Já estava tarde da noite, quase 2:20 da manhã, e mesmo assim a insônia me dominava. Já havia tentado dormir várias e várias vezes, estava com a mente lenta e meu corpo exausto, mas não importava quanto sono eu estivesse sentindo, sempre que eu fechava os olhos e tentava dormir a minha mente enchia e eu não aguentava ficar na tentativa por muito tempo.
Já estava um pouco cansado de tentar dormir, então decidi tomar um pouco de água e dar uma volta pela casa, talvez assim eu conseguia me acalmar um pouco e finalmente dormiria como eu queria. Me levantei devagar, sem soltar meu lencinho, bocejei e então caminhei para fora do meu quarto.
Eu estava tentando ser silencioso, já que aquela era uma noite realmente especial, em que meu pai e minha mãe estavam dormindo na minha casa e do Torajo. Eu passei maior parte da minha vida com o meu pai, já que depois que ele e minha mãe se divorciaram ele acabou ficando com minha guarda, ele era o melhor pai que eu podia ter em qualquer vida! Não queria atrapalhar ele, até porque ele também mora em outra cidade, teve uma viagem estressante para ver eu e meu irmão.
Caminhei devagar pelo corredor até a escada para o primeiro andar, ainda estava um pouco sonolento. Enquanto caminhava, não pude deixar de ver o Torajo no estudio de gravação em que a porta estava semi-aberta, ele parecia tomar café e estava fazendo algo em seu computador, não tinha muito do que esperar vindo do Torajo durante a madrugada, era o Torajo.
Pensei em falar com ele, mas deixei a ideia idiota de lado e desci as escadas. Estava chegando na cozinha, era tudo muito escuro, mas isso não me impediu de ver meu pai ali, estava tomando água em frente a geladeira. Ele não demorou muito até me avistar também, então colocou o copo no balcão e sorriu.—Oi, Morajo! O que você está fazendo acordado a essa hora da noite? Já deveria estar dormindo.—Sussurrou.
Me aproximei dele e esfreguei meus olhos, pegando um copo no armário e colocando ao lado do copo do papai.
—Eu não consegui dormir... e... e o senhor?—Hesitei um pouco em perguntar, já fazia alguns meses que eu não conversava diretamente com ele, não sabia exatamente como falar de uma forma "respeitosa".
Meu pai sempre me tratou muito como se eu ainda fosse criança, quando ainda morava com ele eu era o "neném da casa", mas desde que ele chegou aqui na minha casa ele começou a me tratar como se eu realmente fosse um adulto. Isso deveria parecer bom, eu já tenho 18 anos na verdade, mas era estranho, eu gostava quando eu ganhava toda a atenção para mim, ganhava apelidos no diminutivo, quando ele falava comigo com aquela voz engraçadinha, fazia cócegas na minha barriga sempre que eu estava distraído... Já que ele já estava me vendo como um adulto, eu estava tentando agir como um, mesmo que não fosse muito legal.
—Ah, não tem que me chamar de "senhor", eu não acho que estou tão velho assim!Não pude segurar a risada. O humor dele pelo menos continuava o mesmo! Ri um pouco e suspirei, respirando fundo e recuperando meu fôlego.
—Então como eu te chamo?
—Eu prefiro que continue me chamando de pai, me sinto mais jovem.—Piscou e sorriu, enchendo meu copo no balcão com água.
Ficamos um pouco em silêncio, a gente não se via fazia uns 6 meses, eu acho?
—Bem, como você tem vivido depois que se formou? Tá sendo legal trabalhar com o YouTube?—Ele me entregou meu copo de água.
—É... Às vezes o Torajo enche o saco, e a Zulmi também... O Azedo... O Linn...—Fiquei um pouco em silêncio.—Tem sido difícil, eu acho...
O sorriso no rosto do papai se apagou aos poucos, ele tocou em meu ombro enquanto eu tomava água e acariciou com cuidado.
—Você faz aquilo que eu te ensinei para não ficar com tanta raiva?
—Não funciona mais...—Esfreguei meus olhos outra vez e abracei meu lencinho.
—E a pepeta? Não tá ajudando também não?
—Ah... Eu parei.
Ele me olhou surpreso, eu já imaginava que ele fosse ficar meio chocado quando descobrisse, eu tinha aquela coisa desde que eu era bebê e nunca nem pensei ou tentei parar de chupar chupeta, aconteceu um pouco sem querer.
—Por quê? Aconteceu alguma coisa?—Colocou agora as duas mãos em meus ombros, ficando em minha frente.
—Eu tive um ataque de raiva faz uns 4 meses, por causa do Torajo, e nesse dia eu acabei mordendo ela sem querer, aí ela...rasgou... Não foi de propósito, mas depois disso eu acabei parando de vez.
