Ela terminou de gravar e começou a desmontar a câmera.
- Então... acabamos?
- Sim, sim. Obrigada, Bryan.
- Não há de quê, querida. Quer outro café?
- Não, não. Já está tarde, eu preciso ir embora. Amanhã eu tenho que encontrar o papai para gravar a versão dele.
Sorri, levantei da cadeira e a ajudei a guardar suas coisas. Fomos conversando até a porta no andar de baixo. Ela era simpática demais. É incrível ver o quanto eu envelheci; eu brincava de Barbie com ela.
Quando ela estava prestes a sair, parou, virou-se para mim e respirou fundo.
- O que foi?
- Posso perguntar uma coisa?
- Claro!
- Você sente falta do papai?
Quando ela perguntou aquilo, eu senti pureza no ar, uma tranquilidade, como se fosse uma chuva calma em meu rosto.
- Olha, Hanna, eu nunca parei de amar o seu pai. Eu realmente não entendi o porquê de ele ter terminado comigo naquele dia fatídico, mas eu acho que aquilo me fez crescer. Seu pai me fez entender que a vida não é apenas um final feliz. Mas a gente pode tentar, talvez até seja possível. Poxa, eu tenho um filho adotado de 8 anos que eu amo muito, sou escritor de mais de 23 best-sellers e sou muito feliz.
Ela me olhava impressionada e mordeu o canto do lábio inferior.
- Você já se apaixonou outras vezes?
Eu ri porque ela disse que seria apenas uma pergunta.
- Ah, já. Várias vezes. Várias e várias vezes. - Encostei na soleira da porta de madeira e cruzei os braços. - Hanna, o amor é variado. Ele agarra as pessoas e mexe com suas vidas de uma maneira inesquecível. O amor é frio, Hanna. Não apenas frio; ele é quente, ele é azul, ele é vermelho, ele é amarelo. Ele é o céu, ele é o mar, ele pode ser um carro, pode ser um sapo, pode ser até um livro. O amor te muda, pode te mudar tanto para melhor quanto para pior. Basta você escolher se vai deixar ele te torturar ou te relaxar. Seu pai me torturou, claro que me torturou, me torturou tanto que eu sonho com ele até hoje.
- E se você tivesse a oportunidade de voltar no tempo? Tipo, quando vocês se conheceram. Você voltaria?
- Não. - Respondi de imediato. - Por que?
Ela ergueu as sobrancelhas, sorriu e logo em seguida fechou os olhos e balançou a cabeça.
- Tchauzinho, Bryan.
- Até logo, querida.
Ela saiu e foi caminhando até seu carro na pequena garagem do meu jardim frontal. Fechei a porta, voltei para o local onde foi a entrevista e limpei a pequena bagunça.
Desci as escadas lentamente e fui até minha biblioteca. Sentei-me na cadeira da escrivaninha e abri meu fichário. Em meio a anotações, desenhos sem sentido e algumas lágrimas secas no papel, estava lá o papel que eu colei com cola bastão assim que comprei o fichário."Você é uma joia adorável, seu brilho reflete em mim, meu amor."
Gargalhei levemente e disse:
- Idiota...