Capítulo 2: O Sussurro do Passado

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A luz da manhã filtrava-se pelas cortinas, dançando suavemente sobre o chão de madeira do apartamento de Alexander. Ele se sentou na beira da cama, perdido em pensamentos, enquanto a imagem de Lilian surgia em sua mente como um sussurro distante, mas vibrante. A lembrança de como se conheceram ainda o fazia sorrir, mesmo em meio à tempestade que sua vida se tornara.

Foi durante o ensino médio, em um dia abafado de outono, que suas vidas se cruzaram pela primeira vez. Lilian tinha apenas 15 anos quando chegou dos longínquos rios do Amazonas, trazendo consigo a essência de sua terra natal. Seus olhos, de um tom único de mel claro com pintas verdes, eram verdadeiramente cativantes. Dependendo da luz, pareciam mudar de cor, assumindo ora um verde profundo, ora um dourado brilhante. Seu cabelo escuro e liso caía suavemente sobre os ombros, emoldurando um rosto que exibia uma beleza natural e serena. A pele bronzeada contrastava com o uniforme escolar, e seu jeito tímido, marcado pelo forte sotaque, só acentuava o encanto que Lilian tinha.

Alexander, já popular na escola, foi designado como tutor de Lilian. Ele se lembrava de como, na primeira vez que se sentaram juntos para estudar, ela olhou para ele com uma mistura de nervosismo e esperança. Estavam na biblioteca da escola, cercados por livros e pelo silêncio ocasionalmente quebrado pelo som das folhas sendo viradas. Ele tentou iniciar uma conversa para quebrar o gelo.

"Então, Lilian, já ouviu falar dos três 'Rs'?" Alexander perguntou com um sorriso brincalhão, esperando que um pouco de humor ajudasse a relaxá-la.

Lilian levantou uma sobrancelha, confusa. "Três 'Rs'? Você quer dizer... ler, escrever e contar?" Ela respondeu, pronunciando com uma leve dificuldade que acentuava seu sotaque brasileiro.

Alexander soltou uma risada suave. "Não exatamente! São as três coisas mais importantes para sobreviver na escola: Respeito, Resiliência e... Recesso!"

Lilian piscou algumas vezes antes de explodir em uma risada que surpreendeu até a si mesma. Ela cobriu a boca com a mão, tentando conter a risada, mas seus olhos brilhavam com diversão. "Recesso, né? Acho que vou ter que me concentrar bastante nesse último!"

"Ah, o recesso é a parte fácil," Alexander brincou, sorrindo ao ver que ela estava se sentindo mais à vontade. "Mas, falando sério, eu sei que pode ser difícil se adaptar. Se precisar de ajuda com qualquer coisa, estou aqui."

Lilian deu um sorriso tímido, ainda um pouco envergonhada. "Obrigada, Alexander. Eu realmente vou precisar. Especialmente com esse inglês... meu inglês às vezes parece tão... embolado. Como se eu estivesse tentando falar com o rio Amazonas na boca!"

Alexander riu mais uma vez, encantado pela forma espontânea e engraçada com que Lilian se expressava. "Bem, pelo menos você traz um pouco da Amazônia para cá. E, por experiência própria, posso dizer que a prática ajuda. E quem sabe, até pode ser divertido!"

Os dias se transformaram em semanas, e Alexander se viu cada vez mais fascinado pela força de vontade de Lilian. Ela não se deixava abater pelos desafios; em vez disso, lutava para se adaptar, sempre com um sorriso no rosto, e transformava suas dificuldades em momentos engraçados. Por exemplo, quando se confundia com expressões idiomáticas em inglês e acabava inventando as suas próprias.

"Então, Alex, eu ouvi uma expressão nova hoje. 'Break a leg'. Isso quer dizer que você vai se machucar ou é algum tipo de piada interna que vocês, americanos, têm?"

Alexander tentou não rir, mas a expressão curiosa de Lilian era irresistível. "Na verdade, significa boa sorte! É uma expressão que usamos principalmente no teatro, mas funciona em qualquer situação."

DRAGON BLUE EYES: O preço do poder.Onde histórias criam vida. Descubra agora