tres

1 0 0
                                    

Basile Beauchene inspirou o gosto acinzentado e queimado que tomou conta de sua língua quando viu o piloto de Fórmula 1 do momento entrar no Palladium.

O bar não era nem perto do que alguém como Alexandre Duarte provavelmente estava acostumado a frequentar. Mas enquanto substituiu o gosto desagradável por um gole de Tom Collins, o drink feito com gim, limão, açúcar e água com gás, Basile acreditou entender por que o local lhe chamou a atenção.

O Palladium Bar não estava em um local de destaque noturno, mas soube fazer o seu nome. Em um bairro completamente comercial, e por isso se apagava pela noite, a presença de pessoas demais, muito barulho e música para o incômodo de possíveis vizinhos era zero. Era tudo o que um bar precisaria para já ser uma boa opção para quem quisesse curtir a noite, certo?

Bom, isso e os carros. O Palladium não chamava a atenção apenas pela localização deserta ao redor ou a decoração neon de centavos que, organizada de forma inteligente, até passava uma sensação de que valia mais do que cobrava. Não. Palladium Bar também era o lar daqueles que gostavam de quebrar algumas regras, conquistar e roubar com a velocidade de carros de luxo que eram mais caros que a mensalidade de suas faculdades privadas, mais caros que a mesada que seus pais empresários e corruptos davam semanalmente.

Palladium era o ponto de referência para as corridas ilegais de Le Castellet. Uma pequena zona segura para os desajustados e rebeldes. E é claro que Basile fazia parte disso.

E obviamente Duarte seria atraído por aquilo. Ainda do lado de fora do bar, o piloto parecia querer se misturar – apesar do casaco Prada que chamaria a atenção de qualquer idiota que olhasse na sua direção, o que era uma escolha muito burra da parte dele – enquanto se abaixava suavemente para ver o aro de uma das rodas de um Tesla estacionado. Alexandre fez uma careta.

Aro desproporcional, eu sei, pensou. Basile engoliu mais uma vez o gosto que era ver aquele cara ali, virando-se na direção do balcão. Não era como se pudesse – ou devesse – dar tanta atenção para o piloto.

— Parece que temos um novo tipo de fracassado frequentando esse lixo — Moreau disse, apoiando os cotovelos sobre o balcão de madeira escura. O barman deveria estar trabalhando, mas aquela noite parecia feita para encher o saco de Basile. — É seu amigo?

— Tenho cara de quem faria amizade com ele? Me poupe, Moreau. — O tatuado revirou os olhos, sem saber se estava mais irritado pela provocação do amigo ou pela simples presença de Alexandre Duarte. Quanto tempo teriam até que alguém o reconhecesse e começasse uma bagunça? Ainda pior, quanto tempo teriam até que uma foto dele parasse na internet e Palladium deixasse de ser seu pequeno espaço desconhecido, frequentado apenas por universitários fracassados que gostavam de quase enfiar o carro em um muro por uma quantidade modesta de euros? — O cara parece perdido pra caralho aqui.

Basile olhou novamente na direção da entrada enquanto puxava o vape do bolso, observando duas garotas conversarem com o piloto. Em inglês, provavelmente, porque duvidava que Duarte soubesse mais que duas palavras em francês. Ele tinha o sorriso de sempre no rosto, o sorriso que pedia por atenção, que a conseguia facilmente porque ele sabia que era digno dela. Basile tentou substituir a sensação contínua de que estava mastigando cinzas na boca com a essência de pêssego do vape, sem muito sucesso.

Alexandre Duarte era tão apagado, olhando-o pessoalmente. Nem mesmo os flashes de câmeras conseguiram mudar isso por muito tempo. Um rostinho bonito, de fato, mas teria algo mais que isso?

Ok, um rostinho muito, muito bonito. Um corpo admirável. Basile poderia facilmente chamá-lo para foder em outras noites, mas sua paciência não estava uma das melhores nessa em questão.

Sinestesia - Cora MenestrelliWhere stories live. Discover now