Capítulo 4 - Beijo inesquecível.

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A noite caía lentamente, trazendo consigo um silêncio acolhedor no apartamento de Letícia. Após um dia cheio de encontros e conversas descontraídas com amigos, ela finalmente teve um momento de tranquilidade para se jogar no sofá e relaxar. Com uma taça de vinho na mão, ela olhava para a cidade iluminada pela janela, refletindo sobre como sua vida tinha mudado nos últimos meses.

Ao desbloquear o celular, Letícia viu a mensagem de Wagner, perguntando como tinha sido o dia. Ela não pôde evitar um sorriso ao imaginar o tom dele, sempre curioso, sempre presente de alguma forma. A conversa se desenrolou de maneira leve, com aquela familiaridade que só o tempo pode trazer. No entanto, à medida que as mensagens iam e vinham, Letícia começou a notar um sutil tom de ciúmes por parte de Wagner.

Ela jamais imaginou que veria Wagner se despir de suas armaduras emocionais diante dela. Ele sempre parecia ser aquele tipo de homem que mantinha os sentimentos sob controle, envoltos em uma camada de elegância que o tornava enigmático, quase inalcançável. Às vezes, ela se pegava pensando que talvez tudo aquilo fosse parte de um grande ato, uma performance cuidadosamente ensaiada. Afinal, Wagner sempre foi alguém cuja presença enchia a sala, um homem de palco, de telas, de olhares atentos e vozes silenciadas em respeito à sua atuação.

Mas ali, naquele momento, a situação era completamente diferente. Não havia plateia, não havia câmeras ou roteiro a seguir. Era só ele e ela, um encontro de almas que lentamente se desnudavam uma diante da outra.

Wagner sempre foi gentil, educado, e, em sua maioria, reservado. Ele era um homem de gestos comedidos, de palavras bem escolhidas, mas que raramente deixava transparecer o que realmente se passava em seu interior. Era como se ele carregasse uma máscara invisível, uma barreira que ela, por mais que tentasse, não conseguia atravessar. Mas agora, diante dela, essa máscara parecia ter rachado.  Aquilo a desarmou completamente. Ela não estava acostumada a ver Wagner, o homem que sempre aparentou ter o controle de todas as situações, mostrar qualquer sinal de fragilidade. Era desconcertante, quase inquietante. Ao mesmo tempo, ela se perguntava se isso era real, se essa demonstração de sentimentos não era apenas mais uma faceta do seu talento como ator, se ele não estava, de alguma forma, testando os limites de sua própria capacidade de entrega emocional.

A verdade era que ela não sabia como lidar com aquilo. Era tudo muito novo, muito intenso. A ideia de que Wagner, sempre tão enigmático e reservado, pudesse confiar nela a ponto de se abrir dessa forma, a deixava sem chão. Será que ela seria capaz de corresponder a essa confiança? Será que conseguiria aceitar essa nova dimensão do homem que ela estava começando a conhecer de verdade?

Após a conversa e depois de pensar tanto, Letícia desligou o celular e suspirou, olhando para o teto. Sabia que Wagner estava sentindo falta dela, e ela, dele. Decidida a não deixar isso crescer em algo negativo, ela pegou o telefone novamente e fez o convite que vinha considerando há algum tempo.

"Ei, o que você acha de vir aqui em casa? Na minha casa de verdade. Podemos conversar com mais calma."

Ele não demorou a responder.

"Quando?"

"Hoje. Agora, se puder."

"Estou indo."

Letícia levantou-se rapidamente e começou a arrumar a sala. Não queria que parecesse que estava tentando impressioná-lo, mas também queria que ele se sentisse confortável. Quando a campainha tocou, cerca de quarenta minutos depois, seu coração estava disparado.

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