capítulo 7

58 10 0
                                    

Duda devia ter voltado para o apartamento.

Devia ter seguido o lado racional da sua consciência que dizia que era melhor sentar no sofá e assistir o próximo episódio de Dexter até o momento de livrar-se de Rosamaria Montibeller chegar.

Só que, ao invés disso, ela se deixou convencer a dar uma voltinha pelo parque de diversões do bairro. Estavam fazendo o caminho de volta quando avistaram de longe as luzes da roda gigante e a nostalgia lhe atingiu como um taco de beisebol. Aquele lugar era pré-histórico; guardava memórias nunca visitadas da infância de Duda em cada um dos brinquedos de segurança duvidosa.

Tinha gente por todos os cantos, o que não era nada incomum para um sábado à noite, mas a aglomeração de corpos deixava a mercenária zonza. Aquelas luzes coloridas piscando diante dela, as conversas e risadas altas e o cheiro de pipoca doce bagunçavam seus sentidos. Já tinha esbarrado em pelo menos umas três crianças pequenas, tentando abrir o caminho até a barraquinha de tiro ao alvo.

— Você sabe atirar? — perguntou Eduarda, assistindo Rosamaria tomar posse de uma das espingardas falsas.

— Eu não preciso — respondeu ela, erguendo a arma na altura dos ombros. — Mas sim, eu sei.

O rapaz que tomava conta do estande olhou a loira com um quê de incredulidade; isso até Rosamaria derrubar o primeiro alvo. Um sorriso presunçoso formou-se no canto dos lábios dela à medida que não errava nem uma vez sequer.

Eduarda se impressionou até o momento em que se deixara esquecer das vantagens naturais da vampira. Mas, antes disso, observara minuciosamente cada movimento suave que Rosamaria Montibeller fazia, alternando de um alvo e outro, calculando a trajetória dos projéteis, movendo os cabelos dourados para trás dos ombros para que não a estorvassem.

Os olhos azuis miravam cada um dos alvos como se fossem suas presas. Rosamaria sempre foi assim: intensa, brilhante, inesquecível; mesmo fazendo algo tão frívolo como brincar de tiro ao alvo num parque velho da cidade. Duda conhecera outros vampiros, mas, verdade seja dita: nenhum deles era como ela.

— Acho que já posso escolher meu prêmio — disse a loira, depois de derrubar o último alvo. — Vou querer o panda-vermelho de pelúcia.

O sorriso em seus lábios se alargou ainda mais quando o rapaz a entregou o bicho dentro de um saco plástico fechado com um laço. Era uma pelúcia grande, do tamanho do antebraço de Duda, e tinha olhos brilhantes enormes.

— Isso é trapaça — disse a caçadora, cruzando os braços.

— É. Eu sei. Não vai tentar?

— Não. Vamos achar outro brinquedo — respondeu mal-humorada, marchando para outro canto. Rosamaria riu.

— Está com medo de não ser tão boa quanto eu, não é?

— Não sei se você lembra, mas quem acordou algemada na minha banheira foi você e não o contrário.

— Não é justo, você me pegou de surpresa. — Ela se recostou na grade da fila para a roda-gigante e pegou o celular.

— Por que mesmo eu deixei o seu celular com você? — perguntou Kim. Era uma vergonha como sequestradora.
— Não tem nada aqui que você já não tenha visto. — Ela virou a tela que mostrava as mensagens com sua irmã mais nova. — Espera aí, você viu minhas fotos de lingerie também, não viu?

— Claro que não! — Duda ofendeu-se. — Não sou uma degenerada.

— Que pena, elas são muito boas.

As duas se sentaram no banco apertado da roda gigante. Era daqueles abertos de sentar que só cabem duas pessoas muito magras e olhe lá.

— Digamos que eu estava distraída demais com... Outras coisas. — Lembrar-se de todos aqueles cadáveres fez um frio subir por sua espinha.

Heartstalker (adaptação)Onde histórias criam vida. Descubra agora