II CAPÍTULO

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Le Destin

A sala foi enchendo e mais rostos desconhecidos, muita gente aparentava ter mais de vinte anos e eu até que comecei a gostar da ideia de ser a mais nova da classe. Infelizmente a ideia foi cortada quando rostos novinhos apareceram.
- Boa noite Classe! - disse o homem negro meio calvo usando um jaleco - Meu nome é Jean, sou professor de didática. Nosso primeiro contato vai ser apenas para
dar boas vindas a vocês - "Ótimo" pensei, uma aula inteira de blá, blá, blá. Eu odiava primeiros dias de aula por isso, não acontecia nada de produtivo.
Foram uma hora e meia de nada e enfim o intervalo, desci as escadas e fui ao refeitório e nossa, quanta gente naquele lugar. Observei o lugar me perguntando onde ficava a lanchonete, olhei para todos os lados e então avistei uma garota que me tinha o rosto familiar. Encarei a garota como um cachorro faminto encara um frango assado rodando no telão. Ela era um pouco mais alta que eu, branca, cabelos longos e loiros e tinha um sorriso lindo. Mas ainda sim, eu achava que a conhecia de algum lugar, da internet talvez. Tive que encerrar minhas olhadas descaradas para a garota que, certamente havia notado.
Olhei para o relógio de pássaros no fim do salão e já faltavam dez minutos para o termino do intervalo, comprei um iogurte na lanchonete e fui tomando no caminho para a sala. Foram mais uma hora e meia de "Boas Vindas" sem fim.
Ao terminar a aula, corri para fora daquele lugar.
- Que dia! - pensei. Meu maior desejo era chegar em casa, tomar um belo banho e dormir, ou melhor, tentar. Fiquei na frente da instituição esperando meu padrasto esquecido lembrar-se de ir me pegar, quando sinto uma mão pegar levemente no meu ombro.
- Sophia, né? - disse a mulher de cabelos ondulados e um sorriso envergonhado.
- Sim. - respondi educadamente.
- Que nome lindo, meu celular descarregou, pode me dizer que horas são?
- Ah! Claro. - respondi pegando meu celular. - São 22h44.
- Oh, obrigada, meu anjo. - ela respondeu gentilmente e foi andando.
Minutos depois meu padrasto esquecido porem lembrado apareceu. - Como foi o primeiro dia? - ele perguntou olhando fixamente para a rua enquanto dirigia. - Nada demais, só "Boas Vindas" sabe? - respondi enquanto mexia no celular. Eu não era de conversar com meu padrasto, ele era um cara legal, mas não era muito de conversar.
Ao chegar em casa, minha mãe fez a mesma pergunta e eu dei a mesma resposta, não tinha muito o que falar, fui direto pra meu quarto e tomei banho, pus meu pijama e deitei-me na cama com o notebook em cima da minha barriga quando meu celular vibrou próximo a minha costela esquerda, era mensagem de Veronica.
"- Hey Soph, vinho amanhã na praça depois da sua aula?"
"- 22h30 estarei lá!" respondi.
Se havia uma coisa que eu amava, essa coisa era vinho, e nossa, adorava quando meus amigos e eu reuníamos na praça pra fumar uns cigarros, beber vinho e ouvir musica, sem contar nas conversas fora, afinal, não tinha muita coisa para fazer nessa cidade a não ser sair de carro com a galera e beber por aí.
Eu tinha uma relação de amor e ódio com a minha cidade, era a típica cidade pequena em que todos se amavam e todos se odiavam, todos se conheciam e bem, quase não havia gente que não tinha beijado as mesmas bocas ali e isso me enojava um pouco. Era difícil você querer "escapar" daquele lugar, nunca tinha pra onde correr, lugares novos pra explorar, sempre as mesmas pessoas, os mesmos rostos e isso me entediava, aquele ar de mesmice que a cidade carregava me dava náuseas.
E as pessoas... ah! Poucas se salvam, as pessoas eram divididas em distritos, ou melhor, "Clãs" e a cada dia mais um "clã" para uma cidade tão pequena. E em qual deles eu estava? Bem, havia o clã das famosinhas, as drogadinhas, as que não ligavam para absolutamente nada, as que reinavam por um status, as que amavam ter alguma fama seja ela boa ou má, as do contra, as que queriam crescer e tentar de qualquer forma algum reconhecimento nessa caixa de fósforos e simplesmente as que só queriam "respirar", posso dizer que me encaixo nesse, as que queriam "respirar", apesar de conhecer e me dar bem com a maioria de cada "clã", continuava a ser mesmice.
Mas, o meio de pessoas em que eu estava acostumada não era tão "normal" assim, com normal quero dizer, o que as pessoas estão acostumadas a viver. A maioria dos meus amigos eram gays e se eu era também? Gosto de dizer que sou livre para ser o que eu bem entendo, afinal, ninguém tinha nada a ver com a minha vida, apesar de morar num lugar em que, qualquer passo que você da vira noticia, eu nunca gostei de essa liberdade para falarem de mim. As pessoas têm manias com rótulos e eu particularmente sempre odiei rótulos, porque simplesmente não me deixa ser o que eu sou e pronto, e o que eu sou desrespeita a mim e a mais ninguém.
Apesar de tudo, o que sempre me mantinha nessa redoma de vidro eram meus amigos, com toda a mesmice, nunca era a mesma coisa quando estávamos todos juntos.

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