—Ah, Morajo, você não sentiu falta? Nem quis comprar outra?—Trocou suas mãos de lugar, colocando-as nas minhas bochechas.
Terminei de tomar o copo de água e coloquei no mesmo lugar de antes, olhando agora para os olhos do meu pai.
—Eu...—Me enrolei um pouco, dava um pouco de vergonha falar e lembrar disso.—Não tinha como comprar uma nova, quase todo mundo da cidade conhece o Torajo e a maioria conhece eu também, eles sabem que a gente não tem criança em casa e nem na família...
Fiz uma pequena pausa, abraçando meu lencinho de novo e desviando o olhar, não gostava de lembrar da chupeta porque eu sentia saudade, e acho que agora eu já estava velho até demais para isso.
—Eu sinto saudade, mas só as vezes, foi pior nos primeiros dias.
—Hm... Posso te mostrar uma coisa?—Perguntou.
Passei poucos segundos pensando e então acenei. Meu pai colocou os copos na pia, guardou a garrafa de água, segurou minha mão e começamos a subir para o segundo andar, ainda estava com sono então a única coisa que me guiava para não bater nas paredes era a mão dele. Papai cuidadosamente abriu a porta do quarto onde estava dormindo nos dias que estava passando em minha casa e nós dois entramos, mantendo a porta aberta.
Ele chegou perto de uma de suas mochilas e procurou algo por um pequeno período de tempo, parecia ser algo pequeno e talvez estivesse meio escondido nas coisas dele. De uma só vez, ajeitou a postura e olhou para mim sorrindo, mostrando uma chupeta igual a que eu tinha.
—Eu te conheço muito bem, já vim preparado!—Riu, mas depois ficou com uma face mais calma e gentil.—Eu sei que você talvez já esteja meio... Bem, grandinho para essas coisas, mas você ficava tão calminho lá em casa, quando você ainda morava comigo. Eu sei que você não sabe lidar muito bem com as coisas que você sente, com seus sentimentos, desde criança você sempre foi mais irritado e impulsivo, e não queria que você passasse por mais surtos e não ter nada de conforto para se acalmar... Enfim, se quiser que eu guarde ou jogue fora, pode falar.
Fiquei encarando meu pai, trocando olhares entre ele e a chupeta em suas mãos, eu estava em um pequeno conflito interno onde eu não sabia o que fazer exatamente, e para piorar tudo, eu estava morrendo de sono, geralmente eu fico mais emotivo quando chego nesse nível.
—Quer que eu jogue fora?
—NÃO!—Gritei por impulso, rapidamente ficando em um silêncio completo em seguida.
Ficamos nos encarando por mais alguns segundos em silêncio, acho que minha vontade de começar a chorar era bem perceptível, e que eu provavelmente não seguraria aquelas malditas lágrimas por muito tempo também. Tentei enxugá-las antes que pudessem escorrer pelo meu rosto usando o meu lencinho, enquanto isso, meu pai se aproximou com cuidado e chegou perto de mim.
—Abre a boquinha, Moji!—Disse, com aquela voz engraçadinha que sempre usava quando ia me dar comida, remédio ou qualquer coisa que fosse colocar na minha boca.
Não aguentei e comecei a soluçar, pouco antes das lágrimas começarem a escorrer pelo meu rosto e meus olhos se fecharem com força. Abri um pouco a boca em meio ao choro e papai devagar entregou a chupeta aos meus lábios, depois me abraçando e começando a passar seus dedos entre meus cabelos, fazendo um cafuné confortável.
—Prontinho, prontinho, você tá com a pepeta de volta agora, agora você vai ficar calminho outra vez!
Eu não respondi, não com palavras, abri devagar os olhos e o olhei no rosto, ainda soluçando. Papai segurou minha mão junto com o lencinho e começou a me ajudar a enxugar as lágrimas que já estavam no meu rosto, enquanto continuava me abraçando.
—Onde eu estava com a cabeça...—Riu um pouco.—Eu deveria ter percebido desde que eu cheguei que você não mudou nadinha!
Continuou a limpar minhas lágrimas e depois me abraçou mais forte.
—Quer que eu volte a falar com você como antes? Quer ser o "neném do papai" outra vez?—Questionou, sem perder o sorriso.
Acenei mais uma vez com a cabeça e me grudei completamentem seu ombro e mantendo meus olhos fechados. Sentir as carícias e abraços quentes do papai era tão bom, chorar nos braços de alguém importante para você é bom, chupar chupeta também era bom, acho que estava começando a melhorar, e o sono estava finalmente demonstrando ser sono, e não apenas um cansaço excessivo e sem pausas.
