Samela Blunchet

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Seu arquear de sobrancelhas era sua marca registrada. Não importava onde estava era sempre "a Impecável" e fora de qualquer imperfeição. O cabelo channel de bico, liso e negro como o manto da noite, estava perfeito em contraste com as linhas triangulares de seu rosto. Seu batom de um vermelho brilhante (senão ofuscante) em equilibrio com sua pele de um tom moreno escandalosamente exótico.
A cintura curvilínea sustentava seios firmes e angulares de mamilos em riste e logo abaixo, uma sequência de coxas poderosas que ostentavam um quadril exuberante e nádegas perfeitamente curvas e empinadas. E tudo isso apenas aparente sob um belo vestido preto colado que mal chegava aos joelhos e deixava as suaves linhas de suas costas a mostra.
Enquanto caminhava em passos firmes e decididos em seus sapatos de grife, atraía para si todos os olhares possíveis - de homens e mulheres - e aquilo era seu combustível, quanto mais a admiravam mais sua beleza ressaltava e explodia.
Passou pelas mesas do restaurante sentindo-se devorada - como sempre - e continuou sustentando sua postura fatale mesmo quando avistou aquele que é, e sempre será, o motivo de suas piores lembranças. Ele puxou a cadeira fingindo ser um perfeito cavalheiro diante daquela perfeição feminina e quando a acomodou sentou-se tambem e enquanto enchia as taças de champanhe a admirou por entre a taça e a garrafa.
Samela o olhou profundamente. O desprezo vazava por suas pupilas e a sobrancelha estava no auge de sua curvatura.
Santino estava ainda mais velho que no mês anterior, quando haviam tido o mesmo encontro em outro ponto badalado da cidade. Mais do que velho, estava ainda mais asqueroso e maléfico.
- Há quanto tempo Liano. Já estava com saudades.
- Pouco mais de um mês Santy. Não seja tão sarcástico. E você sabe qual é meu nome então chame por ele, por favor.
- Ah, sim claro! Seu nome de guerra. Nunca me lembro da segunda parte, qual é mesmo?-entre dentes seu sarcasmo era como agulhas infectadas com o pior e mais nojento veneno.
- Blunchet. Já te disse mais de uma vez sua maricona senil, B-L-U-N-C-H-E-T, Blunchet...
Repetir seu sobrenome trouxe devolta lembranças de um tempo esquecido de propósito, quando um garoto que recém descobriu sua sexualidade era humilhado por aqueles que não o entendiam: "Blunchet!" ele dizia, "vocês ainda verão esse nome nos outdoors e sentirão inveja da mulher perfeita que eu ainda serei!" e enquanto todos riam o menino esguio juntava seus trapos de briga e corria pra casa de olhos marejados e jurando que jamais choraria de novo.

- Quanto ainda falta de minha divida Santy?
- Já esqueceu meu caro? Ou desconfia que estou me aproveitando de sua deliciosa beleza?
- Você se aproveitaria até de sua mãe se ela estivesse viva. E sim, não confio em você.
- Pois bem. - tirou da maleta uma caderneta que parecia saída de alguma mercearia do interior, folheou algumas páginas e quando achou o que queria, virou a para sua acompanhante.
Os plhos de Samela ousaram marejar, mas ela os conteve. A conta ainda era alta, o que significava que ainda estaria nas mãos desse nosferatu por mais algum tempo.
E mais uma vez seu cérebro a transportou para a mesa de cirurgia. Os seios ja estavam no lugar devido, o rosto ainda enfaixado se recuperava da reconstrução. Mas naquele dia eram suas costelas que sofreriam nas mãos dos "açougueiros" daquela clínica. Pelo vidro o velho nojento a espiava sorridente. E o mesmo sorriso podre a encarava na mesa a sua frente.
- É só isso que me falta Santino. Com isso eu ganharia mais dinheiro e poderia te pagar muito mais rápido.
- O que sobrou de Liano em você é só o que me "alegra". Você sabe disso. E quando quitar sua dívida poderá ser completamente Samela. Até lá, trato e trato.
- Por que você não pega alguma por ai pra satisfazer seus asquerosos desejos? Porque eu?
- Pelo único motivo de que ninguém é mais perfeito - ou perfeita - do que você minha cara. Mas você já sabe disso, não é?
Sim ela sabia. E todos ao seu redor também. Ninguém sabia que faltava ainda um detalhe para que se tornasse a mulher perfeita. Mas pra quem a olhava, ela já era.
- Vou subir e esperá-la em "nosso ninho" minha delicia. Deixe o dinheiro com Queiroz e suba.
Ela já havia avistado o capanga e contador na mesa de trás. Um armário de terno, como todo bom capanga deve ser, mas inteligente o suficiente para ser tesoureiro do monstro que entrava no elevador.
Entregou a bolsa para o homem e andou até as escadas. Não precisava ter pressa. Quem sabe até acabar de subir o torpor ja tenha tomado conta do mal que a aguardava no quarto e ela iria pra casa sem se sujar mais ainda.
- Pelo elevador! -a voz do capanga ecoou pelo corredor- Hoje estamos com pressa.
A bela caminhou ate o elevador e quando entrou sozinha sentiu o suor lhe escorrer as têmporas. Ela era uma dama, bela, bonita e recatada, mas apenas nessas ocasiões suava como um porco. O que pra sua decepção, agradava ainda mais o porco que a esperava.

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⏰ Última atualização: Aug 26, 2015 ⏰

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