' NATTY
Uma infinidade de blá-blá-blás preenchiam a sala com um eco absurdo. Parecia um show com o som alto sem a parte divertida. O professor estava encostado na porta que levava ao depósito.
Estávamos sentadas ao redor de uma mesa em cadeiras perigosamente altas e bambas. Não entendia o propósito de ser uma escola de elite com cadeiras de segunda.
Rolei meus olhos pela quinta vez naquele dia e Julie me encarou.
O sinal tocou e uma avalanche de estudantes saiu, exceto nosso grupo. O professor parou na porta e se virou.
— Vocês não vão sair? — Ele parecia preocupado.
— Temos que conversar. — Respondi com minha postura impecável.
— Não voltem tarde para casa, ok? Essa rua é um pouco perigosa a noite. — Assentimos.
— Precisamos nos encontrar na casa de uma de nós para fazermos o trabalho. — Começei assim que o professor saiu. Todas pareciam entediadas, nunca se interessaram por nada que não seja fútil.
— Por que não jogamos isso tudo para o ar e tomamos um sorvete? — Sugeriu Belle, levantando seu queixo vermelho do seu braço que descansava em cima da mesa. O que eu disse mesmo?
Todas a encararam. Menos Haneul, que sorriu à ideia.
— Esquece, deixa para depois. — Me levantei da cadeira com livros entre os braços e elas também.
Até que Julie fez uma careta.
— Que foi, Julie? — Perguntei.
— Vocês tão sentindo esse cheiro? — Ela disse e nós mexemos a cabeça negativamente.
— Cheiro? — Haneul cheirou o ar — Não é de mim! Eu não peidei!
— Óbvio que não, Hal. É um cheiro mais... diferente.
Julie rodou a sala enquanto prestava atenção no cheiro. Achava que ela finalmente tinha enlouquecido. Até que ela parou em frente à porta do depósito e abriu, deixando um grito rolar pela sua garganta e nos assustar inteiramente.
— Que merda, Julie? — Eu e as meninas fomos até ela para ver o que tinha a horrorizado.
O corpo. Feminino. Com cor de inverno. Apertado no depósito pequeno. Tudo parecia não-natural, estranho, e eu não poderia dizer o que era. Não havia sangue, apenas um par de olhos abertos como se fosse um zumbi.
Depois disso, eu tenho apenas um branco. Minha memória se esvaiu e eu não lembrava de mais nada. Apenas do corpo esmagado entre as paredes mórbidas do depósito.
🔪
Fiquei muito assustada quando desmaiei. O corpo havia aterrorizado todas nós, sem dúvida, e definitivamente todos que entraram na sala de química após o grito de Julie.
Uma tontura me impedia de deixar a ficha cair de que eu havia visto alguém morto. Não podia. Quando falei que isso poderia acontecer aqui, não sei se falei sério. Realmente, esse acontecimento virou a escola do avesso, e ouvi rumores que estavam tentando conectar esse assassinato com o da Avenida 5.
Eu ouvi a enfermeira sinalizar que elas poderiam me ver na ala médica. Eu estava deitada em uma maca, ofegante. Haneul foi até mim mas não me abraçou. Passou a mão pela minha testa e fez uma cara de preocupada.
— Está bem? — Ela perguntou.
— Não muito. Eu vi um... — Coloquei a mão no peito.
— Todas nós vimos. — Diz Belle.
— Já tiraram aquilo de lá. Logo tudo vai voltar ao normal. — Julie cruza os braços abaixo de sua clavícula.
Eu continuava imóvel. Suspirei fundo e apertei meus olhos. Precisava sair de lá e ficar um pouco sozinha.
— Vou no banheiro. — Anunciei, ainda meio tonta mas precisando de um ar.
Saí pela porta e fui até o banheiro mais próximo, me trancando na cabine e me sentando no vaso. Apoiei meu cotovelo em meu joelho e senti leves lágrimas pintarem meu rosto. Não queria ficar fraca. Não posso ficar fraca. Me senti segura durante um momento naquela cabine, como se meu corpo fosse uma casa que ninguém pode demolir.
Ouvi passos andarem sobre o azulejo e alguém bater na porta da cabine.
— Tem gente. — Gritei, ainda chorosa.
Mas as batidas não pararam.
— Belle? Julie? Neul? — Perguntei, mas não houve resposta, assim como o barulho não parou. Decidi destrancar a fechadura para confrontar quem estivesse ali.
A porta se abriu e as lágrimas borravam minha visão. Uma menina, isso era tudo que eu conseguia identificar. Ela me pegou pelo meu braço e nos trancou na cabine. Ela me virou e prendeu seu braço ao redor do meu pescoço. Eu tentava sair. E não conseguia.
Aos poucos, eu sentia cada vez mais dificuldade para respirar. E ainda mais a mulher colocava mais pressão. Tentei me libertar entre as paredes do banheiro pequeno, apertado, escuro.
Eu conseguia sentir o gosto do sangue. O gosto da morte.
A mulher pegou uma faca, vendo que eu ainda me debatia. Ela a posicionou sobre o minha bochecha, a aproximando cada vez mais.
Eu comecei a me debater mais, o barulho dos meus membros batendo no azulejo sendo o único som presente.
Até que consegui deslizar por baixo de seus braços.
Não tinha tempo de eu destrancar o banheiro. Não tinha tempo de eu fugir. Não. Tinha. Tempo.
Peguei sua faca e a esfaquiei repetidamente no estômago. Apesar de fechar os olhos, conseguia sentir o sangue respigando em meu rosto, felizmente sem cortes.
A mulher soltava alguns gemidos baixos sôfregos e doloridos, que cessaram após algum tempo. Murmurei coisas sem sentido e prossegui tremendo enquanto abria a fechadura.
Me limpei enquanto chorava e consegui tirar as manchas de sangue da minha roupa. Tranquei a porta do banheiro e peguei a faca. A escondi embaixo de um azulejo solto e o coloquei perfeitamente de volta. Não tinha ideia melhor naquele momento.
Eu sabia que iam me descobrir. Eu merecia que me descobrissem.
Sai do banheiro e voltei a ala médica.
— Tudo bem, Natty? Demorou muito. — Belle pergunta.
— Tudo bem. — E então engulo o resto de sangue que restava em minha boca.
🔪
NOTAS DA AUTORA:
já começou assim ((como eu gosto hehe
eu não sou boa com plotwist, mas vou tentar fazer algo legalzinho para vocês
dica: prestem atenção em tudo, um detalhe pode ser uma pista (ou não 😼)
até o próximo cap !
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𝐌𝐎𝐍𝐄𝐘, 𝐁𝐋𝐎𝐎𝐃 𝐀𝐍𝐃 𝐂𝐇𝐀𝐎𝐒 ✦ 𝗄𝗂𝗌𝗌 𝗈𝖿 𝗅𝗂𝖿𝖾
Fanfiction──── ℰm TTG, uma escola de elite, nada acontece. A atmosfera é chata, tudo é entediante. Tudo até assassinatos comecarem a acontecer. Várias pessoas entram em pânico, tentando não se envolver. O que eles não esperavam é que o grupinho de patricinhas...