Lyana
O vento carregava o cheiro adocicado das folhas queimadas do outono, um perfume familiar que não conseguia mais me confortar.
O ar estava pesado, denso de tensão e antecipação. Meus olhos percorreram o acampamento à minha frente, onde soldados e servos da Corte Outonal montavam suas tendas, organizavam armamentos e se preparavam para o que estava por vir. Cada movimento, cada som parecia mais afiado, mais urgente. O chão sob meus pés era um tapete de folhas douradas e carmesim, o testemunho silencioso de uma paz que estava prestes a ser rompida.
Vesti meu traje de guerra, couro negro ajustado ao corpo, reforçado nos ombros e braços, pronto para resistir aos golpes que certamente viriam. A armadura leve permitia liberdade de movimento, mas cada peça lembrava-me do peso da responsabilidade que carregava. O frio cortante da manhã fazia o couro ranger a cada movimento, mas eu o ignorava, focando apenas no campo de batalha que logo se desenrolaria diante de nós.
Davos estava ao meu lado, sua presença sólida e determinada como sempre. O irmão mais novo de Eris tinha a mesma chama nos olhos, mas era mais contido, mais calculista. Seus cabelos ruivos brilhavam sob a luz pálida do sol, presos na nuca de forma prática. Sua armadura era de bronze polido, um contraste com a escuridão que eu vestia. Apesar da responsabilidade que lhe fora conferida, não havia arrogância em seus modos, apenas uma calma que sempre admirei. Ele falava em voz baixa, discutindo estratégias comigo, traçando linhas imaginárias no ar enquanto planejávamos a defesa nas fronteiras da Corte Outonal, próximas à Corte Primaveril:
—O avanço deles será rápido, mas precisamos estar preparados para o contra-ataque no momento certo— disse ele, os olhos fixos no mapa estendido sobre a mesa improvisada. Suas palavras eram firmes, mas carregavam um fio de preocupação que ele tentava esconder.
— Concordo— respondi, minha voz saindo mais grave do que o normal, ecoando a mesma determinação que sentia em cada fibra do meu corpo.
Uma sombra entre as árvores, discreta, mas inconfundível. Azriel. O ex mestre espião da Corte Noturna, o meu mestre espião surgiu silenciosamente, como um espectro entre as folhas caídas. Sua armadura negra refletia a luz do sol em pequenos brilhos, as asas dobradas em suas costas eram como uma extensão das sombras que o seguiam. Mesmo em meio ao caos do acampamento, ele parecia sereno, cada movimento deliberado e calculado:
— Lyana, Davos — ele cumprimentou com um leve aceno de cabeça, os olhos âmbar avaliando rapidamente a situação — As forças da Corte Noturna e da Corte Invernal estão a caminho. Rhysand e Cassian estarão aqui ao anoitecer. Nesta hora, precisaremos estar prontos para avançar.
Havia algo na voz de Azriel, um tom de urgência que me fez endireitar ainda mais a postura. Ele nunca demonstrava abertamente suas preocupações, mas havia algo naquela missão, naquela guerra, que o perturbava:
— Ótimo — respondi, mantendo o olhar fixo no dele, tentando ler as emoções por trás daquela máscara de indiferença — E quanto à Corte Estival? Eles enviaram reforços?
Azriel hesitou por um breve instante, e percebi a tensão em suas asas, como se elas quisessem se expandir, como se aquele fosse um gesto inconsciente de desconforto:
— Ainda não temos notícias confirmadas. Tarquin está sendo cauteloso, mas há rumores de movimentação ao longo da costa. Precisamos nos preparar para o pior.
Davos soltou um suspiro ao meu lado, os olhos fixos no horizonte:
— Não podemos esperar indefinidamente. Se as outras cortes não se juntarem a nós, teremos que avançar sozinhos.
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Corte de Luz e Sombras - Livro 1 - Fanfic ACOTAR
FanfictionApós anos sobrevivendo nos calabouços de Hybern, duas amigas conseguem escapar por um triz, retornando a Prythian. Lutando por seu lugar de direito na Corte Diurna e se estabelecendo dentro do círculo íntimo, Surya e Lyana tentam unir aliados para d...