Capítulo 03

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Pânico

Eu fico parado ali, vendo a Thamires ir embora com aquele moleque. Cada passo dela é como uma faca cravando mais fundo em mim. Eu sei que não deveria me importar, que já passei por coisa pior, mas não dá pra ignorar o que eu sinto. Thamires... ela sempre foi diferente. Desde os tempos de escola, eu sabia que ela tinha algo que as outras não tinham. Mas agora, vendo ela se afastar com aquele cara, tudo que eu quero é voltar no tempo e fazer as coisas do jeito certo.

Respiro fundo, tentando segurar a raiva que tá borbulhando dentro de mim. Não posso agir por impulso. Aprendi isso da pior maneira, lá dentro. Tenho que ser mais esperto agora. Mas a verdade é que tô queimando por dentro. Vejo a Thamires beijando aquele otário na minha frente, e tudo que eu quero é meter a mão nele, mostrar pra ele quem manda nessa porra. Mas não vou fazer isso. Não aqui, não agora.

Quando eles somem na esquina, me viro e vou direto pra casa do Rodrigo. Ele é meu parceiro, a gente passou por muita coisa junto, inclusive a FEBEM. Se tem alguém que sabe de tudo que rola por aqui, é ele. E eu preciso de informações. Não posso dar um passo em falso.

Chego na casa dele e bato na porta. Rodrigo abre com aquele jeito relaxado de sempre, mas logo percebe que eu não tô pra brincadeira.

- Fala, GG. Qual é a bronca? - Ele pergunta, franzindo o cenho.

- Preciso que cê descubra tudo sobre um cara, Rodrigo. Não deixa passar nada. - Digo, firme. Ele entende o recado e me faz entrar.

- Quem é o alvo? - Ele pergunta, já pegando o celular, pronto pra começar a mexer nos contatos.

- Aquele playboyzinho que tá andando com a Thamires. - Respondo, sentindo a raiva ainda queimando por dentro. Rodrigo arqueia uma sobrancelha, claramente surpreso.

- O namoradinho da Thamires? Aquele certinho que faz faculdade? - Ele solta uma risada curta, mas percebe que não tô com paciência pra brincadeira.

- Eu não quero saber da fachada dele, Rodrigo. Quero saber quem ele realmente é. E rápido.

Rodrigo acena e começa a fazer umas ligações. Eu fico andando de um lado pro outro, tentando manter a calma. Não demora muito pra ele levantar a cabeça com uma expressão que eu não esperava.

- GG, esse tal de Lucas... Ele pode até parecer certinho, mas tem coisa por trás. Cê sabia que ele é chegado num lança?

Lança? Tá falando sério? - Minha testa franze.

- Tô. O moleque vive por aí comprando, mas ninguém na família sabe. Ele finge ser o filhinho perfeito, mas tá longe disso. E parece que anda devendo pra uns caras aí... não demora muito pra ele se ferrar bonito.

Eu fico em silêncio, digerindo a informação. Então, o bonitão não é tão limpo quanto parece. Isso muda tudo. Um moleque desses não merece a Thamires, nem metade do respeito que ele tenta ostentar. A raiva volta com força, mas junto vem uma sensação de controle. Agora eu sei o que fazer.

- Rodrigo, quero que cê continue de olho nele. Se ele vacilar, quero saber. Cada passo. Cada erro. Vou acabar com a pose desse otário. - Digo, já sentindo o plano se formar na minha mente.

Rodrigo acena de novo, entendendo o recado. Eu saio da casa dele e volto pro morro, tentando manter a calma. Agora, mais do que nunca, sei que preciso ser paciente. Vou pegar esse moleque no momento certo, e quando isso acontecer, ele vai entender quem manda nessa porra.

Vou subindo o morro olhando as crianças na praça brincando, algumas pessoas me cumprimenta e eu retribuo, vejo a quadra cheia de menor correndo, paro olhando para eles e vejo meu pai parando do meu lado.

- Antes era você lá, se tivesse me escutado, mas você quis a minha vida. - Virei o rosto pra ele. - O que eu faço com você Gabriel?

- Qual foi pai, sabe que eu não nasci pra cuidar disso, não nasci pra ficar no seu lugar. - Ele passou a mão na minha nuca e a apertou.

- Qual foi moleque, ta achando que ta falando com quem? - Ele me arrastou dali até em casa, me jogou no sofá. - Eu dei um duro danado pra cuidar de vocês, tu fez aquela merda, que eu falei varias vezes pra não fazer, agora vai ser do meu jeito Gabriel.

- Eu não quero ficar em ponta de favela, muito menos em beco vendendo droga. - Retruquei e ele estava virado de costas pra mim, meu pai se virou com um copo na mão.

- Eu não quero saber o que você quer ou não Gabriel, eu te dei opção quando você era menor, tu teve a chance de estudar e ser a porra de um homem que eu não fui. - Ele se aproximou e pegou no meu pescoço apertando. - Agora você vai ser o que eu quiser que você seja, vou me aposentar e você vai cuidar disso.

- Eu não quero. - Falei tentando tirar a mão dele de mim.

- Eu também não queria você nessa vida, mas você não me deu outra escolha. - Ele me soltou e tomou o líquido do copo. - Agora sobe, sua mãe não te viu ainda d eu vou trabalhar, quero você pronto amanhã cedo, vou te mostrar como as coisas vão funcionar agora.

Me levantei batendo o pé e subi as escadas, fui para o quarto dos meus pais e minha mãe estava sentada na cama mexendo no celular, bati na porta e ela me olhou se levantando, ela veio até mim e me abraçou.

- Que saudade meu amor, como você tá? - Ela me encheu de beijos enquanto eu tentava me esquivar. - Nunca mais você me apronta uma dessas, seu pai ja deixou claro que não vai mais fazer nada pra te livrar dessas merdas.

- Meu pai ta maluco, esse negócio de proteger o morro sobe a cabeça dele. - Falei e ela me encarou. - O que? A senhora defende ele.

- Seu pai fez de tudo por vocês, sempre, você não teve juízo, eu não vou me meter dessa vez e não vou brigar com ele. - Ela me soltou. - Gabriel, faz o que ele pede, evita problemas, seu pai precisa de uns dias de férias.

- E por que ele não deixa outro no lugar? Por que eu? - Falei irritado. - Pow mãe, eu gosto de ser livre, curtir minhas festas, sair pra pista, eu não nasci pra ta enfurnado nesse morro cuidando de ninguém.

- Não vou me meter Gabriel, você ja tem 18 anos, voltou pra casa e eu só quero continuar a ter paz. - Ela se afastou e voltou pra cama. - Vai tomar um banho, você ta fedendo a puta barata.

- Muito tempo preso sem ver mulher né mãe. - Sorri e ela pegou o chinelo me acertando antes que eu pudesse correr.

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