Despedidas e novos começos

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Camila estava sentada em seu quarto, perdida nas páginas de um livro antigo que encontrara na biblioteca de sua mãe. As palavras pareciam vibrar com uma energia própria, ressoando profundamente em seu coração enquanto ela lia sobre o amor de almas gêmeas.  Camila fechou o livro com cuidado, suas mãos descansando sobre a capa enquanto suas reflexões tomavam forma.

Desde que me entendo por gente, essa marca de nascença me acompanha, uma lembrança constante de algo maior, algo que eu ainda não compreendo. Em noites solitárias, quando o silêncio é o único companheiro, me pego pensando nela, me perguntando se essa marca é um sinal de que estou destinada a alguém, a algo que vai além do que posso ver. A vida me deu muitas coisas, mas sempre houve esse vazio, uma sensação de que falta uma peça no quebra-cabeça.

Olho para essa marca, tão única e minha, e sinto como se fosse uma parte de um todo que ainda não encontrei. Será que, em algum lugar, existe alguém que compartilha dessa mesma marca, desse mesmo anseio? Eu acredito que sim, que essa marca é um fio invisível que me liga a uma alma gêmea, alguém que me completa de uma forma que nem o sucesso, nem as aventuras que vivi até agora foram capazes de fazer.

Carrego essa marca, como se ela fosse uma lembrança constante de algo que está por vir, mas que ainda não chegou. Mas ao mesmo tempo, ela me dá esperança, a sensação de que, por mais que eu viaje e busque em lugares distantes, estou me aproximando do momento em que finalmente entenderei o propósito dela, o momento em que encontrarei aquele que também carrega essa marca no corpo e na alma.

Camila suspirou, seus pensamentos ainda presos à marca de nascença, quando ouviu uma batida suave na porta do quarto.

— Camila, posso entrar?
— Claro, papá, entre.

Alejandro abriu a porta com um sorriso caloroso, carregando uma pequena pilha de documentos. — Precisava que você desse uma olhada nesses papéis, são algumas coisas da empresa que você pode revisar quando tiver um tempo. — Camila assentiu, pegando os papéis, mas seu olhar ainda estava distante, refletindo a melancolia que a dominava.

Alejandro notou a expressão da filha e sentou-se ao seu lado na cama, colocando uma mão carinhosa em seu ombro. — Está tudo bem, mi amor? Você parece preocupada.

Camila hesitou por um momento, mas então decidiu abrir seu coração.  — Sabe, papá, eu estava pensando na minha marca de nascença. Sempre me perguntei se ela significa algo... algo maior. Talvez seja tolice, mas sinto que ela está ligada a outra pessoa, alguém que ainda não conheço. É como se eu tivesse uma parte de uma história que ainda não foi escrita.

Alejandro a olhou com ternura, percebendo a profundidade do que ela estava dizendo. — Não é tolice, Camila. Às vezes, o que sentimos profundamente em nossos corações tem um significado que só descobrimos mais tarde. Você sempre foi uma mulher de espírito livre e aventureiro. Talvez essa busca seja algo que você realmente precise fazer.

Camila ergueu os olhos para ele, uma mistura de esperança e incerteza brilhando neles. — Eu acho que preciso encontrar essa pessoa, papá. Viajar pelo mundo, descobrir se existe mesmo alguém lá fora que compartilha essa marca comigo. Eu sinto que só assim vou entender completamente quem sou.

Alejandro sorriu, com orgulho transparecendo em seu olhar.  — Então faça isso, filha. Vá em busca dessa verdade que você procura. O mundo é grande, mas o destino tem um jeito de unir aqueles que estão destinados a se encontrar. Eu te apoio completamente, Kaki, onde quer que essa jornada te leve.

Camila sorriu de volta, sentindo o coração mais leve. — Obrigada, papá. Significa muito saber que você está do meu lado.

Alejandro beijou a testa dela e se levantou. — Sempre estarei, mi amor. Agora, pense como será sua viagem, antes que eu mude de ideia e te prenda aqui para sempre — brincou ele, piscando para ela antes de sair do quarto.

Camila riu, sentindo uma nova determinação florescer dentro dela. Ela sabia que estava prestes a embarcar na maior aventura de sua vida. Após a conversa com seu pai, estava decidida a encontrar sua alma gêmea, começou a planejar sua viagem.

Camila sentou-se à sua escrivaninha com um mapa-múndi aberto diante dela. Seus dedos traçavam rotas possíveis enquanto seus pensamentos corriam soltos. Quais seriam os primeiros destinos? Onde poderia começar a busca pela pessoa que compartilhava a mesma marca de nascença?

Ela decidiu que o melhor ponto de partida seria a Colômbia, terra de seus avós maternos, onde sempre sentiu uma conexão especial. A cultura vibrante, as paisagens deslumbrantes e as histórias de amor que sua avó contava durante sua infância faziam desse país um lugar repleto de significado pessoal. Talvez fosse ali que encontraria o primeiro indício de sua alma gêmea.

