Charlotte tinha 4 anos quando o apocalipse começou, não que as coisas estivessem muito melhor antes, mas é o que ela sempre diz "não diga que não tem como piorar porquê sempre tem" ..⋰˚☆
Era uma manhã diferente, para todos do acampamento, não estava ensolarado, nem tinha qualquer som habitual de conversa e risadas as quais Charlotte estava acostumada a escutar ao acordar, o único som que a garotinha assim como os demais escutava era o som de passos na terra úmida, causa da chuva que caiu um pouco após todo o acontecimento da noite passada, e o som de covas sendo abertas. Se perguntassem para Charlotte sobre essa noite ela não saberia falar muito sobre como exatamente tudo aconteceu, ela só saberia dizer do grito da irmã mais nova de Andrea, dos diversos caminhantes vindo por todo lado do acampamento, de estar sozinha, do momento que Glenn a puxou para si com um braço enquanto mantinha os mortos-vivos longe, e do grito do seu pai a procurando quando após chegar no meio do caos viu sua esposa e seu filho mas não encontrava a menina. Agora ela se encontrava sentada no chão, com pijama e cabelos ainda úmidos olhando para um ponto fixo reproduzindo os eventos da noite passada repetidamente em sua mente. Rick se aproximou da garotinha, ele não estava muito diferente dela e de todos, o olhar cansado denunciava a noite conturbada, além das roupas úmidas, agora com terra após a abertura das covas, ele abaixou em direção a filha com um pijama na mão e um olhar preocupado.
"Lottie? Está muito frio aqui fora, o que acha de trocarmos essa roupa, acho que você precisa descansar um pouquinho"- disse passando as mãos em um gesto de afeto nas costas da menina que de forma estranha nem tentou contradizer esticando os braços em direção ao pai em busca de um colo que de alguma forma fosse a resposta do porque tudo aquilo estava acontecendo. Os dois foram juntos em direção a barraca, e lá dentro após Charlotte colocar um pijama mais quente, Rick a enrolou no cobertor e ficou sentado esperando a garotinha cair no sono, mas logo escutou uma pergunta vindo da filha. "Por que a Amy tinha que morrer?"
"Eu não sei..."
"A irmã dela vai ficar sozinha agora, e se outras pessoas morrerem?"
"Temos uns aos outros, não vamos deixar ninguém só, vamos ficar bem Lottie, vamos nos esforçar o máximo pra isso!"
"Você me deixou sozinha, eu fiquei com medo"
"Eu sinto muito, eu imagino o quão assustador tenha sido, mas me escuta meu amor, sempre, você sempre vai ter alguém, assim como o tio Glenn estava lá, sempre que eu não estiver, alguém que também te ama muito vai cuidar de você!!"
"A Amy era muito legal, eu vou sentir falta dela, ela fazia tranças no meu cabelo e contava muitas histórias legais"
"Eu sei que vai, mas ela está aqui dentro"-disse apontando para o coração da menina- "e vai te proteger também de onde ela estiver, eu tenho certeza".
"Eu te amo papai"- disse com os olhos já fechando deixando o cansaço finalmente tomar conta.
"Eu te amo muito mais!" - disse enquanto passava os dedos no cabelo da garotinha.
Do lado de fora da barraca depois de passar mais alguns minutos observando a garotinha e pensando na conversa que tiveram, Rick novamente encarou o cenário a sua frente, Andrea ainda se encontrava no chão olhando para o corpo da irmã, corpos já estavam nas covas antes vazias, ele se aproximou de Glenn.
"Obrigada por cuidar dela..."
"Não precisa agradecer, eu sempre vou, eu já amo ela e nem faz muito tempo que eu conheço vocês!" - disse com um sorriso de canto.
"Mesmo assim, me alivia saber que ela vai estar protegida e cuidada mesmo quando eu não estiver por perto!"
"Eu já amo essa garotinha, de verdade..."
E assim os dois ficaram em silêncio, de alguma forma todos teriam que achar uma forma de se reerguer, na esperança que não perdessem mais ninguém e se mantivessem seguros, Rick conseguia perceber a mudança já notável na personalidade dos seus dois filhos, ele não sabia como manter as crianças o menos prejudicadas possível, não sabia como os manteria seguros, pensava na pergunta de Charlotte, ele precisava se manter vivo, precisava sobreviver para que sua família sobrevivesse, já sentia o desespero bater quando pensava no quanto falhou com Diana não poderia pensar na possibilidade de falhar com seus filhos, era esse o combustível que ele usava para o manter vivo.
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