(love)

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O que é amor?

Qual o sentido de ter uma pessoa? De amar? Eu costumava acreditar que o amor não existia, me incluía na pequena parcela de pessoas que enxergava esse "amor de filmes" como uma grande mentira. Claro, eu julgava tudo de fora. Não entendia sobre amor porque nunca tinha amado.

Via o carinho da minha avó por mim como uma esperança de que eu voltasse atrás e aceitasse viver os sonhos que ela não conseguiu. Observava a forma como todos que se diziam apaixonados queriam apenas se aproveitar do meu título. Sentia os olhares na rua apenas por minha boa aparência ou pelos carros caríssimos que usava. Se todo amor que conheci em minha vida não era real, então como eu poderia pensar diferente?

Hoje sei o quão errada estava.

Anueng me ensinou o que era amor, ela quem mostrou que amar não exigia nada.

O nosso amor é querer estar perto sem motivo algum mesmo depois de tantos anos, é sentir uma força nos puxando na mesma direção, rir de piadas completamente sem graças, passar horas ouvindo histórias e queimar minha camisa favorita por medo do azar. Mas nosso amor também é não conseguir fugir, não desistir depois dos erros, não ter medo de mostrar a parte ruim, é a dor quando há distância e o medo de perder.

Amor não tem explicação. Era exatamente isso que a primeira novel que lemos juntas disse, eu só era um pouco cabeça dura demais para entender o que meu coração já estava gritando.

— Ar-Nuuueng! — Me viro instintivamente ao ouvir o tom alegre, o sorriso dominando meu rosto antes mesmo que meus olhos pudessem lhe encontrar. — Já está parada aí faz cinco minutos! Estava olhando para alguma menina?

— Só pensando, não estava olhando para ninguém.

Anueng podia estar com os traços um pouco mais firmes, olhos mais maduros e o cabelo um pouco mais curto, mas as coisas que tinham me conquistado continuavam as mesmas. Seu sorriso largo ocultando o ciúme sutil – às vezes não tão sutil – era como a dezesseis anos atrás, sempre a mesma garotinha do dia que nos conhecemos... a mesma que tinha feito todas as minhas defesas desabarem. Talvez tenha sido a familiaridade que me fez não temer o olhar curioso que foi dado em minha direção, como se a mais nova estivesse procurando algo errado em minhas palavras.

O silêncio nos acompanhou por alguns segundos enquanto nosso foco se perdia no mar calmo à nossa frente. Hua Hin tinha se tornado um dos nossos lugares desde a primeira vez que viemos para a cidade, foi aqui que demos o nosso primeiro beijo e também foi onde tomei coragem de lhe pedir em casamento, agora era o lugar onde quase todas nossas memórias de verão eram construídas.

— Só pensando? — Se aproximou, envolvendo meu corpo em um abraço de lado, e instintivamente, passei o braço ao redor dos seus ombros trazendo-a ainda mais para perto. Sua cabeça descansava suavemente no meu ombro e eu podia sentir sua respiração calma se unindo a minha. Era como se, com ela ao meu lado, tudo no mundo estivesse no lugar certo.

Voltei meu olhar para o horizonte, mas meus pensamentos continuavam nela, em nós. Anueng era o meu porto seguro, a única pessoa que me permitia ser eu mesma sem nenhuma máscara, ela era o meu ponto de paz mesmo nos momentos mais turbulentos.

Cada pequena coisa que ela faz – o jeito que me olha, como sorri para mim, como ri das minhas piadas ruins. – O amor que sinto não é algo que consigo explicar completamente, mas é profundo, constante, e me dá forças que eu nunca imaginei ter.

Eu sempre fui tão focada em ser forte, em controlar cada aspecto da minha vida, que nunca me permiti acreditar que alguém pudesse ser digno de mim ou que eu pudesse ser vulnerável o suficiente para amar de verdade. Mas então ela apareceu e com seu jeito doce e olhar sincero, me mostrou que entregar o meu coração a alguém não me tornaria menos forte, mas sim, mais humana.

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