capítulo 6 - seus olhos

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Demi

Estávamos sentadas naquela varanda encantadora, trocando confidências como duas tagarelas. O sol se punha, tingindo o céu de tons alaranjados, e a atmosfera estava leve e descontraída.

Ela abriu uma garrafa de vinho e, com um sorriso travesso, teve a audácia de perguntar se eu poderia beber. Brincou que ligaria para a Dallas caso eu exagerasse.

- Quando você entrou nesse mundo? - indagou, levando a taça aos lábios com um ar de curiosidade.

- Da música? - perguntei, tentando entender.

- Você é atriz também, não é? - sua voz carregava um tom intrigado.

- Você está bem informada, não? - respondi, franzindo o cenho enquanto notava suas bochechas ruborizadas.

- É tão fácil saber sobre você; é só dar um Google - ela riu. - Mas espero saber muito mais.

Fiquei sem graça com o elogio e senti meu rosto queimar. Os olhos dela eram os mais belos que eu já havia visto.

- De quem você puxou esses olhos lindos? - perguntei, sorrindo como uma boba.

- Da minha mãe - respondeu, e uma expressão nostálgica surgiu em seu rosto.

- Você tem algum problema com a sua mãe? - fui direta. - Quando falamos dela na cozinha, você agiu estranho; não quis insinuar nada...

- Está tudo bem, Demi. Não é nada disso - ela se ajeitou na cadeira, parecendo mais à vontade.

- Então o que é? - insisti, curiosa.

- Eu perdi minha mãe quando ainda estava na faculdade. Descobrimos que ela tinha leucemia no mesmo dia em que consegui a bolsa de estudos.

- S/n, sinto muito - alcancei sua mão e acariciei suavemente, tentando transmitir conforto. A perda da minha mãe sempre me deixara em dúvida sobre o que seríamos eu e as meninas sem ela.

- Está tudo bem. E você iria adorar conhecê-la.

- Me fala sobre ela! - pedi animada.

- Mesmo?

- Sim! - afirmei com entusiasmo.

- Minha mãe teve o azar de engravidar de um pivete irresponsável e então nasceu eu, o cúmulo da perfeição - disse ela com ironia, arrancando uma risada minha.

- Eu e minha mãe enfrentamos muitas dificuldades no Brasil. Finalmente, decidimos vir para cá para que ela pudesse ser gerente do restaurante da amiga. Eu me adaptei muito bem; quando cresci, comecei a ajudá-la com as papeladas.

- Você aprendeu a cozinhar com ela? - perguntei admirada enquanto ela assentia com um sorriso radiante. - Que talento!

- Você é uma fofa, sabia? - depositou um beijo suave em minha bochecha.

- Sim, muito obrigada! - respondi entre risos, colocando a língua entre os dentes.

- Convencida! - revirou os olhos enquanto sorria para mim. Em seguida, levantou as sobrancelhas e disse: - Mas você ainda não me falou sobre você.

- Acho que deveríamos deixar a conversa sobre mim para depois - comentei, percebendo seu olhar passear entre meus lábios e meus olhos, um misto de curiosidade e diversão.

Coloquei minha taça na mesa à nossa frente e, com um impulso atrevido, levantei-me para sentar em seu colo, cruzando as pernas de maneira casual.

- Você não acha? - perguntei, enquanto retirava a taça de suas mãos, desafiando-o a me responder.

 Memórias Perdidas: O Recomeço de Demi e S/nOnde histórias criam vida. Descubra agora