A lua e os coelhos

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A primeira vez que escreveu algo, Jisung tinha apenas quinze anos. A principal razão para isso era nada mais do que o descontentamento com a sua futilidade - ele se permitia pensar naquela época que precisava servir para alguma coisa. Seungmin o contou mais tarde que aquele pensamento infiltrado era apenas autossabotagem. Bem, talvez fosse um pouco mais, mas ele o explicou em palavras simples. Jisung não precisava servir para nada ou a ninguém além dele mesmo etc e tal.

Servir apenas para ele mesmo não era satisfatório. Ele ansiava por fazer as outras pessoas entenderem de onde vinha tudo aquilo que surgia na cavidade do seu espírito.

Jisung era péssimo com tudo, então como ele poderia se satisfazer? Ele não servia para fazer amizades, Seungmin fazia todas por ele. Ele precisava pesquisar suas lições de matemática na internet, até mesmo as mais simples possíveis. Jisung era um desastre absoluto com papel e tinta, quem o permitiria pintar em um quadro? Ele também não conseguia segurar uma bola de vôlei apropriadamente, ou chutar forte o suficiente no gol. Também havia o problema importuno de ser baixinho demais para conseguir se considerar uma atração a qualquer capa de revista.

Era frustrante, sempre faltava um pouco. Ele só queria existir, poxa.

Todo o seu esforço se voltou ao que não existia. A ficção era tudo que ele tinha quando fechava os olhos. Ele viajava entre espaços e imaginava como seria se tudo fosse diferente - se o verde fosse amarelo, se o vermelho fosse azul. Por que ninguém citava isso em voz alta? Por que ninguém questionava a areia nos pés, a pedra no sapato? O raio que entrava pela janela e doía o olho? Jisung descobriu que era porque havia um certo culto. O culto de pessoas que usavam as palavras escritas, não muito frequentemente faladas. Elas botavam em um extenso espaço imaginário tudo que queriam ver e sentir, mas não conseguiam porque o mundo era rígido, estrito, meio limitado.

Então ele se permitiu viajar, afinal.

Até porque, como seria se falassem em voz alta tudo que escreviam no papel? Certo, algumas pessoas apostavam em lugares diferentes - havia o cinema, as pinturas e as esculturas. A música, é claro, a dança. Mas então tinha as palavras. As palavras. Jisung nunca entendeu como poderia ter considerado qualquer coisa além disso. As palavras eram como a chave para outro universo, onde tudo o contentaria ou descontentaria na medida certa. Era um poder, uma arma.

Porque quando Jisung via algo muito bonito, ele deixava as palavras contarem por ele. Sua boca sequer precisava trabalhar, ele digitava furiosamente em seu computador. O que era aquele lindo céu azul no céu se não um mero personagem de seus pensamentos frenéticos? Era viciante tornar tudo diferente - poder ver em fragmentos quando todos os outros enxergavam como uma coisa só.

Era quase uma benção pensar demais em coisas tão simples. Observar cada detalhe, respirar o ar ao redor e apreciar o cheiro como se fosse algo totalmente inovador. Era tudo que ele tinha. Nada era melhor do que descobrir a sua capacidade de desmontar e montar de novo como se tivesse nascido para isso.

Era satisfatório.

Até não ser mais.

Quando seus dedos travavam no teclado, Jisung sabia que estava se prendendo em paredes altas. Elas encurralavam qualquer pensamento em seu cérebro mole, tornando quase impossível sentir qualquer coisa além de apatia. Isso acontecia com certa frequência, mais do que ele poderia dizer. Ele estava nessa fase, na verdade. Havia uma certa diferença de quem escrevia por obrigação e de quem fazia por amor, ele sabia disso. Jisung tinha certeza de que aquilo era problema. Ele odiava fazer o que amava por pura imposição - por mais que fosse seu trabalho e tudo mais. Era sufocante.

Jisung não conseguia adivinhar nem por onde começar quando isso acontecia. Era como ter seu pulmão bloqueado e suas vias respiratórias entupidas. Angustiante.

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⏰ Última atualização: Aug 25 ⏰

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