Rayssa
Programei o despertador para às 6:00 da manhã, porém sequer dormi. Levantei uma hora antes e fui para a varanda pensar sobre o que estava a acontecer. No momento, só vinha a minha cabeça a olimpíadas e o voo que já já teria de pegar para Los Angeles, mas quando cheguei à varanda e a brisa gelada da manhã atingiu minhas bochechas, Anelise adentrou os meus pensamentos.
Lembro-me de ver-la jogando vôlei quando éramos amigas, ela jogava como líbero e, na minha visão, era uma ótima jogadora. Então sempre questionei porquê nunca a vi em competições importantes representando a seleção, por exemplo, a VNL. Foi no início das convocações para o time que reconheci o por quê. A Anelise era boa, mas não tão boa quanto a sua irmã, Rosamaria. Mesmo sem saber, Anelise seria a sombra de sua irmã para sempre.
Eu sei que ela é minha rival e eu devo odiar-la, mas sempre me pego olhando suas redes sociais, acompanhando todas as publicações. Em uma dessas, eu descobri que ela iria acompanhar sua irmã nas olimpíadas, ou seja, eu corria o risco de encontrar-la lá. Se nos encontrássemos, como eu teria de agir? Não poderia tratar-la como rival em rede mundial, o hate iria vir para cima das duas e mancharia ambas as imagens, mas se eu fizer minha parte, acho bom ela fazer a dela também. Até porque não me importo em ver-la sendo cancelada, pelo menos, eu acho.
Olho pelo bloqueio de tela do meu celular, já eram 6:30. Volto para o meu quarto, me arrumo e recolho tudo o que já havia deixado pronto noite passada. Saio de casa às 7:00, o meu voo seria 8:30, porém eu ainda tinha de despedir-me da minha família, fazer check-in e despachar as malas. Quando chego à área de embarque, sinto a sensação de missão cumprida. Estava indo para Los Angeles um dia antes, daria para assistir a abertura, conhecer o local onde a competição ocorreria, treinar e enfim competir.
Nunca consegui me sentir assim prestes a competir, mas eu sabia que estava pronta. Preparei-me por quatro anos, esforcei-me porque quero poder entregar a tão sonhada medalha de ouro para a fadinha que ainda está aqui, sei que está. Também quero proporcionar orgulho para minha família e toda a nação. Quero sentir-me realizada e ter certeza de que os treze anos dedicados ao esporte que eu tanto amo serão valorizados.
O anúncio de que o portão de embarque havia aberto ecoou pelos meus ouvidos. Chequei o Instagram de Anelise pela última vez, queria certificar algo, só não sabia exatamente o que. Aguardei pacientemente a fila até o avião, sentei-me e respirei fundo, seriam doze horas e meia de voo, precisaria de forças para este momento.
Com o fuso horário, chego em Los Angeles às 16:00, retiro as minhas malas, pego um táxi para a vila olímpica e logo me instalo, a procura de descanso. Fiquei um bom tempo deitada na cama do hotel, quando vejo que já eram quase 22:00 e decido ir jantar. Odeio viajar sozinha porque sou uma pessoa sem noção do tempo, se os alarmes não existissem eu esqueceria-me de levantar todo dia.
Ao chegar no restaurante, meu olhar encontra-se justo com o olhar dela, Anelise Montibeller, sentada ao lado de sua irmã. Ambas atraem atenção pela beleza que possuem, mas eu não conseguia desviar o olhar de Anelise, ao menos reparei em Rosamaria. Ela vestia uma típica roupa de aeroporto, conjunto moletom e tênis, com as suas mechas loiras que sempre aparentavam estar oleosas e seus brilhantes olhos. Devido ao transe, meu corpo assumiu o piloto automático e logo quando ela se levantou-se, direcionando-se ao banheiro, eu fui junto e só consegui parar quando nós duas estávamos no banheiro sozinhas.
"Perdeu alguma coisa?"
— Oi para você também. Pensei que não-competidores não teriam acesso livre à vila.
"Não vou ficar no seu caminho para manchar sua imagem Rayssa, relaxa. Estou hospedada em um hotel considerável longe, quando estiver aqui vou ficar grudada com minha irmã e pretendo ficar longe de você. Pensei sobre e quero ignorar os problemas que existem entre nós enquanto estivermos aqui. Não queremos chamar mais atenção para a nossa estranha relação, certo?"
Não, não estava certo. Sendo honesta, nunca consegui esclarecer o porquê tanto ódio. Sendo honesta, também não sei por que estava insistindo nisso justo agora, porém, era um sentimento incontrolável.
— Há tanto ódio entre nós, principalmente vindo de sua parte, por quê?
Ela hesitou.
"Muita coisa, não sei se é possível trazer tudo a tona para esclarecer um único sentimento agora."— Foi o fato de eu, sem querer, ter beijado o seu ex-namorado?
"Sim e não. Qual é, você sabe que há muita coisa por trás, aliás, por que falar disso agora?"
— Já temos vinte anos, estou cansada dessa rivalidade. Posso fazer você esquecer tudo o que houve?
"Eu te entendo, chatrouxa, mas como pretende apagar 3 anos de história?"
Ao final da fala, ela virou-se para mim. Eu vi o seu rosto sarcástico, ela já estava a se dar por vencida. Chatrouxa... Mal ela sabia que desde sempre amei todos os apelidos com intenção de ofender-me dados por ela.
Aproximei-me. A cada segundo eu eliminava parte da distância entre nós duas. Quando senti que estávamos perto o bastante e que ela não estava recuando, colei os nossos lábios, envolvi meus braços por volta de seu corpo e vi o mesmo, que estava rígido, desmanchar. O beijo foi retribuído por longos minutos, até Anelise nos separar e imediatamente retirar-se do banheiro, com a cabeça baixa.
Deixei-a ir, nem eu estava sã o bastante para digerir o que acabara de acontecer. Eu sabia que em algum momento teria de ir atrás dela para conversarmos, mas agora não. Precisávamos pensar.
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Primeiro capítulo com POV da Ray, o que acharam? Não esqueçam de contribuir votando e comentando se estiverem gostando. 🫶🏻
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𝐀mor entrelinhas - 𝗥𝗮𝘆𝘀𝘀𝗮 𝗟𝗲𝗮𝗹
RomanceAnelise desde muito nova foi impulsionada a acompanhar o mundo esportivo pela família, neste ano, em específico, a olimpíadas de Los Angeles 2028 irá ocorrer. Como Anelise não foi convocada para os jogos de vôlei, ela decidiu acompanhar a irmã para...