De lá, pensou em seguir para a Espanha, onde suas raízes paternas estavam firmemente plantadas. Seu pai havia falado muitas vezes das antigas lendas sobre marcas de nascença que ele ouvira quando criança, histórias que, embora fantásticas, sempre tinham despertado algo profundo dentro dela. As cidades antigas, as festas tradicionais, tudo parecia carregar uma energia que poderia guiá-la em sua busca.

Depois, Camila considerou o Japão. Embora não tivesse uma conexão pessoal direta com o país, ela sempre fora fascinada por sua cultura e espiritualidade. O Japão representava o mistério e o desconhecido, um lugar onde o passado e o presente se entrelaçavam de maneiras únicas. Talvez a resposta que ela buscava estivesse em algum templo antigo ou nas palavras de um monge sábio [...].

Enquanto fazia suas anotações, Alejandro entrou no quarto novamente, desta vez carregando uma pequena caixa. — Mi amor, acho que isso pode te ajudar na sua jornada. — Ele entregou a caixa à filha, que a abriu para encontrar um conjunto de cadernos de viagem em branco, junto com um passaporte novo.

Camila sorriu, emocionada. — Papá, isso é perfeito! Vou usá-los para registrar cada passo da minha jornada, cada lugar que eu visitar e todas as pessoas que encontrar pelo caminho.

Alejandro sentou-se ao lado dela e apontou para o mapa. — Eu também fiz algumas ligações para amigos que tenho na Colômbia e na Espanha. Eles estarão esperando por você, prontos para ajudar no que for preciso.

Camila o abraçou com força, sentindo a segurança e o apoio que só um pai pode proporcionar. — Obrigada, papá. Com sua ajuda, eu me sinto pronta para qualquer coisa.

Enquanto Camila continuava a planejar sua jornada, um pensamento começou a se formar em sua mente. Ela sabia que essa viagem seria emocionante e transformadora, mas também entendia que a solidão poderia ser uma companheira constante. E foi nesse momento que um nome veio à sua mente: Normani.

Normani sempre esteve ao seu lado, não importava a situação. As duas tinham vivido tantas aventuras juntas, compartilhando risadas e confidências, que Camila não conseguia imaginar passar por essa nova etapa sem ela. E se Normani quisesse ir junto? A ideia de convidá-la começou a ganhar força.

Naquela mesma tarde, Camila se encontrou com Normani no café que costumavam frequentar. As duas estavam sentadas em uma mesa de canto, com suas xícaras de café quentes entre as mãos, enquanto conversavam sobre coisas do dia a dia. Mas Camila sabia que precisava abordar o assunto.

— Normani, tem uma coisa que eu queria te contar — Começou Camila, com um leve tom de hesitação na voz.

Normani ergueu uma sobrancelha, curiosa. — Claro, o que foi?

– Mani, tenho pensado muito ultimamente, – começou Camila, tentando encontrar as palavras certas. Normani percebeu o tom sério e imediatamente deu toda a sua atenção. – Você sabe que, por muito tempo, eu senti que algo estava faltando na minha vida. Que eu precisava buscar mais, encontrar algo... ou alguém.

Normani assentiu, encorajando-a a continuar. — Eu sei, Cami. Sempre senti que você tem esse desejo profundo de descobrir algo maior. Mas o que exatamente você tem em mente?

Camila sorriu, aliviada por Normani entender o que ela mal conseguia colocar em palavras.  — Eu decidi que vou fazer uma grande viagem pelo mundo. Vou começar pela Colômbia, depois seguir para a Espanha e, quem sabe, até o Japão.

Normani ergueu as sobrancelhas, interessada. — Uau, Cami! Isso soa como uma aventura incrível. Mas o que te levou a decidir fazer isso?

Camila sorriu, um brilho de entusiasmo nos olhos. — Sempre senti que havia algo mais para mim, algo além da rotina diária. E eu tenho essa marca de nascença, você sabe... Sempre ouvi que poderia estar ligada a encontrar minha alma gêmea. A ideia de explorar o mundo e procurar alguém com a mesma marca me parece a maneira certa de descobrir mais sobre mim mesma e, quem sabe, encontrar essa pessoa. — Respirou mais um pouco e continuou Camila — Mani, você já pensou se por aí em algum lugar do mundo, essa pessoa esteja sonhando comigo também?

Normani ouviu atentamente, seu olhar focado na amiga. — Isso é realmente profundo, Cami. E eu entendo por que você está tão empolgada. —  Aí a Mani fala — Você tem que correr atrás do que acredita Mila, em qualquer lugar e a qualquer hora, sabe que sempre vou estar aqui caso dê certo ou caso dê errado. —  Normani pega na mão de Camila e faz um carinho — A lenda não é só uma lenda... eu acredito em você, se você tem a marca com certeza essa pessoa existe, só basta ter paciência pra encontrar.

