - Mainha falou, toda preocupada. 
Ela tava aflita porque eu ia sair de casa e ir pra um lugar que eu nem conhecia; aliás, nunca tinha saído de Caruaru. 
Pode deixar, mainha, a Maitê sabe se cuidar. - Ingrid tentou acalmar ela. 
Desci as escadas com certa dificuldade porque minha mala de rodinha tava pesada danada, e ainda carregava uma mochila nas costas e uma bolsa de maquiagem na outra mão. 

- Será que tem algum abençoado que pode me ajudar?. ┈ Perguntei parando bem no meio das escadas, vendo meu irmão sentado no sofá mexendo no celular; claro que a indireta era pra ele. 

Meu irmão inclinou a cabeça pra olhar pra mim e revirou os olhos, acho que por preguiça. 

- Te vira aí gabiru. ┈ Ele disse dando um sorriso; já fiquei irritada porque sou assim, me estresso fácil. 

- Mainha, manda ele me ajudar!. ┈ Olhei com aquela cara pidona pra mainha que tava sentada do lado dele. 

Minha irmã Ingrid levantou e veio na minha direção, mas antes deu uma batidinha na cabeça do Ivan que fez dedo pra ela. 

- Vai lá, meu fi, ajuda sua irmã!. ┈ Mandou mainha e o Ivan bufou, largou o celular e veio ajudar. 

Quando mainha manda, tá mandado! Ninguém desobedece ela; não precisa nem se esforçar muito; eu e meus irmãos sempre fomos bem obedientes a mainha e painho. 

- Bora lá, tabacudo! Pega isso aqui!. ┈ Falei provocando meu irmão ao entregar minha mala pra ele.  

Ivan me olhou com uma cara engraçada e ficou zangado.

Ingrid pegou minha bolsa de maquiagem e desceu as escadas passando pelo Ivan, que quase não conseguia carregar a mala de tão pesada que tava. Que porra é essa? Essa mala tá pesada pra caramba! - Não consegui segurar a risada vendo ele descendo as escadas, com as veias do pescoço quase estourando de tanto esforço.

A gente desceu e ele foi direto deixar minha mala no carro que a Ingrid tinha alugado, e ela também foi com o Ivan. Mainha se levantou, os olhos cheios d'água, e isso me fez começar a chorar também. Ah mainha, vou sentir tanta falta daqui de casa! - Falei enquanto puxava ela pra um abraço bem apertado.

- Oh minhaa fia, espero que você se saia bem lá igual sua irmã, viu meu amor?. ┈ Disse mainha entre lágrimas. Eu tava naquela dúvida: ir ou ficar? Mas eu preciso seguir meus sonhos.

- Eu vousim, mainha, não se preocupa comigo não! Além disso, vou morar bem pertinho da Ingrid. ┈ Me afastei pra olhar pra ela e dei aquele sorriso pra confortá-la. Ela sorriu um sorriso triste mas tentava me passar um pouco de alívio.

Aí ouvi alguém correndo em minha direção e me virei pra ver quem era.

- Tata!. ┈ Falei agachando pra pegar minha irmãzinha no colo.

Tatá é minha caçulinha de só 3 aninhos; o nome dela mesmo é Thalia, mas aqui em casa todo mundo chama ela de Tata. Dei um abraço bem carinhoso nela e vi o sorrisão dela; Tata é muito grudada em mim porque eu ajudei mainha a cuidar dela, então ela me vê mais como uma mãe do que como irmã.

A Tata me deu um beijinho na bochecha, toda feliz, tadinha ela é tão inocente que nem percebe que eu tô indo embora.

- Te amo, meu amorzinho. ┈ Eu a enchi de beijos e passei ela pro colo de mainha.

Já tinha até parado de chorar, mas quando vi as duas ali na minha frente não consegui segurar e voltei a chorar, abraçando as duas.

Bora, filha! Se apressa aí que já tá quase na nossa hora. - A Ingrid chegou na sala conferindo a hora no relógio.

Acho que esse é o último abraço, porque não sei quando vou conseguir visitar vocês de novo. Suspirei fundo, enxuguei as lágrimas e tentei manter a pose de mulher forte.

A bênção, mainha! Espero que você venha me visitar logo. - Estendi minha mão pra ela com um sorriso meio triste.

Deus te abençoe, abençoe a viagem de vocês e leve vocês em paz. - Mainha pegou minha mão e deu um beijo; depois eu beijei a dela.

-Amém, mainha. ┈ Falei sentindo as palavras dela como uma proteção pra mim e pra minha irmã.

A Ingrid também pediu a bênção da mainha, que abençoou ela e deu um abraço igual o meu. Saímos lá fora e encontrei o Ivan encostado no carro de novo grudado no celular.

- Tu morre, peste. Passa o tempo todi nesse celular, véi!. ┈ Falei brincando enquanto me aproximava dele, e ele riu balançando a cabeça prestando atenção em mim.

- Vem cá, sua feiosa! - Ele me puxou pra um abraço. ┈  Vai com Deus e dá notícias; não some não!. ┈ Brincou ele, e nós dois rimos juntos.

O Ivan se despediu da Ingrid também.

Eu e a Ingrid trocamos mais um abraço na Mainha antes de entrar no carro. A Ingrid já tava dirigindo, porque eu não sou muito fã de dirigir; meu lance mesmo é pilotar moto, isso sim é minha vibe. Olhei pela janela enquanto a gente se afastava e vi a Tata chorando, tentando sair do colo da Mainha. Tenho certeza que ela queria vir comigo também, fiquei mó triste ao ver ela daquele jeito. A Mainha tentava acalmar a menina, mas ela não parava de chorar. Vi o Ivan pegando ela no colo e levando pra dentro de casa.

Me encostei no banco do carona e cruzei os braços, ainda meio triste, mas bem animada pra chegar logo em São Paulo.

E aí, tá ansiosa pra chegar? - A Ingrid me olhou por um segundo e depois voltou a prestar atenção na rua.

Bastante ansiosa! - Respondi já com mais animação.

Nosso voo saía às duas da tarde e já tava quase na hora. A Ingrid dirigia rápido, desviando dos carros à frente; minha irmã é uma ótima motorista! Se fosse eu ultrapassando assim, era certo que ia bater em tudo.

Só pra falar um pouquinho da Ingrid: ela é uma das melhores advogadas criminalistas que conheço! Ela realmente manda muito bem no que faz e eu tento me inspirar nessa mulher forte e batalhadora que ela é; sempre focada no trabalho e uma esposa incrível também. Ela tá casada há quase um ano com um cara de São Paulo que trabalha como policial. Eu até brinco com ela às vezes sobre como o marido prende as pessoas e ela vai lá soltar!

Bem-vindos, essa é minha vida que está preste a dar uma reviravolta.

Pilantrage · > Raphael VeigaOnde histórias criam vida. Descubra agora