Apenas Negócios | Em Pausa

Capítulo 02

Meu pai e meu avô suspiraram, não aprovando a minha atitude. Sei que eles sempre esperaram que eu me tornasse uma mulher como as outras da família: bonita, gentil e disposta a ter uma família linda com um amigo de negócios da família. Mas não sou assim.

Desde criança sempre quis ter meu espaço naquela selva que os homens da família controlavam. Era animador e desafiador. Sempre gostei de coisas animadoras e desafiadoras, por isso pratiquei esportes desde pequena, das artes marciais até a patinação artística no gelo, fiz de tudo um pouco. Tive o privilégio de nascer em uma família capaz de suprir esses desejos, então me aproveitei disso. Não aceitaria que minha própria família tentasse podar minhas asas.

— Nada disso estaria acontecendo se você tivesse agido como deveria — Vovô apontou, me olhando. — Por que você sempre tem que ser diferente, Viena?

— O que quer dizer com isso, vovô?

— Desde pequena você dá trabalho por querer ser diferente das suas irmãs e das suas primas, Viena — meu pai exclamou. — Custa se comportar como uma mulher decente? O nome da nossa família significa nada para você?

“Uma mulher decente”, ele disse. Tive que me segurar para não rir ao encará-lo.

— O que significa ser uma mulher decente, papai?

— Se portar como deveria! Respeitar os outros empresários com quem tem contato, deixar de encarar todos com o queixo erguido, e definitivamente, não ir para a cama com qualquer homem que aparece na sua frente.

— Viena não fez isso, George, por favor — mamãe entoou, quase revirando os olhos.

— Como você sabe, Alicia? — Vovô retrucou. — Você que deixou ela criar asas como bem quisesse, agora o sobrenome do seu marido está espalhado por aí por causa desse escândalo vergonhoso!

— Mas…

— Tudo bem, mamãe — falei um pouco mais alto, sem gritar, apenas para chamar sua atenção, e sorri. — Obrigada por tentar me defender, mas não vai adiantar.

Mamãe suspirou, derrotada, e recostou na sua cadeira. Encarei meu avô e meu pai com seriedade e levantei da cadeira para olhá-los de cima, como eles tanto odiavam.

— Sabe por que ando de queixo erguido diante dos empresários com quem preciso lidar? Porque eles agem exatamente como vocês dois. Eles acham que porque eu não tenho um pau para mostrar e não ando por aí contando piadinhas misóginas, eu sou inferior. — Me inclinei, apoiando as mãos na mesa e encarando eles mais de perto. — Não assumi o cargo de diretora para sorrir e abaixar a cabeça para velhos que estão doidos para me arrancar do meu cargo. Assumi esse cargo para arrancar deles o que tiverem e fazê-los engolir cada tentativa de destruir o nome Maltak, entenderam?

Meu avô e meu pai me conheciam desde antes do meu nascimento, mas ainda não estavam acostumados comigo. Ainda não compreenderam que para me provocar precisavam ser capazes de aguentar as consequências.

— Não me importo com o que uma mulher como eu deveria fazer aos olhos de vocês — pontuei. — Os resultados que consegui com o complexo que assumi foram bons, melhores que o esperado com a mudança de gestão, então, por favor, engulam suas críticas e reconheçam o meu trabalho! Passei todo esse ano entregando tudo o que podia para conseguir esses resultados, não vão me fazer sentir culpada por querer aliviar meu estresse após ter que lidar com tanta porcaria que o seu antigo diretor corrupto deixou para trás.

Recuei, respirando fundo e ajeitando meu blazer. Minha mãe estava de cabeça baixa, para esconder o sorriso, e vovó piscou para mim. Meu pai e meu avô pareciam ter engolido sapos frescos.

— Os resultados foram realmente muito bons, Viena — vovó disse. — Parabéns.

— Obrigada, vovó.

— Vocês aceitaram colocar Viena na direção do complexo leste porque queriam ver se ela é mesmo capaz de lidar com o cargo — mamãe começou a falar. — Viena provou que é capaz de fazer o que deve ser feito. Os resultados do ano que ela ficou no cargo provam isso. O que aconteceu com Erick foi uma falta de respeito da parte dele. Deveriam estar se dispondo a bater de frente com os Holtan, não com a Viena!

— Quem se faltou com o respeito foi a Viena! — Papai retrucou, atiçando a raiva da mamãe.

— Como, George? — Ela o encarou com olhos semicerrados. — Como a nossa filha de vinte e nove anos se faltou com o respeito ao escolher ir para a cama com quem gostaria de fazer isso?

— Não é algo que ela como mais nova diretora deveria estar fazendo agora. E com o filho de um dos nossos aliados!

— Ela não é mais criança, George! E você acha que mulheres também não têm seus desejos?

— Claro que sei disso, mas…

— Mas o quê? — Mamãe estava mesmo furiosa. — Você quer que a nossa filha se afunde tanto no trabalho que esqueça das próprias vontades? O erro dos homens dessa família é justamente esse! Vocês mergulham tanto no trabalho que esquecem do mundo e das pessoas ao redor!

— O que quer dizer com isso?

— Quero dizer exatamente o que você ouviu. Vocês dois só estão presentes nas vidas das filhas e das esposas de vocês quando é conveniente. Agora agem como se Viena fosse errada por ter uma vida pessoal decente.

— Isso não é verdade, Alicia — papai retrucou.

— Viena fez o trabalho dela muito bem e achou que poderia se divertir um pouco, e daí? Vocês não saem para jogar conversa fora com velhos chatos vez ou outra? O erro da nossa filha foi ter escolhido sair com aquele moleque em vez de alguém que preste.

— Nisso eu concordo — pontuei com cautela.

— Sua atitude vai te fazer criar inimigos, Viena — papai disse, se voltando para mim. — Estamos preocupados!

— Compreendo e agradeço a preocupação, papai. Mas não posso assumir o cargo de um antigo diretor corrupto e fazer as coisas voltarem a funcionar do jeito certo se não estiver disposta a quebrar alguns ovos. Não sou uma menininha, vocês me educaram, precisam confiar em mim.

Vovô suspirou, coçando a sobrancelha, um hábito de quando está cansado de conversar.

— Tem um meio de me fazer confiar que você está agindo com a cabeça no lugar, Viena.

Endireitei os ombros, pronta para ouvir. Ele me olhou e com o tom de voz mais simplório e sincero que possuía, disse:

— Case-se o quanto antes com um aliado importante nos negócios da nossa família.

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NOTAS DA AUTORA:

Alguém tem uma ideia do que vem por aí?