Capítulo 2: Coincidência

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Cansado de mais um dia em seu emprego caótico, Matheus se apega a condução do ônibus do horário de pico para refletir sobre a sua vida, os seus ideais juvenis não pareciam mais tão doces quanto antigamente, e no meio de um local onde até o seu maior traço de individualidade é sufocado no sentido literal e metafórico da palavra, ele pensa no balanço da vida, nas idas e vindas que ele sempre fazia nesse meio tempo de deslocamento, sempre na mesma direção, nunca foi muito religioso mas gostava de acreditar que a sua vida tinha algum tipo de propósito, pois se não tivesse quem seria ele nesse mundo tão grande de idas e vindas? Mundo esse onde as pessoas parecem formigas e a vida se assemelhava a uma caixa de gato, com caminhos que pareciam tão finos como areia e um odor horrível da vida adulta, sua linha de pensamento que parecia mais perdido do que conciso é interrompida pelo balanço frenético do ônibus nas ruas esburacadas da periferia, para pensar se precisava de tempo, e para mudar é necesserário subversão, coisas que faltavam na vida de Matheus, coisas que ele precisa correr para buscar a qualquer custo e talvez tirar de onde nem ele sabia que tinha, uma noite mal dormida por aqui, uma refeição pulada por ali, nada que o abalasse muito até o presente momento, algo dentro dele parecia ter mudado embora nem ele mesmo saiba o que seria.

Chegando na em sua humilde residência, Matheus come um lanche com um valor nutritivo questionável, olha para o seu videogame e cogita a ideia de jogar um jogo, mas a preguiça e a ânsia que ele tinha por um novo jogo que haveria de lançar falam mais alto e ele desiste da ideia, toma um banho rápido pois a água estava em falta naquele estação seca, e como um cidadão consciente de que dinheiro não dá em árvore não se deixa levar pelo tempo e vai estudar mais um pouco o caso que lhe assombrava e provavelmente custaria seu emprego e o pouco da dignidade que restava para ele se falhasse, lendo e relendo, indo e vindo, sempre de passagem, sempre saindo, ele se vê um pouco deprimido, era sábado à noite, ainda tinha muita coisa para acontecer e muita história para se viver, ele só precisava de um empurrãozinho, ou no caso dele de alguém que jogasse sua monotonia de um penhasco ou uma fuga de um abismo existencial? Muitas perguntas, poucas respostas, e nesses cenários Matheus pensou em buscar sabedoria do Oriente, dos grandes sábios budistas, dos xintoístas, quem sabe dos hindus? Entrando em um site ele procura preços de passagem só de ida para a China, mas se arrepende amargamente pois isso escancarou ainda mais sua condição financeira de caráter duvidoso. Pensando um pouco, Matheus tem um insight, - Se a Maomé não vai a montanha, a montanha vai a Maomé -, ele procura novamente um nome de alguém que estaria disposto a ter um papo mais cabeça sobre o que ele estava sentindo naquele momento, e com o andamento das coisas na sua vida, um contato vem a calhar naquele momento, de seu amigo de alguma data que ele conheceu na escola e foi cultivando uma amizade online, graças ao interesse mútuo dos dois por jogos de luta, seu nome era Inno, era uma ideia que parecida muito boa, ele mal saia de casa, só faltava a coragem e uma dose de sorte para as coisas saíssem como planejado, Matheus podia ser um CLT meio ferrado com a vida, mas ainda sim era um cara metódico, situações que fugiam de seu controle tinha tendências a o deixar assustado, quiçá por isso nunca procurou um profissional especializado antes, Matheus manda a mensagem e uma conversa informal se inicia:

Matheus: Boa noite Inno, desculpa te incomodar essa hora da noite, tá acordado?

Inno: Fala Matheus, tô acordado sim, me admira é você estar acordado até essas horas, maratonando Sparking Zero 2 de novo? Jogando tanto sem mim eu vou achar que a nossa amizade não tem muito valor sabe?

Matheus: Não é isso, estou me resguardando para o Sparking Zero 3 sabe? Não tenho espaço para outros jogos no momento.

Inno: Hm, que curioso, então deixa de mistério, qual o motivo dessa ligação?

Matheus: Só por, sei lá, um acaso do destino, estaria aí na tua casa amanhã? Ou já tem algum plano de saída?

Inno: Ah, uma visita, pode vir, sinta-se à vontade.

Matheus: Então está combinado, estarei por aí na parte da manhã.

Inno: Vai me fazer acordar cedo mesmo? Para sua sorte eu sou seu amigo, se eu fosse seu inimigo tu estarias em maus lençóis.

Matheus: Eu preciso fazer isso, o pobre do Ciclope não deve ter tido um café da manhã descente faz anos, me admira muito ele ter uns 3 anos vivendo desse jeito.

Inno: Para sua informação, o Ciclope vai muito bem obrigado, ele... ele... só não aprecia café da manhã sabe?

Matheus: Isso parece mentira, mas não vem ao caso, até amanhã então.

Inno: Até amanhã.

Matheus então se recolhe para dormir, e o dia seguinte chega, ele se dirige a casa de Inno que fica a uns bons minutos do local onde ele mora, ao chegar ele toca a campainha repetida vezes, sem sucesso ele parte para gritar seu amigo na porta, causando estranhando de alguns pedestres desavisados, e uma súbita abertura de porta de Inno, o chamando para dentro antes que ele cause mais algum escândalo desnecessário que chamasse atenção para ele.

Inno: Ideia idiota hein!

Matheus: Quem liga, funcionou e é isso que importa.

Inno: Espera aí na sala que eu vou alimentar o Ciclope, ele tá meio agitado hoje, esse rato deve estar sentido falta de alguma coisa, não é possível.

Matheus: Eu ficaria pior sem café da manhã todos os dias.

Inno: Do jeito que você se alimenta, daqui a pouco você vai estar um ritmo pior que o dele, eu ficaria esperto, enfim sinta-se em casa, tem alguns aperitivos para você também.

Inno era um dos amigos que Matheus menos via, mas paradoxalmente mais confiava, ele morava em um bairro médio da capital e trabalhava home office, tendo um bom tempo livre para se dedicar aos seus hobbies como desenhos de índole duvidosa na net e tênis de mesa, ele mal saia de casa, sua companhia mais fiel era seu roedor de estimação na qual ele carinhosamente apelidou de Ciclope, o contexto pareceu bem adequado, com o rato tendo seus olhos vermelhos e sendo Inno grande apreciador dos X-man. Matheus e Inno eram colegas de infância que se trombaram acidentalmente no trabalho quando Inno ainda era Freelancer da área, sua paciência e jeito tranquilo o transformaram em um refúgio para Matheus de certas situações de seu inconsciente.

Inno: Opa, voltei e aí, tô curioso, o que motivou essa visita inesperada?

Matheus: Então, eu queria te falar sobre a Letícia...

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⏰ Last updated: Aug 23 ⏰

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A (Des)esperançosa vida amorosa corporativaWhere stories live. Discover now