Certa do que queria, Camila respirou fundo, tentando encontrar as palavras certas.  — Eu sei que essa viagem é algo que eu preciso fazer sozinha, mas... não posso deixar de pensar como seria incrível ter você ao meu lado. Sei que é pedir muito, mas e se você viesse comigo? Viajarmos juntas, explorar o mundo, e... bom, quem sabe, encontrar essa alma gêmea que eu tanto falo?

Normani ficou em silêncio por um momento, processando o convite. Ela olhou para Camila, seus olhos refletindo a surpresa e a consideração pela proposta inesperada. — Cami, você sabe que eu sempre vou estar do seu lado, não importa o que aconteça. E confesso que já pensei em como seria se fôssemos juntas nessa aventura. Mas você tem certeza? Quer mesmo que eu vá?

Camila sorriu, sentindo um alívio ao ver que Normani estava aberta à ideia. —Quero, Mani. Sei que é uma grande decisão, mas sinto que se você estiver lá comigo, tudo vai ser ainda mais especial. Além disso, acho que essa jornada também pode ser importante para você, quem sabe o que podemos descobrir juntas?

Normani riu suavemente, balançando a cabeça. — Você sempre soube como me convencer, hein? Bom, eu também tenho pensado em sair um pouco dessa rotina, explorar novas possibilidades. E a verdade é que eu não gostaria de estar em outro lugar senão ao seu lado nessa aventura.

Ela tomou um gole de seu café antes de continuar. — Então, sim, estou dentro! Vamos encarar essa jornada juntas, Cami. Quem sabe o que o mundo reserva para nós?

Camila sentiu um misto de alegria e alívio. Agora, com Normani ao seu lado, sentia-se ainda mais preparada para o que estava por vir. As duas se olharam, sorrindo com cumplicidade, sabendo que aquela decisão mudaria tudo.

— Então está decidido, disse Camila, sua voz cheia de entusiasmo. — Vamos arrumar nossas malas e nos preparar para o que der e vier. O mundo é nosso! — Normani ergueu a xícara, fazendo um brinde improvisado. — Ao mundo! E a todas as aventuras que nos esperam.

As duas brindaram, sentindo que a viagem que estava por começar não seria apenas sobre encontrar uma alma gêmea, mas sobre descobrir mais sobre si mesmas e fortalecer ainda mais a amizade que as unia.

Os dias seguintes foram um turbilhão de preparativos. Camila revisou itinerários, verificou reservas de voos e acomodações, e começou a empacotar tudo o que precisaria para sua jornada. Cada detalhe era pensado com carinho, sabendo que essa seria uma viagem transformadora.

Na noite anterior à viagem, Camila estava em seu quarto, terminando de arrumar as malas. O som das folhas balançando lá fora misturava-se com seus pensamentos, enquanto ela revisava mentalmente tudo o que precisaria para a jornada. De repente, uma batida suave na porta a tirou de seus devaneios.

— Entra.  Camila disse, já sabendo quem estava do outro lado.

Sinuhe, sua mãe, entrou no quarto com um sorriso tranquilo, mas havia algo nos olhos dela que revelava a mistura de emoções que sentia. Ela se aproximou da cama e sentou-se ao lado de Camila, que estava dobrando a última peça de roupa.

— Tudo pronto? Sinuhe perguntou, olhando para as malas que estavam organizadas com precisão.

Camila assentiu, sentindo o nó na garganta que vinha com a antecipação de uma despedida importante. — Quase tudo. Ainda estou tentando me convencer de que estou realmente indo.

Sinuhe sorriu, um sorriso cheio de amor e compreensão. — Sei que isso é algo grande para você, mija. E também sei o quanto você tem desejado essa jornada.

Camila suspirou, finalmente largando a camisa que estava dobrando e se voltando completamente para a mãe. — É difícil, mãe. Eu quero tanto essa aventura, mas ao mesmo tempo... deixar vocês aqui, deixar tudo para trás, é assustador. E se eu estiver cometendo um erro?

Sinuhe estendeu a mão e tocou o rosto da filha com carinho, acariciando levemente sua bochecha. — Ouça, Camila. Na vida, nem sempre temos certeza de cada passo que damos. Às vezes, a única coisa que podemos fazer é seguir o que nosso coração diz, mesmo que pareça amedrontador. Você sempre foi corajosa, sempre seguiu seu caminho. E sei que essa jornada é importante para você, não só para encontrar sua alma gêmea, mas para encontrar mais de quem você é.

Camila sentiu seus olhos se encherem de lágrimas, a voz da mãe sempre tinha esse poder de acalmá-la, mas também de trazer à tona todas as emoções que ela tentava controlar. 

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