—Tudo bem, Moji, agora que a gente já conversou bastante, é hora de mimir. Quer que eu te coloque na cama?
Dessa vez eu realmente não respondi, apenas permaneci grudado em seu ombro soltando alguns gemidos baixos, minha cabeça estava doendo um pouco e meus olhos começaram a arder também. Ele deu uma pequena risada e continuou.
—Hmm, deixa eu pensar... Quer que eu te carregue?—Continuou passando a mão pelos meus cabelos.
Murmurei aceitando a proposta, ele me levantou e me levou até o meu quarto outra vez, eu cochilei algumas vezes no seu colo enquanto isso, a última coisa que eu lembro de acontecer antes de eu dormir de verdade foi quando ele me colocou deitado na cama e começou a me cobrir com o cobertor, depois disso eu dormi a noite inteira e foi a primeira noite realmente calma que eu tive em meses! Sem acordar várias vezes de madrugada, sem pesadelos, apenas uma noite calma e quentinha, que eu passei todo enrolado nos meus cobertores e me sentindo bem depois de tanto tempo em um caos interno. Finalmente consegui descansar de verdade.-
Estava saindo do quarto do Morajo, ele dormiu rápido para alguém que disse não conseguir dormir de jeito nenhum! Desde que cheguei eu percebi que ele parecia meio cansado e fechado, provavelmente tem algo haver com a ausência da chupeta dele. Não pude deixar de soltar uma risada baixinha enquanto pensava nisso. Iria voltar para meu quarto agora, se eu não tivesse visto a Maya carregando o Torajo para o seu quarto.
Ela percebeu minha presença e sorriu para mim, colocando o dedo indicador em frente aos seus lábios e depois entrando no quarto devagar. Aguardei ela próximo da porta para que pudéssemos conversar um pouco, não demorou até que ela saísse do quarto e fechasse a porta, se apoiando nela e me olhando ainda com um sorriso.
—Eu vi você carregando o Morajo para o quarto, aconteceu alguma coisa?—Disse com uma voz um pouco cansada.
—Nada demais, ele só estava com insônia e eu ajudei a dormir de novo. E você?
—O Torajo tem um víciozinho em café e costuma passar várias noites em claro por causa disso, ele quase não dorme direito! Então eu já tenho o costume de levar ele para cama.—Riu.—Quer conversar lá embaixo? Aqui a gente pode acabar acordando as "crianças".
Acenei, com um sorriso estampado ao rosto. Descemos lado a lado para o primeiro andar e fomos para a sala, Maya passou na cozinha antes e serviu um pouquinho de café para a gente, agora eu já sabia de onde aquele vício do Torajo havia surgido...
—Como você fez ele dormi tão rápido?—Perguntei, pegando uma das duas canecas de café que Maya havia servido e me sentando no sofá.
—Acha que eu não conheço a sua técnica?—Ela riu um pouco, se sentando à minha frente e se servindo.—Não foi só o Morajo que não largou a chupeta até hoje.
—Ah, ele também?—Sorri, mas rapidamente perdi o sorriso quando processei o que Maya havia dito.—Espera, como você sabe?
—Quando eu levantei, vi você levando o Momo para o quartinho dele, ele já estava cochilando em cima de você!
—Meu Deus, eu juro que não te vi!—Ri baixo, se o Morajo descobrisse ele nunca mais saia do seu quarto outra vez.—Finge que você não sabe, o Moji morre de vergonha da chupeta e do lencinho dele, se ele ao menos cogitar que alguém além de mim sabe ele me mata!
—Moji? Que apelido bonitinho!
Rimos e conversamos bastante depois disso, mas quando já estava ficando realmente tarde, decidimos continuar a conversa no dia seguinte. Nesse pequeno tempo que eu e Maya pudemos ficar juntos e conversar outra vez, descobri muitas coisas sobre o Torajo e ela também sobre o Morajo, saber como foi a criação dos dois e como eles cresceram de um jeito muito parecido mesmo a distância foi divertido.Fim!
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(2256 palavras)
Notinha final:
Não tenho nada a falar, só espero que eu não me arrependa de postar isso 😞 E NEM QUE ISSO CHEGUE NO TORAJO, PORQUE ELE TEM WATTPAD😭😭😭
Artezinha que deu início a história:
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Eterna Maçãzinha
FanfictionApenas alguns capítulos fofos e independentes onde mostra algumas cenas do dia a dia que Morajo tinha morando com o pai dele! (e como ele foi MUITO MIMADO pelo mesmo também) A maioria dos capítulos (se não forem todos) vão ter age dreaming e coisas...