Um eco de solidão

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18 de agosto de 2024

(...)

Eu não sinto mais nada, a tristeza, que era uma velha conhecida, não faz mais visitas; a alegria, que outrora iluminava os meus dias, se apagou como o sol que se põe no horizonte, o nojo e a raiva, sentimentos que costumavam me invadir, agora são meras sombras, dissipadas como folhas levadas pelo vento tempestuoso.

No início, pensei que tudo isso era apenas uma fase passageira, um drama de adolescente, uma tempestade que logo se acalmaria. Mas agora, questiono: por que essa tempestade nunca se dissipa? Por que cada dia que passa eu me sinto mais sufocada neste abismo de vazio?

Cada amanhecer traz o mesmo desânimo, vazio que habita em mim é denso e opressivo, como uma névoa espessa que se recusa a se dissipar, de vez em quando, encontro um prazer sombrio nas feridas que me causam, uma espécie de alívio num mar de indiferença. Quando as lágrimas escorrem, afinal sinto algo – mesmo que a dor seja profunda – é uma emoção, algo que ainda provém do meu ser, mas nunca me machucaria fisicamente; a dor mental, essa é mais satisfatória, um corte na alma que me lembra que ainda estou viva.

Viver é cansativo, o esforço de forçar risadas que não saem, o ato de fingir que estou magoada quando, na verdade, sou apenas um fantasma dos meus sentimentos.

Chorar sem vontade se tornou um ritual sem sentido, uma performance vazia que enceno diante de um palco coberto de poeira.

E no meio do desespero, uma das poucas emoções que conseguem romper o lóbrego silêncio que me cerca é a inveja, por que ela insiste em fazer parte de mim? Por que a prosperidade e a felicidade parecem brilhar intensamente nos outros, enquanto eu permaneço aqui, apagada, invisível?

Eu não suportomais ver aqueles ao meu redor superarem a única coisa que eu acreditava possuir: o talento. É como se todos dançassem numa alegre festa, enquanto eu estou presa em uma sala escura, sem companhia, observando cada passo com um desejo que corta a carne. E assim, me pergunto: o que é que eu fiz para merecer essa constante sensação de inadequação? Essa luta interna que me fere mais do que qualquer golpe físico.

A verdade, então, me acerta com a brutalidade de um punho cerrado: é difícil viver entre sombras, quando o próprio brilho se tornou um mero eco distante.

Aos poucos, a resignação se transformou em uma companhia indesejada, não posso dizer que ela me conforta, mas há uma estranha familiaridade nesse estado de estagnação.

Há algo tranquilizador em não esperar nada do futuro, em deixar de lado a esperança de que um dia a chama interna possa reacender.

Para muitos, a esperança é um farol guiando as almas perdidas, para mim, tornou-se um peso, uma expectativa que só intensifica a queda.

As conversas se tornaram meros diálogos de conveniência, as interações se limitam a sorrisos vazios e respostas automáticas, como se cada palavra trocada fosse um cálculo matemático.

Ninguém parece notar a profundidade do meu silêncio; ninguém parece perceber o grito ensurdecedor que ecoa dentro de mim. Eles seguem em suas vidas, absortos em preocupações cotidianas, enquanto eu me vejo me afundando cada vez mais nas águas geladas do meu ser.

Às vezes, me pego pensando em como seria abrir as portas do meu coração e deixar a luz entrar novamente, mas a ideia é assustadora, a vulnerabilidade que isso implica é uma armadilha, um convite à dor, e eu já estou tão cansada de sofrer, ao mesmo tempo, é difícil não me sentir como um naufrago, à deriva em um mar de eventos que não fazem sentido e emoções que não sinto.

Por que não posso ser como eles? Por que não posso dançar e rir sem o peso de uma fortaleza invisível em meu peito? É um fardo que muitos carregam sem perceber, mas para mim, se tornou um monumento de solidão.

O eco do meu próprio desespero ressoa em cada canto da minha mente, criando uma sinfonia dissonante que não posso silenciar.

E, assim, me pergunto, será que essa escuridão é o meu destino final? Um dia, murmurarei ao vento essa interrogação, na esperança de que, quem sabe, uma resposta chegue até mim, será necessário arriscar mais uma vez? Ou ficarei aqui, presa, encarcerada por medo e incerteza, sem a coragem de dar um passo em direção à luz? O dia em que eu decidir encarar essa verdade pode ser o dia em que todo o peso se tornará insuportável, ou talvez o dia em que a metamorfose, por fim, se dará.

Mas, por agora, permito-me apenas existir neste limbo, onde os ecos da minha própria vida se misturam com a brisa sussurrante da indiferença, porque, no fim, existem momentos em que simplesmente viver se torna a resistência mais verdadeira e necessária que posso oferecer a mim mesma.

(...)

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☆Me desculpe se tiver algum erro, só revisei 2 vezes.☆

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