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Helena Caccini

Desperto lentamente me acostumando com a claridade que entrava pela cortinas que doíam em meus olhos. Procuro pelo meu celular apalpando as cobertas e não o encontro.

Direciono meu olhar para meu relógio de cabeceira vendo que marcam 07:07 da manhã e me recordo do grande evento que aconteceria hoje. Sento na minha cama encostando meus pés no chão gelado sentindo um pequeno choque pela temperatura quente do meu corpo.

— Nena? — ouço meu irmãozinho bater na porta

Ele não se demora para esperar uma resposta e adentra meu quarto com seu pijaminha listrado e um sorriso de orelha a orelha.

— Bom dia, meu príncipe — beijo o topo da sua cabeça quando ele vem me abraçar

— Cadê o papai? — ele me pergunta sentando do meu lado

— Não sei, acabei de acordar — digo a ele que assente e se levanta correndo

Sorrio com a pressa do pequeno e crio coragem pra me levantar e ir ao banheiro. Me encaro no espelho com minha cara amassada e meus olhos avermelhados pelo despertar.

Fico despida e entro no chuveiro com uma água numa temperatura média pra acordar e despertar direitinho. Sinto meu corpo inteiro arrepiar ao entrar em contato com a água e não demoro muito para não morrer de frio.

Saio e visto meus short preto de treino e uma blusa grande que uso para treinar com meu nome e o número 77, já que 7 é meu número favorito.

Acho meu celular em cima da mesinha de leitura e o pego vendo se tem mensagens ou algo importante. A única mensagem que tem é do respeitado José Roberto, treinador da seleção brasileira feminina de voleibol, enviada há alguns minutos.

"Te espero às 9:30 aqui!"

Sinto um fio de nervosismo percorrer meu corpo, afinal, é o treinador da seleção feminina, quem não se sentiria nervosa?

Dou mini saltinhos de felicidade e saio sorridente do meu quarto em busca das pessoas que moram nessa casa.

Encontro meu pai e meu irmão tomando café sentados na mesa conversando sobre coisas do dia a dia e histórias que o pequeno contava.

— Bom dia, minha filha — meu pai abre seu imenso sorriso

Dou bom dia e sorrio de volta sentando a mesa com os dois.

Meu pai e meu irmão são as únicas pessoas que eu tenho da minha família. Perdemos minha mãe para a depressão no ano passado e desde então, tem sido só nós três.

— Hoje é sua entrada na seleção, não é? — meu pai pergunta dando um gole no seu café

— Sim, o José Roberto já me enviou mensagem avisando que é pra estar lá às 9:30 — concluo mordendo um morango

— Entendi, eu estou muito orgulhoso e feliz pela sua conquista, meu amor, saiba que o papai tem orgulho de você e sua mãe também, aonde quer que ela esteja — Escuto ele falar isso e sinto um nó se formar na minha garganta

O luto e a falta de minha mãe ainda são muito presentes na minha vida. Ela era minha melhor amiga e companheira, ela quem me motivou e me ensinou o vôlei, ela quem mais colocou fé no meu futuro dentro das quadras. Tudo o que faço no vôlei hoje, é dedicado a ela.

— e o pequeno hoje? Fica no colégio até mais tarde? — pergunto a ele que assente sorrindo com seu pão de queijo na mão

— hoje tem treino de vôlei — ele sorri e continua

Amor por acaso - Rosamaria MontibellerOnde histórias criam vida. Descubra agora