Pedras e flores

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Han Jisung não entendia por que era tão difícil se apaixonar.

Ele poderia facilmente entender como era difícil fazer uma apresentação emergencial para quarenta homens ricos dentro de uma sala de escritório fechada, quando tudo que tinha era uma prancheta rabiscada e ordens dadas há menos de uma hora, e ele possuía nada mais do que uma ansiedade social iminente estourando suas veias.

Ele conseguia entender como era difícil não se atrasar para um compromisso matinal, uma reunião às sete e meia no prédio comercial da sede, há vinte e cinco quilômetros da sua casa, tendo apenas o trem hostilizado como meio de transporte mais acessível.

Ele entendia como era difícil ser um mero estagiário, batendo os pés no piso chumbo que arrastava o seu sapato engraxado. Mesmo que ele fosse elogiado pelos esforços, sua inteligência prestigiada e sua apresentação cativante, ainda era complicado chegar a esse nível com apenas vinte e quatro anos. Era difícil, foi difícil.

A questão aqui? Bem, ele conseguiu passar por tudo isso. Mas Jisung ainda não conseguiu descobrir o que era aquilo que todo mundo parecia entender menos ele. O enigma do mundo.

"Você está exagerando." Seungmin e ele estavam em uma cafeteria muito famosa no centro da cidade. Estava muito frio, e mesmo com o aquecedor do local ele podia ver com clareza o ar condensante sair dos lábios do seu amigo muito bonito sentado em sua frente. "Você sabe que sempre exagera."

Era verdade, Jisung exagerava com certa frequência. Ele podia contar? Provavelmente não. Ontem à noite foi o problema da frigideira quente demais. Ela era feita de aço inox, Jisung encostou nela com os dedos crus, sem pensar muito sobre como ela estava no fogo há cinco minutos, fritando seu ovo. Apenas consequências evitáveis. Mesmo assim ele fez muito drama e chorou no colo do garoto mais velho, implorando por socorro até que tivesse uma bandagem ao redor dos dedos.

Seungmin era a voz da razão na maioria das vezes. Ele era psicólogo, e sua artimanha principal era usar todo o seu fruto de conhecimento para destrinchar seu amigo de infância – humilhá-lo, dissecá-lo, despi-lo com palavras.

Jisung podia escrever o que fosse, mas para Seungmin sempre faltaria sentimentos no seu grande sanduíche de letras. Ele sempre dizia que Jisung estava perdendo algo. Que Jisung não sabia sentir a intensidade do que estava contando, então não adiantava se arriscar nos romances – o terreno desconhecido empobreceria suas ideias. Faltava o tempero da sinceridade, ele dizia.

Frustrante era saber que ele estava certo.

"Mas, bem, eles estão me empurrando no poço do romance há semanas, você sabe. O que eu deveria fazer?"

Sua editora queria que Jisung escrevesse um romance. Era um pouco irônico, considerando que ele estava há um ano, desde que entrou na empresa, publicando receitas e biografias de restaurantes antigos dos moradores locais. Houve um certo tempo em que ele questionou isso – se perguntou qual era seu verdadeiro valor como redator. Ele queria escrever, tipo, de verdade. Ele queria encantar, causar emoções no leitor, plantar sementes e decifrar ideias enterradas. Ele implorou por isso o suficiente para lhe oferecerem uma chance de publicar algo decente em seu nome.

Era a oportunidade que surgiu. Jisung teria que escrever a droga de um romance, esse era o problema. Eles diziam que era o que o público buscava hoje em dia. Jisung não entendia a necessidade de se enterrar em algo tão básico – Jisung nunca viveu um romance. Ele apenas assistiu, leu, presenciou por pouco mais de quinze anos até a relação de seus pais começar a esfriar completamente. Como ele iria entender algo tão longe da sua realidade?

Ele era bem capaz como artista, sabe. Era sim capaz de criar contos de batalhas sangrentas, dragões descomunais, multiversos sombrios e vida após a morte. Ele podia falar sobre vampiros, lobisomens, ou simplesmente sobre pessoas em seus dramas diários. Ele sabia desempacotar qualquer assunto, eram necessárias algumas pesquisas e surgia em sua mente qualquer cenário, cor ou vida, como um mago com um teclado. Jisung era muito capaz de construir sobre tudo isso.

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