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A incerteza da vida, que corrói todos nós, nunca largará da perseguição que somos fadados a viver. A vida que sempre imaginamos quando crescemos e quando ainda temos a mentalidade de um ser que não possui noção alguma sobre o que se passa no mundo, somente alguns alcançam e conquistam. A incerteza sobre o presente e sobre o futuro maltrata a mente de mundos que não escolheram ao mesmo nascer. O passado que nunca irá retornar jamais em alguma hipótese.

Quando vejo minha mãe, que tanto batalhou na vida para me dar o que comer e teve que suportar uma mulher, infeliz consigo própria, comandar toda sua vida, deitada sem forças na cama, em que dormíamos juntas enquanto crescia, partiu a sanidade que minha mente já não possuía. Os sonhos que não conseguiu realizar, os lugares que um dia planejava viajar, a força que sempre teve e ainda tem em suas veias, desde o momento em que decidiu não viver descontente ao lado de quem não a florescia. A força que me deu a vida e me ensinou a caminhar e a então florescer. Sacrificaria minha vida aqui e agora se isso significasse que sua juventude não acabaria daquela forma, a juventude que não viveu por escolha de outros que a condenaram.

Quando me mudei desse lugar, para nosso lar, seu quarto estava preparado ao lado do meu, mas de um momento para outro, não quisera vir comigo, para continuar servindo a classe que não move vírgulas se não for referente a eles próprios. Nunca entendi essa sua decisão e não concordava nem um pouco, mas dona Rosa tinha a caneta de sua vida em mãos e nada a faria mudar o que já tinha escrito, nem que implorasse a ela, foi o que foi dito em suas palavras firmes e sem discussão. Dava minha vida para minha mãe tantas vezes precisas para ela poder continuar ao meu lado... sem precisar pensar mais de um segundo sobre a decisão...

Ajoelhei ao pé da cama enquanto ela apoiava a mão em meu ombro, orei pela vida. Orei. Orei até chegar aos prantos e chorei por ela ser essa mulher guerreira e ter suportado, ela merece mais do que pode alcançar na vida. Quando o dia acabou a levei para nossa casa, a acomodei em seu quarto, decorado por ela mesma, que eu não mexi em um átomo sequer a sua espera.

Quando a incerteza do futuro te aguarda, o que nos resta fazer é aproveitar cada minuto que acontece na vida que se segue. Todas as vezes em que acordo e olho para o espelho, me vejo olhando para os olhos de minha mãe, escuras pupilas amáveis, grande parte do que sei, foram ensinados a mim por aqueles olhos. Aliviar a dor de seu coração é o meu propósito como filha, acompanhar ela nessa etapa da vida é o mínimo que devo fazer, almejava poder tirar toda a tristeza de sua alma e transferi-la para a minha, para que assim descanse.

Em agosto 28, parti com minha mãe para a viagem que ela sempre sonhou em fazer, somente ela e eu pegando as estradas do Brasil em busca do deleite da vida. Tudo que batalhei e alcancei até aqui, foi em busca desse momento, do prazer de viver, da brisa confortável, das músicas nostálgicas, de estar ao lado de uma pessoa incrível que buscou a felicidade para nossas vidas.

Era minha hora de retribuir. 

 

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Paixão em vão e a buscaOnde histórias criam vida. Descubra agora