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Surya

Eu estava inclinada sobre a pequena mesa de madeira que ocupava o centro da minha tenda, servindo chá em duas xícaras de porcelana delicada.

O aroma suave das folhas de chá, colhidas dos jardins da Corte Crepuscular, enchia o ambiente com uma fragrância terrosa e reconfortante. Minha tenda era espaçosa, decorada com tapeçarias de tons dourados e violetas, refletindo o crepúsculo eterno que banhava nossa terra. Almofadas de seda estavam dispostas em torno do tapete central, enquanto um braseiro de cobre mantinha o espaço aquecido, com a luz das chamas lançando sombras dançantes nas paredes de tecido.

Anthon estava sentado em uma poltrona próxima, uma das poucas mobílias sólidas que eu havia trago da Corte Diurna. Ele comia com apetite as frutas e pães que eu tinha servido, o gesto familiar, mas havia algo de diferente nele agora. Quando me aproximei com a xícara de chá, meus olhos se fixaram nas mãos dele – mãos que antes eram ágeis e delicadas, agora estavam mais fortes, com os músculos mais pronunciados sob a pele. O cabelo escuro continuava rebelde como antes, caindo sobre seus olhos. Ele parecia mais velho, como se tivesse saltado de uma década para outra. Anthon não tinha mais do que trinta anos humanos:

— É bom ver um rosto amigo — murmurei, entregando-lhe a xícara.

Anthon levantou os olhos, e por um momento, o sorriso que me deu foi o mesmo de sempre, caloroso e acolhedor. Mas não pude deixar de notar como o tempo havia mudado ele. Para mim, os anos eram apenas sombras passageiras, mas para Anthon... Humanos mudam rápido, pensei, com uma pontada de melancolia. A diferença entre o jovem que conheci e o homem à minha frente era nítida. Era como se eu pudesse sentir o peso dos anos sobre ele, cada experiência, cada batalha refletida na força que ele agora exibia:

— Sinto falta da comida de Prythian — disse ele, com um suspiro nostálgico, quebrando o silêncio que se estendia entre nós.

Minhas orelhas pontudas mexeram-se involuntariamente:

— Eu imagino que sim — respondi, com um sorriso suave. — Não há nada como o gosto da comida preparada com a magia das Cortes.

Ele riu, um som que me fez sentir um calor familiar no peito. Mas ao mesmo tempo, fiquei pensativa. O tempo havia levado a leveza que ele tinha quando nos conhecemos, e por um momento, me perguntei quanto mais ele ainda mudaria, enquanto eu permanecia a mesma.

Eu observei Anthon enquanto ele terminava de comer, a luz bruxuleante do braseiro refletindo nos olhos dele:

— Como foi a missão? — perguntei, tentando quebrar o silêncio que havia caído entre nós.

Ele terminou de mastigar um pedaço de pão antes de me responder, inclinando-se um pouco para frente:

— Foi um sucesso. — Seus lábios se curvaram em um sorriso satisfeito. — Meu pai está se preparando para partir para a Corte Estival com a frota marítima.

Franzi as sobrancelhas ao ouvir isso:

— Para a Corte Estival? Por quê?

Anthon parou por um instante, e o sorriso que antes estava em seus lábios desapareceu. Ele me olhou nos olhos, como se estivesse avaliando o que dizer, mas, no final, não me deu uma resposta. Em vez disso, desviou o olhar e fez uma pergunta:

— E Lucien? Alguma notícia do seu irmão?

Senti uma leve pontada de preocupação ao ouvir o nome de Lucien. Fazia tempo que não recebia notícias dele:

— Não, nada de novo — respondi, tentando não deixar transparecer a preocupação na minha voz. — Ele desapareceu há alguns meses, e desde então, não tenho mais notícias.

Corte de Luz e Sombras - Livro 1 - Fanfic ACOTAROnde histórias criam vida. Descubra agora