Capítulo 38

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NICHOLAS HOLLOWAY



Minha vida é um verdadeiro desastre desde que nasci. Só pode ser uma maldição. Começando pela minha mãe, tão jovem, com uma vida longa pela frente, é em um piscar de olhos, tudo mudou. Ela foi machucada, abusada e foi obrigada a me ter. Por fim, teve um dos piores fins.

Porra, como eu o odeio por tudo o que fez.
Me abomino por ter o mesmo sangue que ele, me odeio por ter machucado Clara, mesmo que não me lembre de toda aquela merda.

Saí do quarto de Melissa e entrei diretamente no meu. Foram anos de mentiras, não deveria me afetar, mas caralho, ela está grávida, uma criança, tudo porque fui negligente e irresponsável.

Nunca cheguei a perguntar como Melissa está com tudo isso, com a gravidez, com as últimas descobertas, com o fato de eu ser o pai das nossas filhas.

Encaro a porta, como se eu esperasse que ela aparecesse a qualquer momento. Queria conversar com ela, porém ela deixou claro que queria ficar só.

Tomei um banho rápido, precisava tirar todos os pensamentos da minha cabeça, nem que seja por hoje. Amanhã eu converso com Melissa, não sei o que fazer, terminar a nossa relação? Ser apenas o pai das nossas filhas? Ou esperar até que ela complete a maioridade?

Porra, eu não vou deixá-la. Se necessário, eu espero por dez anos.

Letícia deve estar arrasada com tudo isso, e eu, caralho, estou com raiva. Se não fossem as mentiras, tudo seria bem diferente, mas... como poderia julgá-la se só estava protegendo sua família? Também eu já tinha engravidado Melissa naquela noite, e eu não sabia que ela era menor de idade, porra.

As horas avançam no relógio, mas minha mente está longe de encontrar sossego.

Decidi sair do meu quarto, precisava com urgência de nicotina nas veias. A última vez que fumei um cigarro foi na varanda do meu apartamento com Melissa, e cacete, acho que naquele dia ela já estava grávida.

Peguei o maço de cigarro na gaveta e saí pela porta, indo para a piscina. A noite está amena, apesar do fim do outono. Enquanto a brisa noturna esfria o calor da minha pele, os pensamentos continuam a fluir, incontroláveis.

Temos um irmão. Um irmão. Provavelmente Letícia vai viajar amanhã para encontrá-lo. Ela sabe de algo que ainda não contou. Acho que estava tentando evitar que as coisas ficassem estranhas entre Melissa e eu.

O que não precisou de muito, já que as coisas estão estranhas desde que ela recuperou as memórias de cinco anos atrás.

Deito-me, após apagar o resto do cigarro no cinzeiro e o colocar debaixo da espreguiçadeira. Meu braço serve de travesseiro para minha cabeça. Talvez aqui fora, eu consiga dormir um pouco, já que no meu quarto não consigo, por ser ao lado do dela.

Fecho meus olhos, apenas sentindo a brisa gelada bater em meu peitoral nu. O silêncio que me rodeia é quase tangível, entremeado apenas pelo som do meu próprio respirar e pelo sussurrar do vento, que quase me faz dormir.

— Nossa, olha só para ele... — desperto do meu quase sono quando escuto sua voz suave. Continuo com meus olhos fechados, sinto a movimentação quando ela se senta ao meu lado.

— Vocês duas... — ouço seu suspiro. — Poderiam não chutar a mamãe, vocês sempre ficam agitadas quando estão perto do papai, hein? — sussurra, para que eu não acorde. Seguro um sorriso quando ouço estalar a língua no céu da boca. Amo escutá-la conversar com nossas filhas.

Eu deveria fazer o mesmo, sei que estou sendo um péssimo pai, mas não sei como fazer isso. Não sei como fazer isso além de protegê-las.

— Como as coisas ficarão entre a gente agora? — Sinto seu olhar direcionado para mim, me queimando. Queria dizer que ficaria tudo bem, mas nem eu mesmo sei. — Agh, as coisas estão tão confusas. — Seus dedos acariciam meu rosto suavemente, fazendo minha pele arrepiar.

After the truth Parte 1 - Completo Onde histórias criam vida. Descubra agora