CAPÍTULO QUATORZE

48 5 5
                                    

APOLO

Sinto a água gelada cair ininterruptamente sobre minha pele e isso é o suficiente para me fazer gemer em agradecimento por estar finalmente tomando banho.

O banheiro é chique, com as paredes escuras e luminosidade refreada. Nada aqui parece ser muito claro, pelo menos os cômodos que ele me apresentou.

Isso me faz lembrar de quando chegamos há quase uma hora, depois que o médico me liberou e viajamos em silêncio até aqui em cima daquele veículo infernal. Nunca na minha vida eu subiria em cima daquele troço outra vez, nem se fosse para receber o meu Nobel mais que merecido, porque a premiação ocorre na Europa e, bem, estamos na América e, ao contrário dos livros da Cassandra Clare, aqui não têm motos movidas com energia demoníaca capazes de voar — e convenhamos, o Príncipe não é Jace Herondale, embora ele seja tão sombrio quanto.

Fiquei em choque quando ele estacionou em frente a uma pequena mansão em um lugar que eu não faço ideia. Afinal, como é possível ter um imóvel desse calibre em Nova York?

A fachada em tons escuros me fez arrepiar enquanto descia daquela versão horripilante de um veículo de duas rodas.

Ele me guiou por um caminho de paralelepípedos cinzas que dividia o gramado em dois até que estivéssemos em frente a uma porta alta. Não deixei de perceber os homens que circulavam pela área delimitada por um muro alto. A porta se abriu depois que ele digitou alguma coisa em seu celular.

Entrei poucos segundos antes dele, as luzes se acendendo assim que pisei em um tapete preto. As paredes pretas que me cercavam me fazendo exalar devagar. Tudo era escuro demais.

O hall de entrada com o pé direito alto me fazia sentir menor ainda, essa sensação se ampliou quando chegamos a sala de estar — um cômodo de paredes pretas e móveis da mesma cor. Uma escada sem corrimão se erguia imponente em direção ao andar superior.

— Pode ficar a vontade — dissera ele. — Quer beber alguma coisa?

Sacudi a cabeça para os lados, negando.

— Preciso de um banho antes de qualquer coisa. — Meu olhar ainda passeava pelo cômodo, pousando em um quadro surrealista pouco acima de uma lareira elétrica.

— Então deixe-me acompanhá-lo até o quarto que mandei preparar pra você. — Me indicou a escada com a mão. — Suas malas já estão lá em cima.

Arqueei as sombrancelhas, completamente surpreso.

— Então seu homens conseguiram se salvar? — Algo em mim se acalmou após essa hipótese, porque eu não queria ser responsável pela morte de ninguém além da minha.

— Sim, eles estão acostumados a lidar com esse tipo de situação. Não foi à toa que escolhi os dois para essa missão.

Assenti, dando os primeiros passos, subindo os primeiros degraus com ele vindo logo atrás.

— Você ainda não explicou o motivo de me trazer pra cá.

Entramos em um longo e largo corredor, com vasos vazios sobre móveis de estética clássica e paredes repletas de obras de arte, entre elas a Noite Estrelada? Franzi o cenho, duvidando de que estava vendo aquela obra logo a minha frente. Ela não estava em um museu?

Deve ser uma réplica, disse a mim mesmo.

— Conversaremos sobre isso durante o jantar, pode ser?

— Claro, sem problemas.

Paramos em frente a uma porta, que logo foi aberta por ele. Não pude deixar de perceber seus músculos se contraindo no ato. Segurei um ofegar e entrei primeiro no cômodo espaçoso.

PRÍNCIPE DO INFERNO - [ SENHORES INFERNAIS - LIVRO 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora