Audácia - (percabeth)

Tatuagem - (capítulo único)

Annabeth.

Luke e Chris tentaram me jogar no Fosso.

Eu sempre soube que Chris me odiava. Ele fez questão de demonstrar isso desde que o treinamento da Audácia começou. Já teria me matado se não corresse o risco de se tornar um sem-facção por isso.

Mas Luke? Ele era amigo de Thalia e eu. Sentava na nossa mesa no refeitório na hora do almoço, ria conosco. Até treinávamos juntos às vezes.

Eu estava me sentindo traída.

Não entendia o motivo dele ter feito isso, e estava tão chocada que nem conseguia pensar a respeito. Eu estive a centímetros, milímetros, de despencar para a morte. Acho que em todo esse tempo aqui, nunca corri tanto risco de vida. Não me senti tão ameaçada nem mesmo quando Ethan me pediu para ficar em frente ao alvo enquanto Percy arremessava facas em mim.

Percy.

No início, eu achava meio irritante o fato de ele estar sempre me sondando, mas agora não poderia estar mais grata por isso. Ele me salvou. Deu uma surra em Chris e afugentou Luke antes que pudessem me machucar.

E essa é a história do porquê estou sendo carregada pelo meu instrutor nos corredores da Audácia no meio da madrugada. Os dois idiotas me bateram na cabeça para que estivesse desacordada enquanto me arrastavam até a beira do Fosso. Nunca fui muita boa em combate corpo a corpo e Luke e Chris, assim como o Percy, tinham o dobro do meu tamanho. Me derrubar não chegava a ser um desafio.

Penso que ele está me levando de volta para o dormitório dos iniciandos, mas Percy pega outro caminho. Não tenho coragem de falar nada. Na verdade, ainda estou me sentindo meio tonta. Escuto o barulho de uma porta sendo aberta e então fechada outra vez.

Ele me coloca numa cama. Vejo sua silhueta desaparecer por trás de minhas pálpebras e me forço a abrir os olhos. Conto até dez e me sento, esfregando as palmas suadas nas laterais da calça. Estou no quarto dele, percebo depois de algum tempo. Na cama dele. É estranho e um pouco assustador, mas também não tenho tempo para pensar nisso.

Percy está de volta, parecendo apressado. Ele tirou a jaqueta que usava e parou em minha frente, oferecendo-a.

— Veste isso. — seu tom não era sugestivo, era quase... autoritário. Ele parecia estar sempre com raiva de alguma coisa, raramente sorria, e hoje não era diferente apesar da situação um tanto incomum.

— Obrigada. — minha resposta sai baixa enquanto enfio os braços e aperto o tecido contra meu corpo. Estou vestindo pijama, o padrão dos iniciandos. Me faz sentir exposta, e a jaqueta traz alguma segurança.

O cheiro dele está impregnado nela.

— Você está segura aqui. — Percy fala de novo, se ajoelhando em minha frente e observando minhas mãos.

Elas foram machucadas devido as minhas tentativas falhas de socar os músculos duros demais de Luke e Chris. Há alguns hematomas e um pouco de sangue entre os nós dos dedos. Percy molha um pano em um balde e torce, usando-o para limpar as feridas.

O primeiro contato arde e meu reflexo imediato é de segurar a mão dele. É tão rápido e tão constrangedor. Logo seus olhos verdes estão fixos nos meus e minha pele faz contato com a sua. Sinto uma corrente elétrica subir pelos meus braços, dando choque no meu cérebro.

— Desculpa. — consigo formular, puxando a mão intrusa de volta.

— Não tem problema.

Percy volta a tarefa como se aquele breve momento nunca tivesse acontecido e tento me manter quieta, mas é difícil ficar em silêncio com ele. Parece... errado, e também é um pouco embaraçoso. Percy está me tocando e eu estou vestindo a jaqueta dele. O silêncio entre nós dois é horrível.